Capítulo vinte e sete

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Alaia

       Vou ao banheiro novamente, irritada com a minha bexiga nesses dias. Uso o banheiro do Justin, endireito o vestido e aproveito retocar a maquiagem também porque Justin não para de me beijar. Saio do banheiro e vejo Doyle trancando a porta do quarto e ficando encostado nela com os braços cruzados.
       Ele não parou de olhar para mim e agora está aqui, o que ele quer? Dou um passo para trás e procuro alguma coisa para bater nele caso tente alguma coisa contra mim de novo. Ele não deve ser idiota de fazer uma coisa dessas na casa dos seus tios.
        — Você está linda, sabia?
        — Você é doente, sabia? — cruzo os braços também. — Melhor você me deixar sair.
        — Por quê? A festa está tão aborrecida. Meus tios sempre fazem as festas mais chatas. Podemos ficar aqui e conversar.
        — Você sabe que vai perder tudo agindo assim, não é? Nunca terá a mim e ainda vai ficar sem o Justin. — Sento na cama. — Ele nunca te abandonou, mesmo com todas as merdas que você fazia. Você não merece ele.
        — E ele não te merece.
        — E você merece? Doyle, você não é nem metade daquilo que Justin é. Eu estou loucamente apaixonada por ele e mesmo que não estivesse, jamais olharia para você.
        — Tenho a certeza que em algum momento olharia sim. Se nós tivéssemos nos conhecido primeiro, seria diferente.
        — Mesmo assim, eu não ficaria com você.
        — O que você vê nele? — dá um passo para frente e aponta para porta. — Ele era um drogado, quase tirou a sua vida e você ainda quer ficar com ele?
        — Ele mudou e está limpo agora. Sei que não faria nada para me machucar de propósito. Além disso, ele também não faria nada para machucar você, mesmo com essas suas atitudes idiotas. — Fico em pé. — Ele está triste por causa de você porque te ama como um irmão. É isso que eu vejo nele. É por isso que o amo tanto e você não vai conseguir fazer nada para mudar isso.
         Doyle fica em silêncio e parece pensar nas palavras que acabei de dizer. Espero que pense nas suas atitudes e em tudo o que Justin fez por ele, todas as vezes que fez algo ruim e seu primo perdoou.
        Alguém bate na porta. — Alaia, está aí?
        É o Justin.
        Doyle fica na porta. — Não se preocupe, ela está bem. Não pode vigiar ela a cada minuto como se eu fosse fazer algo ruim.
         — DOYLE, ABRE A PORTA!
         — Doyle, não faça um escândalo na festa dos seus tios e abra a maldita porta. — Peço.
         — Eu abro se você me der um beijo. Um beijo apaixonado e bem gostoso. — Doyle olha para mim, sorrindo.
         — NÃO SE ATREVA, DOYLE. EU VOU ACABAR COM VOCÊ, OUVIU? — Justin tenta arrombar a porta.
         — Doyle...
         — Que atitude exagerada. — Doyle afasta-se da porta. — Eu só pedi um beijo.
         — Não vou beijar a sua boca nojenta, prefiro me jogar da varanda.
         — ABRA A PORRA DA PORTA! — Justin continua tentando arrombar.
        Doyle caminha até mim. — Não se preocupe, eu mesmo posso fazer isso. Se não quer me beijar, eu beijo você.
        Fujo dele, mas ele insiste em vir atrás de mim. Ouço vozes atrás da porta além do Justin e finalmente ele consegue arrombar a porta, quando Doyle segura o meu braço.
       Justin vem furioso para cima do primo e dá um soco no seu rosto. Vejo Josephine e Sonia gritarem para Justin parar, e Jensen vem segurar o irmão para impedir que machuque o idiota do Doyle. Eu não sei o que fazer, apenas observo tudo chocada.
        — O que se passa aqui? — Sonia entra no quarto. — O que você fazia no quarto com o Doyle, Alaia?
