1

131 11 15
                                    

— Julinho, você já arrumou sua mochila? — a mãe do menino perguntou.
O garoto, no auge de seus dez anos de idade, resmungou:
— Meu Deus, já avisei mil vezes que sim, que saco, mãe!
Ele se sentou no chão da sala, com a mochila nas costas, para amarrar os cadarços de seu all star preto.
— Olha só que nojo tá esse sapato... — Jussara repreendeu Julio com o olhar, se referindo aos desenhos espalhados por toda a superfície encardida do calçado, que antes costumava ser branca.
— Mãe, isso é arte — ele revirou os olhos — A senhora não entende nada de arte, meu Deus
— Olha, Julio, eu só vou te dar um aviso — ela parou na frente dele, levantando o indicador — A gente vai para o meu trabalho e lá quero você comportado, tá ouvindo? A casa da patroa só tem coisa fina e eu não tenho de onde tirar dinheiro pra pagar, então você não me invente proezas, tá entendendo?
Com uma resposta ácida na ponta da língua, Julinho apenas revirou os olhos, assentindo em resposta.
Hoje era o primeiro dia da suspensão de Julinho da escola, após bater em um dos seus colegas de classe.
Exibia um único hematoma nos nós dos dedos, diferente do garoto que apanhou.
O sol lá fora ainda estava saindo quando desceram o morro.
Seria uma grande caminhada até o ponto de ônibus, outra até o metrô e mais uma até o condomínio onde morava a patroa de Jussara.
Julinho foi o caminho todo com a cara emburrada de sempre.
Bufou mais de uma vez quando a mãe o mandava levantar para dar lugar a alguma senhora ou alguma mulher grávida.
“É só não engravidar”, resmungava Julinho mentalmente quando a mãe explicava que mulheres grávidas não podiam ficar de pé muito tempo.
Era por volta de 9 da manhã quando chegaram ao condomínio.
Julinho olhava deslumbrado para cada mansão que passava pela frente.
Queria morar em uma casa daquele tamanho também, um dia iria.
Jussara começou a mexer na bolsa e parou em frente à casa cuja pintura era um bege que Julinho achou sem graça e tinha um pequeno jardim florido.
— Ah, tá aqui — a mãe do menino murmurou para si mesma ao encontrar a chave da casa na bolsa — Lembra do que eu te falei, né? Se comporte!
— Meu Deus, você já falou isso — ele revirou os olhos pela centésima vez, baixando exageradamente os ombros.
A mulher olhou para ele com um olhar que dizia muito sobre o que poderia acontecer, caso ele não fosse um bom menino.
Entraram na casa e os olhos curiosos do menino varreram todo o local, observando a decoração não muito exagerada, mas que era visivelmente cara.
Segurou a vontade de correr por aquela sala enorme e tocar em cada objeto curioso que tinha ali.
Seguiu a mãe sem saber exatamente para onde estavam indo e colocou sua mochila junto à bolsa da mãe em um armário que ficava na área de serviço.
Se sentou em uma das cadeiras altas do balcão de mármore, descansando a cabeça na mão, entediado, enquanto a mãe começava preparando algo para o café da manhã da família.
— Bom dia, Jussara — uma mulher ruiva entrou na cozinha e Jussara logo entregou um copo com uma bebida verde dentro.
— Bom dia, dona Renata — Jussara respondeu em um tom de voz tão suave que Julinho até se surpreendeu, nunca havia ouvido a mãe falar manso daquele jeito.
— Hum... — a ruiva interrompeu o gole no suco e apontou para a criança debruçada no balcão — Esse é o seu filho?
Jussara lançou um olhar sério par Julinho, que se ajeitou no mesmo instante.
— É, esse é o Julinho, o meu mais novo
— Prazer Julinho, eu sou a Renata — a mulher sorriu simpática para a criança.
