Capítulo seis

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Justin

       Vi quando ela chegou.
       Quando iluminou o restaurante inteiro com a sua beleza. O vestido preto justo, acima do joelho, de mangas compridas e brilhante é capaz de ser o meu favorito de agora em diante, realça suas pernas compridas muito bem. Ela prendeu os cabelos loiros num coque e marcou seus lábios com batom vermelho.
      Não consigo parar de olhar para ela, mesmo que esteja em uma mesa longe de mim. Não consigo parar de pensar em como beijaria a sua boca, ou de como tocaria o seu corpo. É foda que durante esses anos não consegui tirar ela do meu coração, quando pensei que tive êxito, aí ela aparece novamente para baralhar tudo.
       Eu bem que tentei com outras mulheres, mas o que ela fez comigo, não dá para explicar. Não é normal que eu sinta essas coisas depois de cinco anos sem estar com ela, vê-la ou tocá-la. Não pode ser.
      — Podia ao menos tentar disfarçar. — Jensen diz. Meu irmão também olha na direção da Alaia.
      — Sobre?
      — Sabe muito bem. — Josephine nem precisa olhar para lá.
      Minha irmã vai estreiar no mundo da música em breve, do jeito que a sua voz é maravilhosa, sei que será um sucesso, sua carreira vai levá-la a outro patamar.
      Sou o único da família que não brilha nas câmeras. Meu irmão é uma estrela do NBA, meu pai é uma lenda do basquetebol também, minha mãe era atriz, agora minha irmã vai cantar. Eu posso até ter alguns talentos escondidos, mas não penso em ser famoso ou assim, já basta a família toda, já basta estar nos tablóides por ser filho de Lamar Wallace.
       — Vocês são amigos agora? — meu pai pergunta.
       — Quase isso. Temos amigos em comum. — respondo.
       — Mas isso não importa agora. — Minha mãe levanta a taça de vinho. — Temos que brindar por sua conquista. Estou muito orgulhosa de você. — sorri.
       — Estamos todos. — Meu pai imita os seus movimentos.
       Levanto o meu copo com água tônica e brindo com eles. Meus olhos voltam para a mulher na outra mesa, que ri com os amigos. O sorriso no rosto me faz lembrar dos velhos tempos, quando ela o fazia para mim o tempo todo.
       — Qual é o nome do álbum, Josephine? — meu irmão pergunta, trazendo a minha atenção de volta à mesa.
       — Será Josephine, um álbum com treze faixas. Espero conseguir vender bastante e chegar em todas as rádios. — Ela limpa a boca com o guardanapo.
       Minha irmã tem vinte anos, ainda tem muito para descobrir, e sei que o mundo da fama não é fácil, principalmente para mulheres. No entanto, tudo o que posso fazer é apoiar o seu trabalho e protegê-la com o que estiver ao meu alcance.
       — E vai continuar com as aulas de teatro? — meu pai olha para ela.
       — Sim. Ainda pretendo continuar. — Ela sorri.
       A conversa está muito boa, mas eu não consigo ignorar Alaia a noite toda. Tenho uma ligeira desconfiança que ela está vestida desse jeito para chamar a minha atenção. Ela quis que eu olhasse para ela a noite toda.
       Aos poucos, as pessoas vão deixando o restaurante. Meus pais dão uma despedida rápida e vão embora com os meus irmãos. Eles andam sempre com guarda-costas, eu também, mas a situação deles é diferente da minha. Não sou Lamar Wallace a estrela, nem Jensen Wallace, sou parente deles.
       Caminho até a mesa mais animada do restaurante, mas Zalia, uma conhecida vem na minha frente. Ela tem tentado chamar a minha atenção desde que cheguei. Com certeza que chama a atenção de muitos homens, mas não a minha. Eu não gosto das malvadonas, das perigosas, gosto das certinhas mesmo.
       Zalia tem olhos verdes, cabelos pretos, ela usa uma mini saia preta e um cropped da mesma cor com saltos altos de quinze centímetros de bico fino. Ela é muito bonita, mas não estou interessado.
