Parte 5- A Chegada

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Esse cap vai para a bolonguinha

Narrados PoV
Final de Abril de 2018

Saudade, essa palavra, tão nossa, tão repleta de nuances, traz em seu bojo o eco de risadas compartilhadas, o brilho de olhares que se cruzaram em silêncios eloquentes. Ela dança na borda do agora, vestida com as memórias de ontem, uma visitante que chega com o peso de um suspiro, mas que, em sua leveza, pode ser acalmada com um reviver: uma canção, uma fotografia, uma carta desbotada pelo tempo. Saudade é o doce-amargo de relembrar, é ter na palma da mão o calor de um sol que já se pôs - distante, porém, de alguma forma, alcançável.

Sentir falta, por outro lado, é navegar um oceano sem bússola, é a busca por um farol em noites sem estrelas. É o vazio que ecoa em uma casa silenciosa, onde cada canto ressoa com a ausência daquele que partiu. Sentir falta é tentar articular o indizível, é encontrar palavras para o abismo, é desenhar na mente a presença de quem já não se pode tocar. É uma dor que não se acalma com o simples ato de relembrar, pois é a própria lembrança que alimenta a ferida, tornando-a mais profunda, mais dolorosa.

Enquanto a saudade pode ser acalentada com o retorno, com a possibilidade de reencontro - um abraço distante, uma viagem planejada -, a falta é um quarto escuro onde a luz não se faz mais presente. É o frio que se instala não fora, mas dentro, congelando a esperança, silenciando as preces. Saudade é olhar para o horizonte sabendo que, além dele, existe a possibilidade de redenção; sentir falta é olhar para o mesmo horizonte e saber que não há barco, não há ponte, não há caminho de volta.

Saudade é a melodia nostálgica que se pode cantarolar; sentir falta é a sinfonia que se desfaz no ar, notas perdidas que não encontram mais seu lugar na partitura da vida. Enquanto a saudade se aninha no peito como uma dor suportável, a falta é a cicatriz invisível que o tempo não cura, é a eterna busca por preencher o espaço deixado por uma alma que se foi, deixando atrás de si o silêncio ensurdecedor da ausência.

Enquanto a saudade é uma janela fechada que se pode eventualmente abrir, permitindo que a brisa da lembrança suavize a dor, sentir falta é uma porta que se fecha para sempre, atrás da qual permanece tudo aquilo que jamais poderá ser recuperado. É a diferença entre a lágrima que escorre pela face com a doçura da memória e o soluço que se engole em seco, sabendo que algumas ausências se tornam companheiras permanentes, fantasmas que sussurram nos ouvidos do coração, falando de um amor eterno, de um adeus que nunca se quis dizer.

Vinte anos haviam se passado desde a perda de Alejandro, uma ausência que, ainda hoje, ecoava em seus corações com uma saudade palpável.

- Sabe, Lauren, tem dias que eu ainda espero ver meu pai entrar pela porta, com aquele sorriso dele, sabia? - Camila quebrava o silêncio matinal, suas palavras carregadas de saudade.

- Eu entendo, Camz. Alejandro era... Ele era uma força da natureza. Sua paixão pela vida, pelo conhecimento, foi o que nos inspirou a chegar até aqui... - Lauren respondia, olhando para a companheira com um olhar cheio de empatia.

- Às vezes, quando eu estava dando aula ou trabalhando em algum projeto, eu sentia como se ele estivesse aqui comigo, sabe? Observando e ainda me guiando. - Camila sorria levemente, encontrando conforto na presença de Lauren.

- Ele estaria tão orgulhoso de você, Camila. De nós. Nós continuamos o legado dele de uma maneira que, espero, o faria sorrir. - Lauren pegava a mão de Camila, entrelaçando seus dedos com os dela.

- Eu sei... E eu sou grata por você estar aqui comigo. Por tudo. - As palavras de Camila eram um sussurro, mas carregavam um peso imenso, uma declaração de amor e gratidão.

Dolci RicordiWhere stories live. Discover now