Capítulo 5

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 15 de Maio de 2023

Nova Iorque

- Camila, vamos voltar ao presente, ok? Respire devagar. - Escutei.

Comecei a sentir o meu corpo a voltar. A minha memória a ficar menos real. Respirei fundo e, muito devagar, abri os olhos. Sentia-me estranha, confusa e muito carente. Sentei-me e olhei para o Dr Higmore, ele tinha um pequeno sorriso no rosto.

- Como se sente, depois do que me contou?

Demorei alguns segundos a processar.

- São memórias ambíguas para mim. Sinto-me feliz e triste.

Ele assentiu.

- A hipnoterapia, pode ajudá-la, Camila. Basta acreditar.

Apenas balancei a cabeça em sinal de concordância.

- Até à próxima sessão. E tente distrair-se, ok?

- Certo, Dr. Até à próxima.

Saí da clínica e caminhei depressa até ao carro. Conduzia sem rumo pela cidade. Estava muito sol e não havia nuvens no céu. A minha cabeça estavam uma autêntica confusão. Depois de muito tempo a vaguear, estacionei o carro perto do restaurante italiano, onde estive nas minhas memórias. Entrei e pedi um ravioli. Para o meu espanto, continuava quase na mesma, mesmo após tantos anos. O prato veio rápido e fiquei ali a comer enquanto sentia um vazio a crescer dentro de mim.

Cheguei a casa e percebi que precisava de ir para um local específico da casa. Subi as escadas, caminhei pelo corredor e parei, focando a porta. Trinquei o maxilar e engoli em seco. Eu já não colocava os meus pés ali há tanto tempo. Coloquei a mão na maçaneta da porta e muito devagar abri a mesma. Nem mesmo a Christine tem permissão para ir lá. Respirei fundo e entrei. Estava tudo do jeito que Lauren deixara. O sol entrava pela janela e aí os meus olhos foram observando as telas. Maioritariamente, Lauren tinha uma paixão inquestionável em me colocar nelas. Outras, tinham paisagens de locais que visitámos. Até que me foquei numa tela de Normani, a única que não tinha sido produzida pela minha mulher. Aproximei-me e os meus olhos ficaram, imediatamente, húmidos. Normani tinha tirado uma fotografia nossa e fez um retrato muito realista. Lauren estava abraçada a mim, os seus lábios estavam pousados na minha cabeça e os seus olhos estavam fechados. Eu sorria, um sorriso muito feliz. A minha respiração estava por um fio.

- Se ouvires o bater do meu coração, espero que saibas que é por ti. E se algum dia ele parar de bater, lembra-te que ele bateu sempre e apenas por ti. - Sussurrei.

Olhei em volta e percebi que aquele atelier precisava de uma limpeza, com muita urgência. Enchi os pulmões com oxigénio.

- Ok, vamos a isto. - Disse com determinação.

Passei a tarde a limpar e a tirar o pó do atelier de Lauren. Não arrumei nada, deixei tudo do mesmo jeito. Sentia-me um pouco mais calma, no meio de tanta turbulência. Aqueci o jantar no micro-ondas e fui para a sala. Enchi um copo com a primeira garrafa que vi. Comecei a beber com mais regularidade, após ela ter desaparecido. Cada indivíduo, arranja um vício para se apaziguar. Sentei-me no sofá e voltei a recordar-me daquele fim-de-semana. A tristeza que eu carregava era tanta que parecia impossível haver forma de não a sentir.





20 de Maio de 2023

Nova Iorque

Assim que saí de casa, o calor aqueceu o meu corpo. Ainda era cedo, mas já dava para perceber que o dia seria quente. Entrei no carro e conduzi pela cidade com somente um único objectivo. Poder estar com ela.

Volta Para MimDove le storie prendono vita. Scoprilo ora