        — A culpa não é dela, e sim desse imbecil. — Justin fica mais calmo.
       — Nós nos amamos. — Doyle toca o lábio cortado.
       — Não é verdade. — Respondo imediatamente. — Eu vim ao banheiro e ele me seguiu.
       — Ela quis falar comigo. — Doyle diz mais uma vez.
       — Para de mentir! — agora eu estou furiosa.
       — Jensen e Josephine voltem para a festa. Josie, você vai cantar daqui a pouco. — Sonia não tira os olhos de mim. Seus filhos saem, depois ela fecha a porta. — Ninguém vai bater em ninguém e só vai abrir a boca quem eu ordenar para falar. Entendido?
       Todos concordamos. Doyle levanta do chão e Justin continua contra parede se segurando para não fazer uma loucura. Tenho a impressão que as coisas não vão acabar bem para mim.
        — Comece você, Doyle!
        Doyle olha para mim. — Eu já disse o que aconteceu.
        — A namorada do seu primo?
        — Eu não fiz de propósito, tia. Eu estou apaixonado.
        Ela olha para mim. — O primo do seu namorado?
        — Eu nunca tive nada com o Doyle. Sei que a senhora pode não acreditar, mas ele tem me assediado. Há um mês que ele não me deixa em paz e ainda me beijou à força no meu local de trabalho. — Tento me defender. — Meu irmão o impediu naquele dia.
         — Mentira! — Doyle ousa em dizer.
         — Cala a boca, Doyle! — Sonia diz.
         — Eu tenho testemunhas e provas. Os estacionamentos têm câmera de vigilância. Se a senhora quiser, eu trago as provas. — Digo.
         Sonia vira para Doyle. — Doyle, por que fez algo assim?
         — Tia...
         — E há alguns minutos ouvi ele dizer para a minha namorada que só abriria a porta se ela o beijasse. Ele admitiu na minha cara várias vezes que está apaixonado pela Alaia. — Justin aponta para ele.
       — Ainda não mandei você falar. — Volta a atenção para Doyle. — Eu notei o jeito que olhou para Alaia lá fora e tenho a certeza que não fui a única que notou. Eu sei que não podemos escolher por quem nos apaixonar, mas você podia respeitar os sentimentos do Justin. Vocês sempre foram unidos, o que aconteceu?
        Doyle suspira. — Eu não sei.
        — Estou decepcionada com você, Doyle. Achei que seria melhor do que isso. — Ela passa a mão no rosto. — Melhor você ir embora. Pense sobre as suas atitudes e se vale a pena continuar com isso. Amanhã teremos uma conversa muito séria.
        — Eu sinto muito, tia. — Ele passa por ela e sai do quarto.
        Estou aliviada por ela acreditar em mim até mandar Justin sair também. — Justin, vá ver se seu pai precisa de alguma coisa.
        — Sim, mãe. — Ele também sai.
        Estou sozinha com a minha futura sogra e meu coração começa a bater como tambores. Ela fecha a porta mais uma vez e sei que teremos uma conversa muito séria. Eu não devia ter usado esse banheiro.
        — Sente-se.
         Faço o que ela diz. — Sonia, eu sei que acha que a culpa é minha. Na verdade, eu quase não via Doyle desde que Justin e eu tivemos aquele acidente.
         — Você pode não ter culpa nisso, mas isso pode afastar os dois. — Ela senta ao meu lado. — Tenho a certeza que não é isso que você quer.
        — Claro que não. Mas o que a senhora espera que eu faça? Doyle é um homem adulto, tenho a certeza que pode lidar com um coração partido.
        — E o Justin? Ele não pode lidar com isso, durante esses anos todos ele tem lutado para melhorar. Se Doyle está apaixonado por você, vai tentar estragar as coisas.
