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Conversar praticamente todos os dias pelas redes sociais era algo muito comum para Julinho e Tulinho, mas não aquele dia.
Um dia após o beijinho na frente da casa de Tulio, a única mensagem que trocaram foi Julinho avisando que havia chegado bem em casa.
Tulinho estava morrendo de vergonha de dizer algo e Julinho não sabia como reagir. Se sentia um pouco culpado por ter gostado do que fizeram na noite anterior.
— Que droga! — Julio resmungou, mordendo a tampa da caneta.
— Que foi, gato? — Martinha franziu a testa, estranhando o amigo falando sozinho.
— Sei lá, fiz uma coisa que não deveria ter feito
— E? Qual foi, Julinho, desde quando chorar pelo leite derramado resolve?
— Não é isso, o problema é que eu gostei de ter feito o que fiz
— Cara, e por que tu tá pilhado?
— Não sei como reagir, não sei como a outra pessoa se sente sobre isso
— Ah, então tem outra pessoa? Quem é? Qual o nome dela?
— Não vou te contar, né? Tu é fofoqueira
Martinha deu risada.
— Vou fingir que tu não disse isso e vou perguntar outra vez. Me conta, quem é?
Julinho pensou por alguns instantes e se deu por vencido. Martinha vivia lendo livros bobos de romance, talvez soubesse um pouco sobre corações balançados.
— Ta, no recreio eu te conto
Assim que o sinal tocou, Martinha pulou da cadeira, ficando de pé na frente de Julinho, que fechava o caderno e guardava a caneta mordida na bolsa com uma tranquilidade que irritou a garota.
Julinho olhou para ela, com uma expressão confusa no rosto.
— O que é?
— Conta!
— Sai, Martinha, eu tô com fome
— Eu vou me morder de curiosidade, Julinho. Conta logo!
Ele se levantou, fazendo a jovem ter que inclinar o pescoço para olhá-lo.
— Eu vou pegar o que tiver na cantina e depois venho pra cá e te conto, não quero ninguém ouvindo
— Pega pra mim também? — Martinha pediu quando Julinho passou por ela, indo em direção à porta.
— Não — ele respondeu.
Martinha teve que ir até a cantina pegar o que estava sendo servido e colou no amigo, sabendo que ele tinha as manhas para furar fila, pegar sua comida e até repetir, se quisesse.
Pegaram seus pratos e andaram furtivamente até a sala de aula, tendo certa privacidade.
— Ta, agora tu tem tua comida, tem privacidade e eu sou todo ouvidos. Me conta!
— Ta — ele deu mais uma colherada no strogonoff — Tu lembra do meu amigo, o Tulinho?
— O riquinho metido à besta?
— Faz um favorzinho pra mim e engole suas palavras junto com a tua comida? Tu sabe que eu não gosto que falem assim dele, tu nunca nem conheceu ele
— Ta, Julinho, prossiga — Martinha revirou os olhos.
Realmente, nunca havia conhecido Tulinho pessoalmente e não achava ele metido à besta, mesmo sabendo que ele era riquinho mesmo. Só falava aquilo para irritar Julinho.
— A gente é amigo faz mó tempão e tal, nunca tinha pensado nele de outro jeito, mas... — ele pausou.
— Mas... — Marta incentivou.
— Ontem eu fui numa social com um pessoal metido a besta
— Esse nem é seu tipo de rolê, mano — Martinha riu.
— Não é, mas eu fui porque não via ele faz mó tempo e queria conhecer as pessoas que ele é amigo
— Ta e aí?
— E aí que ele beijou um amigo dele lá e eu não gostei, também beijei uma amiga dele e não gostei, me senti esquisito com ele assistindo. Depois fui deixar ele em casa e a gente deu um selinho e tipo... eu queria mais, ta ligada? Mas eu sei que não posso querer isso porque ele é meu amigo, porra
— E tu, por um acaso, beija teus inimigos?
— Não, né? Meu Deus, que pergunta — Julinho estranhou.
— E por que é errado querer beijar teu amigo?
— Ele é meu melhor amigo e faz anos, não sei se é certo
— Pera aí, tu não tá pensando isso só porque ele é homem, né?
— Claro que não, Marta — Julinho revirou os olhos — Eu não posso gostar de meninos também?
— Calma aí, não é isso que eu to falando, eu só não sabia que tu era bi
— Eu não gosto de ficar rotulando. Não é mais simples só gostar?
— Ai, olha, essa conversa tá indo pra outro rumo. Vamos voltar e focar na parte de ti com o Tulinho
— Ta, eu e o Tulinho
— Por que tu acha errado? 
