Cap 21 - Casa da árvore

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Almira Pereira:

Nunca, em toda a minha vida, senti tanta raiva como estou sentindo agora. São exatamente onze e trinta da noite e estou sentada na sala, encarando o fogo da lareira, sem nem desviar o olhar.

Levo a terceira taça de vinho aos lábios, bebendo tudo de uma única vez. Álcool é a única coisa que me incapacitará de matar Marco, porém, sinto que não estou bêbada o suficiente, ainda conseguiria pegar essa garrafa e arremessar em sua cabeça sem nem errar por um milímetro sequer.

Ouço o barulho da porta do hall ser aberta e suspiro, não bebi o bastante. Levo a garrafa em direção a minha boca, dando o máximo de goles que consigo, até finalmente secar o vidro. Assim que paro de beber, um homem corpulento, grande e meio tremido, está parado e me olhando.

Marco se aproxima de mim, meus olhos não se desgrudam dos dele. Eu quero matá-lo, quero bater tanto nele que minha mão ficará dolorida por semanas. Ele tira a garrafa das minhas mãos e a coloca na mesa de centro, olhando-me com reprovação.

— Não deveria beber tanto. — Ele murmura.

— Não deveria ter voltado para casa. — Minha voz saiu tão fria e sem emoção, que até eu me assustei. Meu marido cambaleia alguns passos para trás. — O que você fez com a MINHA filha?

— NOSSA filha. — Ele bufa, se jogando no sofá. — Eu não vou mais passar a mão na cabeça dela, Almira. A Maraisa precisa ter limites.

— Ela não fez nada. — Rosno. — E mesmo que tivesse feito, mesmo que essa porra de gravidez fosse verdadeira, você não tinha o direito de falar com ela como falou.

— Eu sou o pai dela, tenho todo o direito.

— O PAI DELA ACREDITARIA NELA. O PAI DELA PROTEGERIA ELA. O PAI DELA NÃO A CRUCIFICARIA COMO VOCÊ FEZ. — Perco o controle, gritando pela primeira vez em décadas com Marco. O ressentimento se apodera de mim, rancor, raiva... ódio.

Eu não me importo o que ele seja dela, a partir do momento em que ele mexeu com minha filha, ele mexeu comigo.

— Ela mentiu para mim, Almira. Escondeu a porra de uma gravidez, está dormindo com minha sócia e também ia esconder isso de mim. — Marco se levanta. — Como acha que eu me sinto?

— Eu estou pouco me fodendo para como você está se sentindo. — Sinto o gosto salgado das minhas lágrimas. — Eu quero a minha filha, Marco. Se alguma coisa acontecer com ela, a culpa é sua. — Me apresso para sair, não aguento olhar para ele agora.

Deus sabe o quanto eu amo esse homem, mas o que eu sinto pelos meus filhos é inabalável, e o amor que eu sinto pelo Marco não irá se sobrepor ao que ele fez com a minha menina.

— Como assim? — Sua voz me faz parar no início da escada que leva aos quartos. — Ela não está em casa? — Quase rio da preocupação que aparece no rosto dele. — Almira... — Marco caminha até mim. O jeito como ele disse meu nome é metódico, mas o desespero é evidente. — Maraisa não voltou para casa?

— Não. — Murmuro. — Ela só disse o que aconteceu para Marília e depois sumiu. Não a vejo desde que saiu para a empresa essa manhã. — Volto a chorar.

Deus, eu quero a minha filha. Maraisa é doida e eu tenho medo do que essa garota pode fazer. Marco era o seu maior pilar, eu sei do quanto o apoio dele e a amizade dos dois era importante, e o homem que ela mais confiava acabou de quebrar o coração dela.

— Ela não está com ela? Não está com Marília? — Nego com a cabeça.

— Marília disse que ela queria ficar um pouco sozinha e que veio para casa. — Abraço meu próprio corpo, sentindo o medo subir pela minha coluna. — Ela não chegou em casa. Ela não atende ao celular. Ela não lê as mensagens. — Soluço. Marco puxa meu corpo para o dele e eu desabo, não seguro mais o choro que vêm com força. — Por que fez isso? Por que acreditou em uma merda de uma revista de fofoca, mas não na sua filha? — Empurro Marco, voltando a ficar puta da vida. — Seu burro, idiota, filho de uma puta, desgraçado... — Estapeio o peito dele diversas vezes, cega pelas lágrimas e pela raiva.

My Father's Partner - Malila | Gp Onde histórias criam vida. Descubra agora