— Ô, mãe, por que que o cabelo dela é assim? — Julinho ignorou o cumprimento para perguntar sobre o cabelo muito ruivo da mulher, nunca havia visto aquele tom específico.
— Meu filho, que pergunta... — Jussara deu uma risada nervosa, alternando o olhar entre o filho e a patroa.
Renata riu, abanando uma das mãos.
— Tá tudo certo — respondeu para Jussara e se voltou para Julinho — O meu cabelo é dessa cor porque eu sou ruiva, é um tom diferente mesmo, mas é natural. Você gostou?
Julinho torceu o nariz.
— Achei ridículo
— Julio! — a mãe o repreendeu, dando ao menino um olhar que, se pudesse matar Julinho, já estaria estirado no chão.
Renata deu uma risada sem graça.
— Ele é bem... sincero, né? — ela bebeu mais um gole do suco, engolindo junto com o líquido verde, as palavras que realmente queria dizer: mal-educado.
 — Você me desculpa, dona Renata, o Julio é brincalhão assim mesmo
Renata assentiu.
— O Tulio ta no escritório trabalhando, o Tulinho ta no quarto, vai descer daqui a pouco pra tomar café. Hoje ele não tem aula, cê faz o almoço dele, tá bom? E não deixa ele ficar o dia todo no videogame — falou botando na pia o copo sujo — Tô indo pro pilates e depois vou passar na manicure, não precisa me esperar pro almoço, acho que volto no fim da tarde, tenho umas coisas pra resolver
— Tá bom, qualquer coisa, a senhora me liga
A ruiva apenas assentiu e saiu da cozinha.
Jussara decidiu que não iria chamar a atenção do filho pelo comentário sobre o cabelo da patroa, não agora.
Ouviram o carro saindo da garagem e Julinho observou a mãe colocar na mesa uma porção de comidas que pareciam ser deliciosas.
— Ô mãe, me dá um desses aí — apontou para um bolinho de chocolate.
— Não posso, meu filho, esse é do filho da patroa
— Esse garoto nem vai saber, deve ter um monte desses aí
— Julinho... — o tom de alerta da mãe foi o suficiente para ele se calar, mesmo que contra sua vontade.
— Meu Deus, que mesquinharia — murmurou para si mesmo.
— O filho da patroa já, já vai descer, nada de comentários sobre a cor do cabelo, entendeu?
Julinho assentiu, já se sentindo cansado por estar tanto tempo parado.
Passos foram se aproximando e Julinho se endireitou na cadeira ao ouvir uma voz cantarolando a música de um dos desenhos que gostava de assistir.
O garoto baixinho cruzou a porta da cozinha com seus cabelos molhados, meio desgrenhados, eram de um tom bem mais escuro que o de Renata e Julinho não achou aquele ridículo, mas não diria aquilo em voz alta.
Reparou também na camisa laranja que o menino usava, um laranja forte demais, parecia uma abóbora.
Desceu os olhos pelo short jeans, os joelhos branquinhos, sem nenhum ralado e parou no tênis amarelo.
Diferente dos seus, aquele sapato estava tão limpinho que Julinho desconfiava que acabara de sair da loja.
Observou a interação do menino com sua mãe.
— Bom dia, Jussara — o menino sorriu, se aproximando para um abraço caloroso.
Era tão baixinho. Quantos anos ele tinha? 8? 7?
— Você já viu meu filho? — a mulher apontou para Julinho, ainda calado, olhando.
O ruivinho virou animado, exibindo um sorriso gentil.
Caminhou até Julinho, acenando para ele quando chegou perto.
— Oi, como é o seu nome?
Julinho encarou o menino dos pés à cabeça.
“Almofadinha”, pensou.
— Por que tu é desse tamanho? — perguntou, ignorando o que o mais baixo perguntou.
Tulinho, sem graça, olhou para Jussara, sem saber o que dizer.
Que pergunta era aquela?