        — Doyle não vai me afastar do Justin. Quando eu desisti dele há cinco anos, não foi apenas porque quase morri, Sonia. — Minha voz falha. — Eu estava grávida. Eu fui atrás do Justin para contar e aconteceu aquele acidente. Eu o culpei bastante pela morte do nosso filho, a senhora não tem ideia.
         — Você estava grávida. — Ela afirma, mas está realmente surpresa.
         — Eu perdoei o Justin porque ele estava doente. — Minhas lágrimas aparecem. — Parei de o culpar, mas isso levou cinco anos. E durante todo esse tempo, apesar de tudo o que aconteceu, eu nunca deixei de amar ele. Sei que acha que vou machucar o seu filho ou que não o mereço, mas eu tenho lutado por nós. Eu sempre fiz isso. A senhora sabe que nunca desisti dele até o dia do acidente.
        — Eu não fazia ideia que você passou por algo assim. Eu sinto muito. — Ela segura as minhas mãos. — É que às vezes eu tenho medo. Justin está bem agora, mas e se algo doloroso fizer ele se perder novamente? Sei que já passaram cinco anos e que ele parece capaz de evitar que a história se repita, mas o medo não desaparece.
        — Eu sei o que a senhora quer dizer. Eu também tenho medo às vezes. Mas Justin é forte e ele odiava aquilo. Ele não bebe mais, ele evita todas essas coisas. Ele está bem agora.
       Ela segura as lágrimas. — Cuida bem dele, por favor.
       — Eu farei isso. A senhora também precisa confiar nele.
       — Eu sei. — Ela me abraça. — Eu sinto muito pelo que você passou. Justin sabe da gravidez?
       — Sim. Ele sabe de tudo, até que eu estava no carro com ele.
       Sonia enxuga as minhas lágrimas. — Bem, melhor lavar o rosto, retocar a maquiagem e vamos voltar para a festa, está bem?
       — Está bem. E obrigada por acreditar em mim.
        Ela sorri, levanta e sai do quarto. Justin entra em seguida e vem me abraçar, ficando de joelhos na minha frente. Tenho vontade de chorar mais ainda, mas paro as lágrimas imediatamente.
       — Você está bem?
       — Eu contei para a sua mãe sobre a gravidez. — Sussurro, ainda abraçada a ele.
       — Está melhor? Se não quiser voltar para a festa, eu posso falar com a minha mãe e fico aqui com você.
       Olho para ele e toco o seu rosto. — Eu estou bem agora. Vou apenas retocar a maquiagem e vamos descer.
        — Tem a certeza?
        Beijo seus lábios. — Eu tenho.
        — Vou esperar você terminar.
        — Está bem. — Dou mais um beijo nele.
        Levanto e volto ao banheiro pensando se dessa vez Doyle vai desistir. Temo que ele vai continuar a infernizar a nossa vida, mas não podemos deixar ele vencer. Vou pedir uma ordem de restrição contra ele o mais rápido possível. Se ele se aproximar de mim, vai ter que se ver com a justiça.
        Justin e eu voltamos para a festa a tempo de ouvir a voz angelical de Josephine. Como vários canapés enquanto ouço ela e sorrio ao ver Justin beber um refrigerante de limão. Ele não gostava, preferia sempre uma cerveja, mas aprendeu a gostar. Ele não melhorou ou se tratou apenas por mim e pela sua família, mas por ele também. Tenho a certeza que não precisamos nos preocupar com isso.
       — Você está de TPM ou assim? Está comendo demais ultimamente. — Ele ri.
       — Minha menstruação está a caminho, então sim. — Respondo com a boca cheia.
       — Vamos dançar mais uma vez?
       — Claro.
       Justin me leva para dançar e sorrimos ouvindo a letra apaixonante da música que sua irmã escreveu sobre o verdadeiro amor. Felizmente, Doyle não conseguiu estragar a nossa noite, do mesmo jeito ele não vai conseguir sabotar o que Justin e eu temos.

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