Parte 7- Sábado

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Cap 6

Narrador PoV
Junho de 2018
Palestra na Columbia

No auditório repleto da Columbia, a Professora Lauren, convidada especial do Congresso de Literatura, estava imersa em uma palestra sobre a complexa relação entre filosofia e literatura, com um foco particular nas ideias de Gilles Deleuze e na fenomenologia de Edmund Husserl. O público, composto principalmente por estudantes de literatura e filosofia, acompanhava atentamente, capturado pela eloquência e profundidade de seu discurso.

- Como podemos compreender, segundo Husserl, existe uma relação intrínseca entre o sujeito e o mundo; o sujeito, ou mais especificamente, o sujeito-autor, imprime sentido ao mundo através de sua intencionalidade. - Lauren pausou, seus olhos percorrendo a audiência. - A literatura, então, seria vista como um produto direto dessa intencionalidade, uma representação de significados e designações cultivados pela consciência do autor.

Um estudante, interessado, levantou a mão, buscando esclarecer um ponto. - Professora Lauren, nessa perspectiva, a obra literária não se tornaria apenas uma extensão do autor, limitada pela sua visão de mundo?

- Uma excelente questão - respondeu Lauren, acenando com a cabeça. - É exatamente essa limitação que Deleuze desafia em seu pensamento. Para Deleuze, a criação literária não deve ser encarada meramente como uma representação ou um reflexo do interior do autor. Pelo contrário, ele vê a literatura e a filosofia como meios de violência contra o ordinário, impulsionando tanto os escritores quanto os leitores para além das fronteiras do visível, do já pensado.

Ela caminhou lentamente pelo palco, cada passo marcado pela certeza e pelo peso de suas palavras.

- Deleuze nos convida a perceber tanto a leitura quanto a escrita como atos de experimentação e prática, não como atos de representação. A literatura, nesse sentido, é um campo de batalha onde perceptos e afetos são explorados, desdobrados em sua capacidade de nos fazer sentir e perceber o mundo de maneira nova, desafiando a imagem tradicional do pensamento.

Outro estudante, intrigado pela comparação, perguntou: - Então, a literatura, sob a ótica deleuziana, serviria mais como um ato de descoberta do que de criação?

- Precisamente - Lauren confirmou com um sorriso. - A literatura se torna uma jornada através do desconhecido, onde cada palavra, cada frase pode ser um portal para novas formas de existência, para espaços que ainda não foram mapeados pela consciência. Não estamos mais falando de uma literatura que serve como um espelho do autor, mas como um labirinto de possibilidades e mundos. E para ilustrar esses conceitos de Deleuze, podemos nos voltar a obras que desafiam as fronteiras do conhecido e do representável. Pensemos, por exemplo, em "Finnegans Wake" de James Joyce. Joyce nos leva por um labirinto linguístico e narrativo que desafia constantemente nossa percepção de tempo, espaço e identidade.

Um estudante, capturado pelo exemplo, questionou: - Mas como essa obra reflete a ideia de literatura como experimentação, conforme Deleuze propõe?

Lauren sorriu, satisfeita com o questionamento. - "Finnegans Wake" não busca representar a realidade de forma linear ou clara. Ao invés disso, Joyce experimenta com a linguagem, criando um texto que mais se assemelha a um sonho do que a uma narrativa convencional. Ele nos força a abandonar as expectativas tradicionais de como uma história deve ser contada, levando-nos a experimentar o texto de maneira única. Isso é um ato de violência contra o pensamento ordinário, pois desafia nossas preconceitos sobre o que a literatura pode e deve fazer.

- Entendo. E como isso se relaciona com a noção deleuziana de que a literatura deve nos levar ao desconhecido, ao invés de simplesmente refletir o mundo do autor? - outro estudante indagou, mergulhando mais fundo na discussão.

Dolci RicordiOnde histórias criam vida. Descubra agora