— Ele ta brincando, Tulinho — Jussara interveio, mesmo sabendo que Julinho não estava — Esse é o Julio, o meu filho
— Julinho — o menino corrigiu a mãe.
— Eu sou o Tulio, mas pode me chamar de Tulinho
— Por quê?
Tulinho inclinou a cabeça para o lado.
— Por que te chamam de Julinho? — devolveu a pergunta.
Julinho era perspicaz, mas Tulinho também sabia ser.
— É o nome que os crias me chamam
Tulinho franziu a testa.
— Quem são esses crias?
Julinho revirou os olhos.
— Você não sabe de nada, meu Deus
— Tulinho, seu café da manhã tá na mesa já, vem logo comer — Jussara afastou uma das cadeiras, indicando para o menino se sentar.
Tulinho caminhou até a mesa, se sentando e encarando a mesa cheia.
Viu o olhar de Julinho sobre as coisas gostosas ali e perguntou:
— Julinho, você não vai comer também?
O menino abriu a boca, pronto para aceitar, mas a mãe respondeu mais rápido.
— O Julinho comeu antes de sair de casa, meu bem, pode tomar seu café tranquilo
Julinho, se sentido desanimado, voltou a apoiar o queixo no balcão, olhando as pequenas formas dos desenhos do mármore.
Já Tulinho terminou de comer em silêncio e subiu para escovar os dentes.
Ainda no quarto, preparou mais um controle do videogame e escolheu o jogo que parecia ser mais legal, animado com outra criança em sua casa.
Antes de descer, passou no escritório do pai, que não deu muita bola para a presença do menino ali.
— Pai, posso chamar um amigo pra jogar videogame?
— Aham, ta, filho — respondeu sem encarar a criança.
Com uma comemoração silenciosa, Tulinho desceu as escadas correndo e entrou ofegante na cozinha.
— Ei, você quer brincar de videogame comigo?
Julinho levantou imediatamente, um sorriso surgindo no rosto.
— Não, ele não quer — Jussara se intrometeu.
Tulinho pensou rapidamente e logo respondeu:
— Meu pai que mandou, Jussara
— Seu pai?
— É, eu acabei de falar com ele — apontou para onde ficava o escritório do pai.
Dando-se por vencida, Jussara suspirou.
— Ta, vão, mas vão parar assim que o almoço aprontar — levantou o indicador, mas os meninos nem deram bola.
Já estavam correndo pelas escadas na direção do quarto de Tulinho, animados para jogarem juntos.
Julinho seguiu o mais baixo por um longo corredor até a porta entreaberta de um quarto que se assemelhava muito ao quarto de seus sonhos.
E, apesar de tudo, Julinho não era nenhum selvagem. Ficou paradinho em um canto enquanto Tulinho tagarelava sobre o jogo que havia escolhido.
— ..., mas se você não quiser jogar esse, a gente pode escolher outro — o ruivo se virou para o garotinho tímido próximo da porta — Você quer escolher outro?
— Não... — respondeu baixinho.
— Você pode escolher qual quiser — apontou para os jogos bem organizados em uma prateleira.
Julinho se aproximou devagar de Tulinho, olhando os jogos, sem tocar em suas capas.
Tulinho, percebendo a hesitação do mais alto, começou a desorganizar tudo, explicando resumidamente do que se tratava cada jogo e ranqueando aqueles que achava mais legal.
Por fim, ficaram com aquele que Julinho havia escolhido inicialmente.
Se sentaram em um pufe, lado a lado.
— Você sabe como jogar?
— Não — Julinho negou com a cabeça.
— Aqui no triângulo é soco, no círculo é chute, no X você esquiva, no quadrado pula e nesses você vai pra frente ou para trás. Entendeu?
Ele não havia entendido, mas assentiu e, como toda criança, aprendeu rapidamente na prática.
Passaram a manhã toda jogando e aquele videogame foi a peça principal para quebrar o gelo.
