Capítulo 1

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 7 de Maio de 2022

Nova Iorque


- Será que a Mila vai demorar a acordar? - Ouvi a voz de Normani.

Comecei a ouvir passos rápidos, mas sem sincronia nenhuma.

- Não sei, amor. Temos de esperar. - Era Dinah.

Sentia o meu corpo pesado, inclusive as minhas pálpebras. Tinha a garganta seca e sentia-me muito fraca. Engoli em seco. Fiz um esforço estratosférico para abrir os olhos. E aí vi Normani sentada, assim como Harry e Louis, eles pareciam estar a chorar. E Dinah caminhava de um lado para o outro. Até que os seus olhos pousaram nos meus.

- Mila! Graças a Deus! Como te sentes? - Perguntou enquanto se aproximava e se empoleirava na cama.

Devagar, olhei em volta e percebi que estava num quarto de hospital. Voltei a olhar para a minha amiga, ela tinha os olhos vermelhos de choro. Os outros três, já circundavam a minha cama. Pareciam aterrorizados, tristes e continuavam a chorar em silêncio. Estanquei. A minha última lembrança foi de estar no carro, com ela. Ver um camião a colidir contra nós. E muita luz, quase como um túnel que chamava por mim. Ela.

- Lauren? - Perguntei com muita dificuldade.

Dinah trincou a mandíbula e franziu os olhos. Vi as lágrimas a formarem-se, algumas chegaram a escorrer pela sua face. Ela tapou o rosto com as mãos. E deu uns passos para trás.

- Eu não consigo. - Retorquiu com a voz embargada pelo choro.

Normani, respirou fundo e aproximou-se de mim enquanto secava as lágrimas com as mãos.

- Mila, vocês tiveram um acidente de viação. E a Laur... ela... não resistiu.

A minha respiração começou a ficar mais rápida, arregalei os olhos. Não! Eu não podia acreditar. Só podia ser uma brincadeira de mau gosto. O frequencímetro começou a apitar insistentemente.

- Mila, tem calma, por favor. - Pediu Louis.

Olhei para o rapaz. Como eu poderia fazer isso? Ela tinha morrido. Não! Ela não me podia deixar. Isso não é viável. A porta do quarto abriu-se com rapidez. E entraram dois enfermeiros.

- 140 de ritmo cardíaco. - Indicou um.

- A injectar 30 miligramas de Diazepam. - Respondeu o outro enquanto mexia no acesso do meu catéter, para colocar a medicação.

- Não! Não! - Pedi.

Eles moviam-se com rapidez. Olhei para os meus quatro amigos, eles continuavam desesperados.

- Lauren, Lauren. Por favor, não! - Pedi com todas as forças que me restavam.

Não sei a quem. Talvez a Deus, ou a um anjo. Não, ela não podia estar morta. Senti os meus olhos a fecharem e eu, simplesmente, não tinha motivos para lutar. Deixei-me ir.




8 de Maio de 2022

Nova Iorque

Uma enfermeira veio acordar-me, eu estava apática. Na minha cabeça, apenas a frase de Normani estava num loop interminável.

- E a Laur... ela... não resistiu.

Senti um vazio dentro de mim. Uma raiva. Uma tristeza. Uma revolta imensa. Uma culpa imperdoável. Olhava para a janela, por onde o sol entrava. Eu estava sozinha. Sem o amor da minha vida. Sem qualquer orientação. E porque raios eu estava ali internada? Comecei a sentir os olhos húmidos e a garganta a fechar. Fechei os olhos enquanto chorava. E lembrei-me daquele par de esferas verdes. Do seu sorriso. Do seu cheiro. Do seu abraço. Da forma como ela mexia no cabelo. Ela sempre esteve lá quando eu precisava. Abri os olhos, eu chorava descontroladamente e olhei para a aliança do meu dedo anelar esquerdo.

Volta Para MimWhere stories live. Discover now