Konig • COD [+18]

XIX

Voltei a trabalhar no dia seguinte e mesmo dopada de analgésicos, sentia meu corpo reclamar a cada movimento que fazia. Matt tinha feito um plantão a mais devido a minha ausência, o que implicaria uma carga horária maior pra mim durante a semana.

Minha voz estava rouca mas já saía, minhas pernas já conseguiam ficar sobre os pés mesmo mancando eventualmente, a dor de cabeça havia passado mas a dor ao sentar na cadeira era absurdamente aguda. Minha região continuava sensível e dolorida, coisa que sinceramente esperei que fosse acontecer já que Konig era gigantesco em todas as suas dimensões. Quanto às marcas no meu pescoço, gastei o resto de maquiagem que eu tinha na esperança de deixar menos visível. As marcas no meu pulso escondi com o jaleco.

O dia seguia dentro do esperado na enfermaria, fazia procedimentos e diagnósticos simples aos pacientes que chegavam. Contudo um deles em especial me deixou surpresa.

Uma mulher alta, cicatriz no canto da boca, braços fortes, postura impecável e o título de Major gravado no uniforme. Major Kiera.

Imediatamente me levantei, ignorando a dor no meu quadril. Forcei um sorriso e puxei mais a manga do jaleco pra cobrir qualquer resquício de marca.

- Major Kiera, que surpresa...

- não precisa de tanta formalidade, já nos conhecemos. Achei que fôssemos amigas, Mia - ela disse com um sorriso esperto de canto, me provocando e se aproximando - sente-se por favor, tenho notícias pra você.

Obedeci e me sentei com dificuldade pra me equilibrar.

- ta tudo bem? - ela perguntou notando minha dificuldade ao sentar.

Neguei e fiz a melhor cara de paisagem que consegui.

- não é nada demais - disse.

- certo - ela me olhou um pouco desconfiada mas ignorou - serei breve já que você deve ter muito trabalho pra fazer.

Assenti, começando a me sentir ansiosa. Algo me dizia que ela me puniria por ter me ausentado repentinamente. Engoli seco e mantive a postura.

- me reuni com outros oficiais de patente alta desde que voltamos da missão, e conversamos muito sobre você Mia - senti meu corpo gelar - tivemos nenhuma morte e pouquíssimas baixas durante o combate graças ao seu serviço.

- o esquadrão era bom, acredito que o mérito não cabe a mim.

- em parte você tem razão, mas se não fosse por você duvido que todos os nossos homens sairiam vivos de lá. Tivemos emergências e você soube lidar com elas prontamente. Parabéns.

Assenti, agradecendo e não sabendo onde ela queria chegar.

- com isso, eu juntamente com os demais líderes achamos viável te promover a enfermeira titular dos nossos esquadrões de elite. Ou seja, quando ocorrer conflitos, guerras e missões, você será a encarregada de dar suporte aos nossos homens. Confiamos em seu potencial, Mia.

- eu...

- claro, você terá ajustes salariais dentre outros benefícios cabíveis na sua situação. Mas, já adianto que seu trabalho irá dobrar daqui pra frente.

Eu não sabia o que dizer. Tudo parecia tão irreal e distante. Por isso só agradeci com um sorriso forçado.

- obrigada.

Ela fez um gesto positivo e se virou pra sair.

- se quiser conversar comigo, estarei na minha sala - a major disse antes de sumir pela base.

Fiz uma nota mental de passar lá após o expediente.

Não sabia como, mas de certa forma as coisas estavam indo bem de repente. Tudo parecia cooperar comigo, o que me deixava inquieta afinal uma sequência de eventos positivos só são acompanhados de uma catástrofe no final. Eu inconscientemente aguardava essa catástrofe mesmo sem nenhum sinal sequer.