Parte 2

74 13 29
                                    

E lá vamos nós! @allthsecuban me obriga estar aqui novamente
Espero que gostem.


------


Narrador PoV

Páscoa de 62, família Cabello

Camila Cabello, em seus radiantes 17 anos, trazia em seu coração não apenas o calor da Cuba que pouco conheceu mas as vivências compartilhadas através das histórias de sua família. O México, terra dos avós paternos, tornara-se o cenário de suas mais queridas memórias familiares, especialmente durante as celebrações de Páscoa, nas quais anualmente a família viajava de Miami para Cidade do México, devido aos preços do verão serem exorbitantes.

Havia mais de uma década desde que sua família se vira obrigada a deixar Cuba, fugindo de um regime que negava a liberdade de ir e vir, aprisionando não apenas corpos, mas sonhos e aspirações.

O México, com sua tapeçaria cultural rica e vibrante, oferecia a Camila um refúgio, uma extensão do lar que ela sabia pertencer à sua herança, mas que lhe era fisicamente distante. Era neste ambiente acolhedor que Camila alimentava seu sonho audacioso: dominar completamente a língua inglesa. Para ela, o inglês não era apenas um idioma a ser aprendido; era a chave para desmontar as barreiras da xenofobia, um instrumento para provar que uma mulher latina tinha o poder de alcançar o sonho americano. E qual lugar melhor para forjar este sonho do que na prestigiada Brown University?

Numa tarde saturada pelas cores do pôr do sol mexicano, a cozinha da casa dos avós de Camila transformou-se num palco para um diálogo fervoroso entre gerações. Camila, com a paixão que lhe era característica, defendia a importância de sua jornada acadêmica para além das expectativas tradicionais impostas às mulheres em sua família.

-Mas, mamãe- Camila argumentava, suas palavras carregadas de convicção e fervor juvenil- um diploma é mais do que um pedaço de papel. É a afirmação de nossa força e capacidade. É desafiar e transcender os estereótipos e limitações que tentam nos impor.

Sinu, marcada pelo tempo e pela sabedoria que os anos trazem, olhava para Camila com um misto de preocupação e admiração.-Mi hija -em sua voz um bálsamo de ternura- compreendo teus sonhos e a chama que arde em teu coração. Mas, o caminho que escolheste está repleto de desafios. Estás pronta para enfrentá-los?

-Estou mais do que pronta, mamãe. Estou determinada- respondeu Camila, sua determinação iluminando seu rosto jovem.- Desejo que nossa família veja uma de suas filhas conquistar um diploma superior, para provar a nós mesmas nossa inteligência e capacidade, não apenas ao mundo.

A conversa entre mãe e filha fluía, entrelaçando sonhos antigos com novas promessas. Sinu, apesar dos receios sobre o futuro incerto, não conseguia negar o ardor inextinguível de Camila, a promessa viva de que os sonhos, uma vez sonhados, estão destinados à realização.

-E quando dominar essa língua e fizer calar os xenófobos- disse Sinu, um sorriso de orgulho suavizando as linhas de seu rosto, com a fala mansa e carregada de sotaque- estarei aqui, aplaudindo mais alto que todos.

Esse momento, tecido de esperança e juras, selou o compromisso de Camila com seu futuro. Enquanto a escuridão abraçava o México, as estrelas acima sussurravam seu consentimento, testemunhas silenciosas do poder e da determinação de uma jovem pronta para desbravar o mundo.

Na manhã de Páscoa, a casa dos Cabello-Estrabao despertava sob a suave luz do amanhecer mexicano. O ar estava preenchido com os aromas de café fresco e pan dulce, enquanto Sinu, já em pé, preparava um desjejum festivo para a família. Alejandro, com sua presença calma e sorriso amável, ajudava a preparar as "cascarones", ovos coloridos e cuidadosamente esvaziados, agora cheios de confetes, prontos para serem quebrados sobre as cabeças dos desavisados, trazendo risadas e alegria, conforme a tradição mexicana.

Dolci RicordiWhere stories live. Discover now