— Posso perguntar uma coisa? — Tulinho se virou para o menino ao seu lado.
— Pergunta
— Ouvi sua mãe dizer que você ia vir por uma semana com ela, por que uma semana?
— A diretora da escola é uma idiota
Tulinho se assustou com a forma que Julinho falou, mas estava curioso.
— Por quê?
— Me deu uma suspensão de uma semana
— Por quê?
— Tu gosta de fazer pergunta, né? — Julinho olhou rapidamente para o garoto — Bati em um garoto da minha escola
— Você já sabe o que eu vou perguntar... — Tulinho deu risada e Julinho mostrou um sorrisinho ladino, se segurando para não rir também.
— Ele me chamou de piolho
— Piolho? O que isso significa?
— Eu também não sei, bati nele antes dele explicar
Tulinho deu outra risadinha.
— A doutora Thay diz que violência não é a resposta pra tudo — Tulinho falou, chamando a atenção de Julinho para o assunto.
— Quem é essa?
Jussara interrompeu batendo na porta, os chamando para almoçar.
Sentaram-se juntos à mesa e Julinho se impressionou ao ver o que tinha para o almoço.
Sua mãe fazia das tripas coração em casa. A comida era deliciosa, mas a qualidade das carnes não era tão boa, por exemplo, visto que as melhores eram mais caras.
Depois do almoço, Tulinho subiu para seu quarto sem avisar nada, deixando Julinho à sós novamente com a mãe.
— Por que ele foi embora?
— Ele tem consulta com a psicóloga agora, filho
Julinho coçou a nuca.
— Ele é louco?
Jussara não conseguiu segurar a risada.
— Não, ele não é louco. Mas, não sei se você percebeu, ele é muito sozinho nessa casa e isso causa um monte de problemas na cabeça dele
— Com um quarto daqueles eu nunca ficaria triste
— Não é assim que as coisas funcionam, Julinho
O menino deu de ombros.
Sequer tinha um quarto para si em casa. Então pensou que sim, se tivesse um quarto para si, nunca seria triste.
— Não comente ou pergunte nada sobre psicóloga, tá bom? Por favor, Julio — a mãe pediu.
— Tá bom
— Vocês são amigos agora, é? — a mãe perguntou com um sorrisinho.
Julio não era de fazer amizades facilmente, muito raramente gostava de pessoas de primeira.
E sim, Julinho estava considerando sobre a amizade de Tulinho, mas não diria aquilo em voz alta por enquanto, então só deu de ombros, murmurando um “não sei”.
Um pouco mais tarde, após a consulta com a psicóloga, Tulinho desceu animado para reencontrar Julinho.
— Jussara, podemos ir brincar lá fora? — o ruivo perguntou.
— Lá fora? Ai, Tulinho, não sei...
— Por favor, você pode ficar olhando a gente enquanto rega o jardim — juntou as mãozinhas, implorando.
Julinho percebeu Tulinho piscar os olhos e em instantes ficarem redondos e brilhantes tal qual os olhos do gato de botas.
E foram esses olhinhos os responsáveis por amolecer o coração da empregada, autorizando brincar na rua.
Tulinho puxou o novo amigo para a garagem, onde estava guardada sua bicicleta e outros brinquedos que não ornavam com a decoração do quarto.
— Você sabe andar de skate? — Tulinho perguntou e Julinho negou — E de bicicleta
— De bicicleta eu sei, né? Quem não sabe? — revirou os olhos.
— Então eu vou no skate e você na bicicleta — Tulio apontou onde estava a bicicleta e Julinho foi pegar — O capacete, as joelheiras e cotoveleiras estão ali do lado
Julinho olhou rindo para o ruivo.
— Tu é um nojo, garoto — saiu da garagem com a bicicleta.
Tulinho não entendeu o que Julinho queria dizer com isso, mas pegou seu kit de segurança para andar de skate, não queria se machucar.