        — Justin, o restaurante está incrível. A comida é muito deliciosa, contratou bons chefes. — Sorri.
        — Obrigado. — Vejo Alaia levantar junto com todos os outros.
        — Então, espero que possamos nos ver um dia desses para tomar café ou algo assim. O que acha?
        — Minha agenda anda muito preenchida, tenho que verificar quando terei tempo.
        Ele parece ofendida. — Tudo bem. — Passa por mim, batendo nos meus braços, já que sua altura não permite que alcance os meus ombros.
        Vou atrás dos meus amigos, que já estão a caminho da saída. Alaia vira para mim e parece procurar alguém, deve ter visto a cena com Zalia.
        — Eu espero que tenham gostado. — Digo, ficando ao lado dela com as minhas mãos nos bolsos. — Adoraria ter vocês sempre por aqui.
       — Com certeza. — Mark responde.
      — A comida estava muito gostosa mesmo. — Veronica diz.
      — Parabéns. — Dorian sorri. — Vou aparecer por aqui constantemente.
      — Agradeço, Dorian.
      — Parece que já vamos. — Mark diz. — Estou exausto.
       — Precisa de uma massagem. — Lindsay toca o ombro dele.
      — Então, soube que veio de carona, Alaia. — Viro para ela imediatamente. — Posso levá-la para casa se quiser.
      Mark sempre me deixa bem informado, eu planejava a noite toda fazer esse convite. Ela não vai querer que todos achem que ainda temos assuntos mal resolvidos, mesmo que seja verdade.
     Alaia olha para mim por um tempo demasiado longo. — Tem a certeza?
      — Tenho a certeza.
      — Está bem. — Dá de ombros.
      — Então, nos vemos por aí. — Dorian leva Veronica e Lindsay e dá um sinal para mim, sorrindo. Mark vai atrás deles, bocejando.
      Levo Alaia até o meu carro, verificando se ninguém está nos vigiando, mas parece que o caminho está livre. Meu guarda-costas, Simon, vem atrás de nós e entramos no carro. Parece que o meu plano deu certo.
       — Achei que faria um escândalo na frente de todos quando ofereci carona. — Digo.
       — Você não me conhece. Eu aceitei porque não há motivos para sermos rivais, principalmente quando temos amigos em comum. — Endireita o vestido, puxando para não ficar muito curto.
       — Certo.
       — E a sua amiga? Achei que iria com ela. — Alaia vira para mim.
       — Que amiga?
       — Aquela da saia curta. — Cruza os braços e olha pelos vidros do carro.
       — Ah, por que eu iria com ela? — pergunto, nem dá para esconder o meu sorriso.
       — Diga você.
       Ela está com ciúmes?
       — Não estou interessado.
       — Ela parece interessada.
       — Ela não faz o meu tipo. — Fico mais perto, sentindo o cheiro do seu perfume.
       — Devia fazer, está difícil encontrar mulheres hoje em dia.
       — Eu tenho um metro e noventa, sou rico, bonito e cheiroso, tenho parentes famosos e amigos com bastante influência, sem contar que sou bom de cama, acha mesmo que é difícil para mim? — provoco.
       Ela vira para mim, chocada. — Também tem um ego e tanto!
       — Eu disse alguma mentira? Se acha que menti, pode dizer.
       Suspira. — Não é uma pessoa humilde.
       Rio. — Às vezes sou.
       — Eu não devia ter vindo. — Volta a atenção na paisagem lá fora.
       — Mas já está aqui. Então, como correu com o seu amigo loiro?
       — O quê? — Olha para mim mais uma vez.
       — Aquele que te deixou aborrecida no restaurante.
       — Você me seguiu? — aponta para mim.
       Claro que segui. Ela saiu com outro homem, não podia ficar de braços cruzados. E foi bastante satisfatório saber que ela não gostou daquele jantar, ele parecia chato mesmo.
