XXIII

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Acabámos de aterrar e eu respirei de alívio.

Eu não falei nada, mas quando Rodolffo falou que íamos para Portugal, o meu coração bateu descompassadamente.

Acalmei um pouco quando vi que o nosso voo tinha como destino o Porto e não Lisboa.

O meu  circo apesar de percorrer várias terras, apresenta-se essencialmente em Lisboa.

Eu não estava com vontade de encontrar ninguém conhecido, muito menos familiares.  Quando resolvi atravessar o Atlântico, fi-lo com a convicção de que era para sempre.

Chegámos a casa e as saudades que eu tinha da minha Rosinha.

Abracei-a e cheirei-a com força.  Ela gemeu porque eu apertei demais.

- Desculpa meu anjo.  A mamãe só estava com saudades.

- O papai também quer um abraço e um beijo.

Do abraço do pai ela já não reclamou.  Foi ela própria a apertá-lo.

Cumprimentámos a minha mãe e Iza, contámos um pouco das nossas férias.

Entregámos as lembranças que trouxemos porque a Rosa não parava de perguntar pelo presente que havíamos prometido.

Entreguei-lhe uma boneca minhota vestida de noiva mordoma.
Ela ficou encantada com o traje da mesma.  A boneca vinha com imensos colares que é uma coisa que ela adora.

As bonecas são baseadas nos trajes das mordomas de Viana do Castelo.

Para Iza e minha mãe trouxemos alguns artigos de ouro em filigrana bem como artesanato local.

Marcámos um jantar para o dia seguinte.

Tínhamos comprado 2 pares de botinhas feitas em pele de ovelha para anunciar a chegada do nosso bébé.

Foi durante a sobremesa que decidimos entregar o presente a cada uma delas.

Iza e a minha mãe olharam para as botinhas sem entenderem.  Mandámos virar a sola das botas onde estava um bilhete colado.

- Estou chegando vóvó.

- Estou chegando titia.

Elas olharam para nós com um sorriso estampado no rosto e vieram abraçar-nos.

Segurei Rosa ao colo e apontei para a barriga da Juliette.

- Sabes o que tem na barriga da mamãe?

- O quê? Perguntou ela com desconfiança.

- Um mano.

- Um mano?  A barriga está pequenina.  Não cabe ali um mano.

- Ainda vai crescer.  Tu também cresceste ali.  Sabes quantos meses?

Ajudei ela a contar os nove meses pelos dedos.

- Isso é muito tempo, papai!

- Não é.  Passa depressa.

- E a mamãe vai aguentar um bébé ali dentro?  Vai ficar muito pesado.

- A mamãe aguenta.  Ela é forte.

- Tu guenta, mamãe?

- Aguento.  Já aguentei contigo.

A partir dali foi um chorrilho de perguntas.  Rosa queria saber tudo inclusive como é que o mano entrou na barriga da mãe.

Essa parte eu deixei para Juliette explicar.

Quando fomos dormir, Rosa fez beicinho e quis dormir connosco e como também estávamos com saudades dela deixámos.

Acho que de todos ela era a que estava mais eufórica com o irmão.  Ora fazia uma pergunta mãe, ora se virava para mim, mas dormir é que não era com ela.

Eu e Juliette estávamos cansados e com sono e acho que já tínhamos respondido a tufo, mas ela sempre achava uma nova pergunta para fazer.

Fui à cozinha buscar um copo de leite morno para ela tomar e acalmar.  Por fim disse-lhe que se ela dormisse o mano vinha mais depressa.

Acomodou-se junto ao peito da mãe.
Eu beijei as duas e aconcheguei-me a elas também.

Afaguei o rosto de Juliette e deixei a mão ficar.  Ela fez o mesmo no meu e juntos abraçamos a nossa filha que já tinha mergulhado num sono profundo.

Agradecemos a Deus todas as bênçãos concedidas e que nos conceda muitas mais.

Fim

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