IX

51 11 9
                                    

É claro que houve muitas fotos da nossa noite.
Tem gente que vive só de fuxicar a vida dos outros porque a deles não tem qualquer interesse.

No dia seguinte a Internet já fervilhava com muita fofoca, muitos comentários maldosos e graças a Deus outros bem positivos.

Iza continuou a aconselhar-me para não ler, mas não tinha como.

As duas estávamos a tomar café e eu comecei a chorar.  Fui ficando com a respiração ofegante e com falta de ar.

Iza tentava acalmar-me, mas não tinha jeito.  O peito doía e a falta de ar estava pior.

Fomos as duas ao hospital e logo fui atendida.

Fui diagnosticada com ansiedade e saí de lá devidamente medicada.

Não fui à companhia nesse dia.  Avisei Rita que ia ficar a descansar.
Pedi a Iza para não avisar Rodolffo.   Eles iam viajar mais tarde e eu não queria perturbá-lo.

Não teve jeito porque a seguir ao almoço ele apareceu na casa da irmã e quis saber a razão de eu não estar na companhia.   Iza contou e eu vi o Rodolffo bem aborrecido.

- Não ias contar mesmo?

- Talvez depois.  Hoje não.  Nem havia necessidade.   Eu é que tenho que aprender a conviver com isto ou afastar-me.

- São só fotos.

- As tuas fãs não gostam de mim.

- Elas não são donas da minha vida.
Podemos resolver isso, rápido.

- Como?

- Namora comigo.

- Tu estás doido?  Aí é que tu és esculachado de vez.

- Já disse que não ligo.
Não vais responder ao pedido?

- Não tem como responder.  Não ajas sem pensar.

- Quem te garante que não está tudo bem pensado?

- Eu vou ficar bem.  Vai para os teus concertos descansado.

- Quero uma resposta quando voltar desta semana de shows.
Agora preciso ir embora. Ganho um beijinho?

Juliette deu-lhe um selinho.

- Hoje aceito este.  Para a próxima quero um beijo a sério.

- Façam boa viagem.  Trocaram um abraço e Rodolffo partiu.

Na manhã seguinte ao chegar à companhia,  Rita quis ter uma conversa com ela.

- Tenho uma proposta.  Não é bem proposta, é mais um pedido de ajuda.

- Estou pronta a ajudar quem me deu a mão.

- Preciso urgentemente de ti na filial do Rio de Janeiro.  Não é definitivo, mas também não posso garantir que é por um mês ou dois.

Rita explicou as razões porque precisava dela.  No pouco tempo que  já trabalhavam juntas Juliette ganhou a confiança de Rita.

- Achas-me capaz dessa incumbência?

- Acho.  Por teres pouco tempo de casa ninguém vai descobrir.
Vais assumir a classe de iniciantes tal como aqui de manhã  e um extra no escritório de tarde.  De resto é só observares.

- Se confias em mim eu estou pronta.  Quando queres que vá.

- Na próxima segunda feira deves iniciar funções.   Convinha ires amanhã para te apresentares.  Podes viajar de manhã e marco a tua apresentação na parte da tarde.

- De acordo.  Só preciso avisar a Iza de que vou ausentar-me da casa dela.

Voltei para casa para fazer a mala e liguei para ela a contar da minha viagem, sem especificar totalmente o que ia fazer.

- Amiga, fala com a senhora que faz a limpeza.   Ela sabe o que fazer quando eu não estou.

- Obrigada Iza, o teu irmão está perto de ti?

- Não.   Ele saiu com uma turma que conhecemos aqui da cidade.  

- Está bom.  Depois eu falo com ele.

Rodolffo ligou-me por volta da hora do jantar.

- Que história é essa de ires para o Rio?

- Boa noite para ti também.   Vou para o Rio a pedido da pessoa que me ajudou com trabalho.

- Vais fugir de novo?

- Não sejas dramático, Rodolffo.   Se fosse fugir, não avisava ninguém.

- Vais fugir de mim.

- O mundo não gira à tua volta.  A Rita pediu-me ajuda e eu vou ajudá-la.

- Muito conveniente nesta altura.

- Que altura e que conveniente?

- Na altura em que te pedi namoro.

- O que tem uma coisa a ver com a outra?

- Quanto tempo ficas?

- Não faço ideia.  O que for necessário.

- É.  Talvez  seja melhor mesmo.  Quando um não quer, dois não dançam.

- Isso quer dizer exactamente o quê?

- Isso mesmo.  Já sei que vais amanhã.   Boa viagem.

- Obrigada,  eu...

Ele simplesmente desligou a chamada.

Atravessei o Atlântico Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon