XIII

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Parei em frente a porta. Meus pés não se moviam, meus pulmões não funcionavam, meu sangue tinha esfriado e só escutava um zumbido no meu ouvido.

Era com Konig que eu sonhava. Era com as mãos dele que eu tanto fantasiava. Me senti extremamente traída por meus próprios sentimentos. Não queria admitir que estava perdidamente obsecada por ele. 

Eu o odiava ainda mais por isso.

Queria sair dali, fugir, sumir, gritar. Mas a gravidade estava mais pesada, quase me fundindo ao chão.

Senti um corpo molhado atrás de mim, o peitoral colado nas minhas costas. Segurei a barra do meu jaleco mais firme, na tentativa de checar se ainda estava viva. E pra minha infelicidade, estava sim.

As mãos grandes dele seguraram minha cintura, escutei a respiração da muralha de 2 metros se aproximando do meu ouvido. Era provocante e ao mesmo tempo gostoso. A própria definição do que pra mim significava Konig.

Ele me virou pra que eu ficasse face à face com ele e foi nessa hora que qualquer resquício de dúvida que eu poderia ter sobre ele sumiu.

Eram exatamente esses olhos.

Minha teoria sobre ele ser ridicularmente lindo estava provada e personificada na minha frente. Konig era bonito, definitivamente e arrasadoramente lindo. E ficava ainda mais lindo de perto com o corpo molhado próximo ao meu.

Se era de um rosto que eu precisava, ele tinha me dado muito mais que isso. Braços, pernas, tórax, pescoço, ombros, as tatuagens, a toalha firme na cintura, músculos, cicatrizes. Tudo estava bem na frente.

- sim - respondi.

Ele pareceu confuso, mas não se afastou.

- sim o que?

Ergui meus olhos pros dele.

- eu gosto da cor dos seus olhos - disse, quase que conseguindo ouvir meu orgulho quebrar dentro de mim.

Konig sorriu de lado e era um sorriso lindo, genuinamente lindo. Era diferente de quando o via sorrir debaixo da máscara. Era mais humano, como se eu não estivesse diante de um soldado feito de ferro maciço mas sim de um homem feito de carne e osso.

- você já tinha dito isso, Mia - meu nome saiu em alemão - disse que precisava mais do que um par de olhos "bonitinhos". Esqueceu?

Não respondi, ocupada demais gravando os detalhes do corpo dele.

- sinto muito por ter te colocado nisso - ele disse mais baixo, se atrapalhando um pouco nas palavras - meus métodos nem sempre são os mais amigáveis. Tenho isso de querer puxar todos pra mim, formar uma rede estável de aliados e esquecer que posso estar sufocando eles. Não sou bom em lidar com pessoas.

Ele alternava os olhos entre mim e meus lábios. Konig parecia ansioso, talvez por estar mais exposto do que nunca e se justificando até demais. Era bonitinho esse lado tímido que ele se forçava tanto pra esconder. Contudo, isso não definia de forma alguma seu traço de personalidade. Ele era forte, determinado e sério. Lutava pra alcançar seus ideais, sejam eles quais forem.

- você parece nervoso.

- como assim?

Dessa vez fui eu quem sorriu. Estávamos a uma distância minúscula um do outro e era tentador. Tudo nele era provocante. Enquanto ele voltava a olhar pros meus lábios, eu acompanhava um gotinha que deslizava pelo ombro tatuado até sumir no bíceps. Aquilo que ele chamava de "bíceps" tinha quase o tamanho da minha cabeça e isso me causava pensamentos dos quais preferi guardar só pra mim. Tinham coisas das quais ele me despertava que só ficavam entre mim e minha imaginação fértil.

- por que se escondeu esse tempo todo? - perguntei, já hipnotizada.

Ele olhou ao redor verificando se continuávamos a ser os únicos naquele vestiário.

- você já teve o que queria. Quer que eu me exponha ainda mais? - dessa vez, foi ele que provocou. Como eu adoro esse sotaque.

- é diferente.

Ouvi ele falando mais alguma coisa mas não entendi. Estava ocupada demais decifrando o significado por trás de cada desenho de seu braço. A pessoa que acordar com essa vista definitivamente será a mais sortuda do universo, pensei já podendo fantasiar o aconchego que esses braços poderiam trazer.

Ele pegou o meu queixo e puxou meu rosto pra mais perto do seu. O nariz gigante roçava no meu, não queria sair dali de modo algum. O polegar passeava por meus lábios, ameaçando entrar na minha boca o que fazia meu corpo se aquecer. Ele estudava minha boca de um jeito que se aproximava do erótico mas se confundia com introspectivo. Konig tinha as próprias fantasias, assim como eu tinha as minhas. Gostava de pensar nele pensando em mim. Eu devo estar com febre, minha cabeça dói.

- vai ser o nosso segredo - ele sussurrou, se aproximando ainda mais. A voz rouca e grave bem próximo da minha boca.

O hálito era fresco e se misturava com o cheiro de sabonete que emanava de seu corpo.

- o que exatamente? - provoquei, nem percebendo que tinha apoiado minhas mãos em seu abdômem. A pele era macia e fria, era possível sentir algumas cicatrizes ao passar os dedos. Ele deveria ter anos de carreira militar pra colecionar todos esses machucados. Poderia passar horas perguntando a história de cada um desses machucados - o seu rosto ou o beijo?

Ele permaneceu sério. Não sorria, contudo a mão na minha face demonstrava ao contrário. Ele ansisava por esse beijo, estudando e planejando cada movimento que poderia fazer contra minha boca.

- não beijei você.

- mas vai.

Ele se aproximou, a barba por fazer roçando a minha face. Nossos lábios não se beijavam, apenas encostaram de leve quase que roçando um no outro. As bocas entreabertas, pensando se era o certo a se fazer.

Errado seria eu não beijar um homem desses, pensei comigo mesma.

Ele não se inclinava, continuava a me provocar como se desse tempo pra que eu protestasse e fugisse dali. Mas eu não o fiz. Definitivamente estava com febre.

E antes mesmo de reagir, ele me beijou, dizendo entre um beijo e outro:

- os dois.

Konig • COD [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora