Predestinados

CAPÍTULO VINTE E OITO

Tem um ditado popular que diz que "a desgraça nunca anda sozinha". Zoey estava prestes a descobrir isso. Prestes a viver o que ficaria marcado como um dos piores dias da sua vida.

Havia decidido que não ia confrontar Arthur sobre nada. Não queria vê-lo, quanto mais falar com ele. Seu plano consistia em evitá-lo o máximo que pudesse, fazer seu papel de madrinha porque achava que estava muito em cima da hora para simplesmente dizer que não iria. Apesar de ter se dado conta de que Arthur não era exatamente a pessoa que ela pensou, ainda levava em seu peito um carinho enorme por ele. Sentimentos não podem ser apagados de uma hora para outra.

Depois do casamento, se afastaria dele como já havia feito outras vezes antes quando precisava se isolar do mundo. A diferença é que não voltaria dessa vez. Já podia imaginar que teria um longo caminho para percorrer. As vezes, mesmo depois de 5 anos, ainda se pegava discando o número do pai quando queria desesperadamente falar com ele só para se dar conta de que não podia. Achava que não seria tão diferente com Arthur.

Sentiria falta dele, claro que sim. Ao menos falta daquilo que achava que tinham.

Não pensaria nisso agora. Viveria o amanhã quando ele chegasse. Já havia passado tempo demais trancada no quarto. Tempo suficiente para ser considerado falta de educação com a família de Alana e com a própria Alana sendo que nenhum deles nada tinha a ver com seus problemas. Zoey nem se dera ao trabalho de sair do quarto para almoçar. Ficara ali quase que o dia todo, tanto que o sol quase já se punha. Por ela, teria ficado ali até o dia seguinte, quando iriam embora, mas não podia ser tão indelicada assim e saiu.

O plano seguia sendo evitar Arthur, mas claro que o universo tinha que lhe pregar uma peça e ele foi a primeira pessoa que ela viu ao descer as escadas. Não havia mais ninguém a vista para ela usar como desculpa quando ele se aproximou com um olhar preocupado.

- Está melhor? - perguntou e Zoey não fazia ideia do que ele estava falando.

- Não. - e não estava mesmo. Sentia-se traída e aquilo machucava. Seria drama de sua parte? Não saberia dizer.

- Devia voltar lá pra cima e descansar mais um pouco. Tomar um remédio ou algo assim.

- Eu sei me cuidar, Arthur. Não preciso que me diga o que devo ou não fazer. Se me der licença, preciso... - precisava fazer o que? Dar explicações a ele é que não era. - Tenho que ir.

Quando ela passou por ele, Arthur suspirou de forma audível. Havia alguma coisa diferente em Zoey, mas ele não sabia o que era. Tudo que sabia era que não gostava dessa mudança.

*****

Como o sol já estava baixo o suficiente para não queimar sua pele, Zoey decidiu que talvez pudesse se juntar aos outros na piscina, mas logo que botou os pés para fora da casa, uma brisa suave soprou seus cabelos e arrepiou sua pele de tal maneira que quase parecia sobrenatural, quase como se a brisa quisesse lhe dizer alguma coisa.

Sentia-se um tanto quanto estranha sem saber o que lhe causava aquela sensação de estômago revirado e um gosto amargo na boca. Parecia que o universo lhe sussurrava que alguma coisa estava muito errada naquele momento. Sentia como se alguém a estivesse observando e um arrepio de medo lhe percorreu a espinha. Olhou em volta sem saber ao certo o que procurava. Alguns adultos estavam na piscina com as crianças e outros estavam perto da churrasqueira. Havia ainda aqueles que ela não sabia onde estavam e não os via em lugar algum.

Por que aquela sensação persistia? Por que algo parecia errado mesmo quando tudo parecia estranhamente certo? Era bem contraditório, na verdade e Zoey tratou de tirar aquilo da cabeça. Ao menos tentou.

Zoey sentiu a presença dela antes de vê-la. Nunca saberia dizer como soubera que ela estava ali, apenas sabia. Seu corpo subitamente tornou-se tenso, os punhos cerrados e um zumbido estridente nos ouvidos. Seus olhos foram atraídos para onde a mulher estava parada diante de um carro não tão distante assim. E, Deus, ela era tão linda quanto Zoey se lembrava - o que era irônico já que bastava se olhar no espelho para ver Laura diante dela.