Capítulo 1

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(Izabella)

dez anos depois...

Corro desesperada pela floresta tentando não olhar para trás. Sei que ele está me perseguindo, ele não vai desistir até me pegar, mas eu me recuso a ser sua vítima. Vou fugir ou morrer tentando, ele não vai ter o controle sobre mim.

Meus pés queimam pelos espinhos e machucados do caminho, mas eu ignoro continuando a correr entre as árvores. Tento pular um tronco caído mas caio de mal jeito e torço meu pé, e ainda assim me levanto e tento correr o mais rápido possível. Consigo escutar seus passos pesados se aproximando atrás de mim, sua respiração alta, e quase posso sentir seu cheiro. Um cheiro que me seduziu em um primeiro momento, mas que agora me dá náusea só de lembrar.

- IZA! NÃO TEM COMO VOCÊ FUGIR, QUERIDA! VOCÊ SÓ VAI SE MACHUCAR E ME IRRITAR.

Escuto seu grito e meu medo faz com que todo meu corpo trema. Sinto minhas lágrimas se arrastarem pelos lados do meu rosto conforme eu corro, e por um segundo duvido da minha resolução de fugir. Sua casa fica no meio do nada, essa floresta é a única coisa que tem por perto sem ser a estrada. Só tentei entrar nela, porque me lembrava que na estrada passamos mais de uma hora sem ver absolutamente nenhum sinal de civilização, então achei que teria uma maior chance se adentrasse a floresta.

Minha dúvida dura segundos, porque eu prefiro correr o risco e fugir do que voltar para aquela casa com ele. Com esse monstro que me encantou e seduziu como se fosse um anjo, só para me mostrar que era o demônio. Eu não vou voltar, eu não vou deixar ele ter sua vitória, eu prefiro morrer a ser sua escrava.

A dor no meu pé torcido parece que vai me fazer desmaiar, mas ainda assim eu não deixo de correr. Começo a escutar um barulho de água, e por um segundo fico esperançosa. Se estivermos perto do Lago Michigan pode ser que tenha barcos que podem me ajudar, ou até mesmo algum píer que eu possa alcançar nadando. Quanto mais eu corro mais alto o barulho da água fica, e apesar de ser noite fechada, a lua cheia faz com que seja fácil me guiar. Quando chego numa área aberta, minha esperança morre completamente. Ando devagar até a ponta do precipício e entendo porque escutei tão alto o barulho da água. Realmente esse é o Lago Michigan, mas sendo um dos maiores lagos da américa do norte, grande parte dele eu não conheço e foi burrice achar que eu estaria perto de casa. Claro que ele não me levaria para um lugar familiar, ele é um gênio e jamais seria tão inocente como eu.

Olhando para baixo, eu vejo as ondas baterem nas rochas com força e estremeço. Então é isso, esse é o fim da estrada, eu não tenho como fugir. Ele vai me pegar e me levar de volta para minha prisão de ouro.

- Querida, venha para mim. Você está muito na beirada e isso está me deixando louco. Você pode cair, vem, Iza. AGORA!

Seu grito é o que me faz virar para o encarar. Mesmo depois de correr pela floresta atrás de mim, ele parece ter um controle absurdo sobre si mesmo. A única parte desarrumada dele é seu cabelo loiro, que por estar maior, ficou descontrolado com a corrida. Sua roupa está do mesmo jeito que estava quando sentamos para jantar, e acho que ele não está nem mesmo suando. Esse controle é o que mais me atraiu no começo, para mim fazia todo sentido estarmos juntos. Eu completamente descontrolada e ele o senhor controle.

No começo foi um impulso para o meu ego o Doutor John Harris me querer. Um gênio, rico, bonito e com mais patentes que o Steve Jobs. Tudo que ele fazia me fascinava, todos os prêmios, estudos, experiências. Ele parecia a porra do homem de ferro, inteligência e beleza num combo. Mas agora eu o vejo pelo o que ele é, uma farsa. Ele é realmente um gênio, mas ele não é o bom moço filantropo que prega para a mídia. Ele gosta de possuir coisas, e eu sou o que ele mais quer. Mesmo que ele tenha que me prender para isso.

- Iza, vamos. Venha até mim, querida, eu vou te ajudar. Claramente os seus remédios não estão mais funcionando, você deve estar em alguma fase maníaca da sua bipolaridade, eu vou te ajudar. Vem, Iza.

Ele coloca as duas mãos na sua frente como se para me atrair para seu corpo, mas eu balanço a cabeça negativamente e dou um passo para trás perigosamente perto da beirada. John vê quão perto eu estou e para de se aproximar.

- Iza, você pode cair.  - escuto o desespero na sua voz, mas sei que ele só está preocupado porque tem a chance de perder seu brinquedo favorito - Por favor, querida, vamos conversar e eu vou te ouvir dessa vez. Não é essa sua maior queixa? Eu vou ouvir o que você deseja da nossa relação, só dê um passo para frente.

Novamente eu balanço minha cabeça porque eu sei todo esse ato dele. Todas as vezes que eu ameacei terminar ele fez essa mesma atuação, chorou, pediu desculpas, se desesperou. Ele me manipulava até eu acreditar que estávamos bem, até que fazia tudo de novo. E quando ele não conseguiu mais me manipular, ele me prendeu. Como se eu fosse um criminoso.

Não tem mais o que pensar, eu não vou voltar com ele. Quando descobrirem isso, tenho certeza que ele vai convencer todo mundo que o meu transtorno mental me levou a isso, mas agora não importa mais que o mundo veja quem ele é. Meu objetivo é a liberdade, e vou fazer qualquer coisa para alcançá-la.

- Adeus, John.

Me viro e pulo no lago escuro e a última coisa que eu escuto é o grito angustiado do monstro que me perseguiu. Acabou.

TREZEOnde histórias criam vida. Descubra agora