— Não é que eu ache errado, é só que... eu não sei o que o Tulio acha disso e eu não quero que nossa amizade acabe só porque eu queria dar um beijo nele
Martinha deu uma risada, entendendo a situação.
— Tá ligado que tu não quer só dar um beijo nele, né?
— O que?
— Tu nunca gostou de alguém antes, Julio?
— Não, não faço nem ideia de como é
— Bom, agora tu tá sabendo
— Tu ta tirando com a minha cara, Marta
— Juro que não, Julinho. Tu ta claramente gostando do teu amigo
O garoto passou a mão pela nuca, meio desacreditado daquele papo, mas no fundo sabendo que era verdade.
— Como tu pode ter tanta certeza?
— Fala pra mim: o que tu sentiu quando viu ele beijando outro?
— Não gostei, ue — ele deu de ombros — Tive vontade de tirar ele dali, mas era o momento dele, sabe?
— E o que mais?
Julinho se remexeu desconfortável na cadeira.
Queria dizer que sua vontade era tirar Bruno dali, tomar Tulinho em seus braços e ser a pessoa com quem ele deu o primeiro beijo.
Queria verdadeiramente sentir melhor os lábios do ruivo nos seus, queria ser delicado, ver os lábios de Tulio ficarem vermelhos após o beijo.
— Ah, é basicamente isso, mano. Não gostei de ver ele com outra pessoa — foi o que Julinho decidiu dizer pois, apesar de Marta o estar ajudando, não achava certo sair falando as coisas de Tulio assim.
— Mas Julio, você também beijou a amiga dele, né? Golpe trocado não dói
— Eu beijei por beijar, foi só um beijo que eu nem senti nada
— E o teu beijo com o Tulio?
Julinho pensou por alguns instantes antes de responder.
— Foi só um selinho e foi muito rápido, mas eu queria mais...
Não conseguiu dizer o que realmente pensava, era algo muito íntimo e guardado à sete chaves só para Tulio.
— Só isso?
— Eu não quero ficar falando muito, Marta, meu estômago tá embrulhado
— Você tá apaixonadinho — ela afinou a voz, causando estranhamento em Julio.
— E agora, o que eu faço?
— Fala pra ele, bobo
— E se ele não gostar de mim do mesmo jeito? Vou perder meu amigo?
Martinha deu de ombros.
— Isso eu não tenho como saber, cara
— Tu não tá ajudando, Martinha
— Meu filho, os sentimentos do teu amigo não são do meu controle, não sei se tu percebeu
A garota pensou por alguns instantes antes de olhar para Julio com uma cara meio assustadora.
— O que?
— E se tu fizer ciúmes no seu amigo?
— O Tulinho não faz o tipo amigo ciumento, esquece
— Ciúme de amigo não, mas e ciúme de namorado?
— Tu nem falou ainda, mas já achei esse um péssimo plano
— Julinho, é genial — se defendeu — Tu fala de alguém pra ele, como namorada ou como ficante séria, sabe? Só pra ver como ele vai reagir
— E como eu vou saber que ele tá com ciúme?
Martinha suspirou.
— Tu conhece ele faz tempo e não sabe ler as reações do teu próprio amigo?
— Já falei, ele não é ciumento, então eu não sei como ele é quando tá com ciúme de alguma parada
A garota coçou a testa, pensando.
— Só tem um jeito
— E qual é?
— Eu vou ter que ir junto — sorriu.
— Ah tá, não vai estar rolando — Julinho semicerrou os olhos, dando um sorriso falso.
— Pensa melhor, cara. A festa de fim do ano dos alunos tá chegando, chama o teu amigo e a gente fica de chamego na frente dele
— Que ideia esquisita
— Faz alguma coisa que tu não costuma fazer, algo que deixe ele com mil pulgas atrás da orelha
— Tipo?
— Tipo... carinho. Tu não é muito de contato físico, né?
— Ta, mas não sei se o Tulinho vai vir, a mãe dele não deixa ele vir pra cá
— Dá teu jeito, eu já dei a ideia, cuida do resto aí — deu de ombros.
Julinho suspirou, ainda confuso com muita coisa.
Gostava mesmo de Tulinho ou era só coisa da cabeça da Martinha?
E como levaria aquela ideia a sério?
Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos, depois pensaria nisso.

Gostava mesmo de Tulinho ou era só coisa da cabeça da Martinha?E como levaria aquela ideia a sério?Balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos, depois pensaria nisso

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