Na primeira vez que Louis viu Harry, o capitão tinha desembarcado com a tripulação na pequena cidade onde o ômega morava.
Dava para reconhecer que eles não eram dali, pelas roupas que usavam, e pela maneira como falavam. Louis percebera que eles andavam diferente também, as cabeças sempre erguidas, como se não tivessem medo de nada.
Fora o cheiro de alpha que eles deixavam pra trás.
O pequeno ômega havia escutado muitas histórias sobre piratas; que eles eram sanguinários e matavam sem pena, que tinham escravos para servirem-lhes sexualmente nos porões dos navios, que eles eram grosseiros e estavam sempre usando grossos colares de ouro pendurados no pescoço.
Pelo menos eles não estavam ali para saquear a ilha já que outro navio havia o feito há não muito tempo atrás, deixando a população toda na miséria.
No meio daquela multidão toda, Louis tentou procurar com os olhinhos semicerrados o alpha que mais parecia se encaixar naquela ideia de capitão que ele tinha. Mas era muito difícil! Então ele se esgueirou por meio deles e ficou ouvindo suas conversas, esperando para que alguém em algum momento usasse a palavra 'capitão'.
O ômega colocou a mãozinha no bolso para sentir as poucas moedas que ele tinha conseguido naquele dia, ele tinha um pressentimento bom, de que talvez aquela tripulação fosse boa e ele fosse capaz de levar mais dinheiro para sua mamãe.
Se só aquele capitão aparecesse de uma vez...
xx
Finalmente Louis o encontrou.
Um homem baixinho de pele muito clara e cabelos ruivos havia colocado a mão no ombro de um outro homem e o chamado de capitão. Porque ele estava de costas, Louis não conseguia vê-lo muito bem, somente os cachos que caiam pelos seus ombros e suas costas largas.
O ômega pegou fôlego e inspirou e expirou algumas vezes para ter coragem. Segurando firme nas tintas de graxa em suas mãos, se aproximou do capitão, sorrindo cordial.
"Olá, senhor." ele atrapalhou a conversa dos dois. Sabia que deveria esperar eles terminarem, mas ele tinha pressa! "Quer engraxar os sapatos?"
O alpha mais alto, que estava no meio de uma frase, encarou o pequeno de cima a baixo e balançou a cabeça, educado.
"Não, obrigado." ele disse com a voz rouca e grave.
Ele não parecia ser sanguinário, o ômega notou. Mas sua mamãe o havia dito que as aparências enganavam, e sua mamãe sempre estava certa.
"Tem certeza?" Louis questionou, dando um passo a frente. "Vai ser bem rápido e eu faço direitinho!" ele apontou para os sapatos desgastados do alpha. "Fica como novo."
"Eu não-"
O ômega o interrompeu. "Pode escolher entre a preta e a marrom." ele levantou as duas graxas para mostrar ao capitão. "Eu tenho duas." ele sorriu, orgulhoso.
O capitão suspirou, passando a mão por entre os cabelos longos. Ele parecia um pouco estressado. "Me desculpe, eu não tenho tempo para isso agora, mas obrigado."
xx
Louis havia aprendido algumas coisas na rua. Uma delas era que mentir era essencial em alguns casos. E o ômega não tinha muitas questões de ética, moral ou princípios para se preocupar, havia outras coisas mais importantes.
No final no dia, se ele e sua família tinham o que comer, era o que importava para ele.
Por isso ele se aproximou de dois alphas que estavam conversando ao lado do ferreiro e interrompe a conversa. "Seu pirata vai engraxar seus sapatos comigo." ele mentiu, apontando para o alpha de cabelos cacheados do outro lado da rua. "Gostaria de engraxar os seus também?"