— Ei, vocês dois — Jussara os chamou e ambos se aproximaram dela — Estou deixando vocês irem, mas é pra tomar cuidado com os carros pelo condomínio, tá bom? Vocês só podem ir até o final da rua e voltar
Os meninos assentiram e correram em direção ao asfalto.
Julinho esperou Tulinho se equipar todo, propondo uma corrida, ida e volta.
Ambos eram rápidos demais e por muito pouco, Tulinho venceu.
— Nossa, isso foi muito legal — o ruivo riu divertido.
— Eu deixei tu ganhar, tampinha — Julinho brincou e Tulinho imediatamente pareceu murchar.
— Ei, posso te pedir algo? — o menor tirou o capacete, pendurando no guidão da bicicleta que Julinho usava.
— Pode
— Não me chama assim, não... por favor
— Foi mal... — Julinho desviou o olhar.
— Tudo bem, eu sei que você não fez por mal. Mas é que tem esse garoto na minha escola que me chama assim e fica implicando comigo por causa do meu tamanho
Julinho franziu o cenho, não gostando nada daquilo.
Agora que eram amigos, queria que Tulinho fosse respeitado, só não podia interferir na situação pois não estudavam na mesma escola.
— Por que tu não bate nele? — sugeriu Julinho.
— Eu não sei fazer isso, mas já falei com os responsáveis necessários e também minha mãe ficaria decepcionada se soubesse que fiz isso
— E o que fizeram pra resolver?
— Acho que chamaram o garoto pra conversar
— E ele parou de encher teu saco?
— Bem, eu não sei, isso foi semana passada e hoje eu não quis ir à aula — deu de ombros.
— Tu ta com medo?
— Um pouco
— Posso te ensinar a bater
Tulinho negou com a cabeça.
— Violência não é uma opção, lembra?
Julinho bufou.
— Tu é muito certinho, garoto — falou pegando o capacete e colocando na cabeça de Tulinho — Vai, vamos voltar, depois a gente pensa em uma solução pra esse idiota da tua escola
Tulinho deu risada e subiu novamente no skate, pronto para esquecer o assunto que lhe chateava.
Mais tarde, se despediram com pesar, mas animados por se verem todos os dias até o fim da semana.
As manhãs para Julinho eram meio solitárias, pois Tulio estudava de manhã e ainda precisava seguir uma rotina chata imposta pela mãe, sendo liberado apenas depois de terminar todas as lições de casa.
O tempo que lhes sobrava para brincar e Tulinho atualizar o amigo sobre o bully da escola era pouco, mas não os impedia de aproveitar muito.
Julinho até ensinou Tulinho a socar, mesmo que o ruivo tenha garantido que não iria utilizar aquilo com ninguém.
Para a tristeza dos meninos, a semana passou rápido demais e no sábado, não queriam ter que se despedir um do outro.
Prometeram para o outro nunca deixar de serem amigos e, inocentemente, marcaram de se visitar sempre que der.
Julinho foi para casa triste, imaginando quem de sua escola poderia bater para ganhar outra suspensão e, consequentemente, passar mais uma semana na casa de Tulinho.
Já Tulinho sentiu-se só e triste ao pedir da mãe para que o levasse até a casa de Julinho, recebendo horas de sermão sobre como o bairro dele devia ser perigoso e que seria impossível aquilo acontecer.
Juntando sua tristeza e raiva, se trancou no quarto e se debruçou na mesa de estudos, rabiscando sua frustração em uma folha de papel, assim como a psicóloga havia dito para fazer.
E foi assim que teve a brilhante ideia de escrever um bilhete para Julinho.
Bilhete este que foi entregue para Jussara na segunda-feira e na terça-feira, já havia sido respondido.
De um encontro inesperado à amizade sustentada na base de bilhetes. Teriam que se contentar com isso.

 Teriam que se contentar com isso

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
ALGO PARECIDOWhere stories live. Discover now