       — Seguir é uma palavra muito forte. — Coloco a mão no peito.
       — Para a sua informação, meu encontro correu muito bem.
       — Sério? A sua cara de tédio mostrava outra coisa. Diferente de quando saía comigo e sorria o tempo todo. — Digo, lembrando dos bons momentos.
       — Aquilo foi passado. Eu tinha dezenove, mudei bastante. E suas atitudes vão me obrigar a pedir uma ordem de restrição.
       — Estou à espera.
       Ela suspira e passa a mão no rosto. — Eu devia ter ido com os meus amigos.
       — Eu não entendo porquê tenta fugir de mim, ambos sabemos como isso vai acabar.
       — Como pode saber isso, se é ruim olhar para você? — pergunta.
       — Há alguns minutos não parava de olhar. — Provoco novamente.
       — Você pode parar de falar?
       — Claro que não. Ainda não disse que você está linda essa noite. — Apoio o rosto no vidro e olho para ela. — Esse vestido é incrível, fica muito bem em você. Também amei a maquiagem, parece que queria a minha atenção.
       Ela passa a mão no cabelo. — Não exagera. Eu sempre estou bonita para mim, não para outras pessoas.
       — Eu não consegui parar de olhar.
       Alaia respira fundo e cruza os braços novamente, como se estivesse com frio. — Eu realmente quero que pare de falar.
       — Por quê? Você sempre gostou da minha voz.
       — Isso está no passado.
       — Está bem. Eu paro.
       Ela não diz mais nada e também espero no silêncio, sem desviar o olhar dela. Alaia fica distraída no telefone até chegarmos no seu prédio. Simon desce para abrir a porta para nós, enquanto Angus permanece no volante, pronto para partir a qualquer momento.
      Desço e ajudo Alaia que usa saltos altos da Yves Saint Laurent, daqueles que as letras YSL formam o salto, lindos demais e nem com eles e seus um metro e setenta ela chega na minha altura.
      Seguro a sua mão e vamos para dentro, caminhando até o elevador. Alaia não se afasta, deve ter esquecido que não estamos juntos, seu corpo quer o meu toque.
       Comemoro até entrarmos no elevador e ela soltar a sua mão. — Você não precisava vir.
       — Preciso ter a certeza que está segura.
       — Diz o homem que invadiu o meu apartamento há uma semana.
       Sorrio e coloco as mãos nos bolsos. — Qual seria a minha pena por isso?
       — Isso é muito sério. Meus irmãos e meus pais podem acabar com você.
       — A Adkins & Cox não é a melhor da cidade sabia? — olho para ela.
       — Na verdade, é sim. É a melhor de São Francisco. Você não entende dessas coisas. — Olha para os botões do elevador. — E para o seu bem, finja que eu não existo.
       — Isso é pedir demais, Alaia. Só me afasto com uma ordem de restrição.
       — Você não vai querer um escândalo na sua família.
       — Estou me fodendo para isso. — Fico mais perto dela. — Não me importo com o que as pessoas dizem.
       Ela fecha os olhos. — Justin...
       As portas do elevador se abrem e levo Alaia até a porta do seu apartamento. Eu gostaria de fazer muitas coisas com ela nesse momento, mas parece que ainda não é a hora certa.
      — Você pode ir.
      — Vou esperar você entrar.
      Alaia insere as chaves e olha para mim. — Vai, Justin.
      Beijo a sua testa. — Está bem. Mas vamos nos ver mais cedo do que você pensa.
      Ela entra e fecha a porta. Apoio a minha testa nela, querendo que Alaia abra e me peça para entrar, para passar a noite com ela e depois me beijar, como fazia antes. Eu quero que volte para mim, sei que sou responsável pela morte do nosso filho e estou muito arrependido e triste com isso, mas ainda acredito que podemos ultrapassar isso. Eu acredito que podemos ficar juntos.
       — Boa noite, meu amor. — Digo e volto para o elevador.

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