5° | Gerando esperança

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Querido leitor! Estava contando os minutos para sua chegada. Vamos, acomode-se, ainda tenho muito para revelar sobre essa história. Deve estar se perguntando o que aconteceu após a desventura na mesa de jantar, certo? Bem, esclarecerei suas dúvidas neste exato momento.

Após orar e conversar com sua esposa, Carlos se dirigiu ao quarto da filha, no intuito de entender melhor os sentimentos dela. Uma hora havia se passado desde o ocorrido e, durante esse tempo, a menina entregou-se completamente às lágrimas. Ela não culpava Savana, afinal, a miúda era só uma criança que foi privada de conhecer a mãe. Mesmo assim, era impossível não sentir um fio de indignação por tal acontecimento. Entre soluços, pensamentos e uma forte dor de cabeça provinda do choro, Emily adormeceu antes que seu pai chegasse ao quarto.

O dia seguinte foi bem melancólico, como era de se esperar. Ao abrir os olhos, Emy desejou não ter dormido tão cedo, pois assim teria acordado tarde e seu atraso seria uma boa desculpa para não ir à escola. Além de não se sentir nada bem emocionalmente, tinha a sensação de ter sido esmagada por um elefante ou qualquer animal de grande porte. A cabeça pesava, a barriga reclamava e o pescoço doía por ter dormido de mau jeito.

— Que péssimo dia! — murmurou enquanto se levantava; mas quando puxou a cortina da janela e viu a luz matinal invadindo a escuridão do seu quarto, se arrependeu de seus murmúrios e fez uma curta oração de gratidão.

Carlos, em uma tentativa frustrada de diálogo, consolou-a como pôde no café da manhã, transmitindo sua preocupação e mútua tristeza pelas circunstâncias da vida. O coração de Emy se compadeceu, gemeu e chorou, mas tudo que conseguiu dizer a ele foi:

— Tudo bem, pai.

Não tenho nada de importante a dizer sobre o que se sucedeu após isso, caro espectador desta trama, a não ser o fato de Emily ter vivido sua rotina sem nenhuma animação, permanecendo introspectiva e silenciosa com todos.

O mal-estar se estendeu até o domingo quando, enfim, uma porção de renovo invadiu a garota. Acompanhada da família, ela seguiu para a igreja que aprenderia a amar. Seria um grande desafio, ela sabia disso, mas pela primeira vez pisou naquele lugar com intenções genuínas, portando uma nova perspectiva de sua realidade.

Após a morte de sua mãe, um muro se levantou ao redor do coração de Emy, fazendo com que ela se afastasse de tudo ao seu redor, inclusive da igreja. Enquanto todos pareciam viver como se nada tivesse acontecido, ela só desejava voltar no tempo. Foi assim que sua frequência nos cultos foi diminuindo, até o ponto dela rejeitar totalmente a comunhão com os irmãos e culpar a Deus por todo aquele sofrimento. Mesmo com a decisão de Carlos de mudar para a igreja de Ester, anos depois, a atitude de Emily não mudou.

Ao chegar na igreja naquela manhã de domingo, foi recebida com a mesma amabilidade de como foi no retiro e isso a constrangeu. A quantidade razoável de membros permitia uma maior interação, pois ninguém era desconhecido, ainda que não fossem tão próximos; e todo "graça e paz" era seguido de um abraço — algo que nossa patrulheira demorou anos para se acostumar.

Quanto ao templo, ele era grande se comparado à quantidade de pessoas que ali congregavam, mas estava longe de ser uma catedral. Na verdade, era tudo bem rústico. Os bancos eram de madeira e ficavam dispostos em apenas duas fileiras, o que permitia uma única passagem para o espaço mais elevado no fundo, onde um púlpito e algumas flores ornamentavam o lugar. Nas paredes havia um número considerável de janelas que davam uma vista maravilhosa para quem olhava de dentro, graças à localização privilegiada da igreja, em um pequeno morro. Entretanto, a verdadeira beleza estava na reunião do corpo de Cristo.

Teté — Savana puxou uma das mechas laterais do cabelo de Ester, enquanto eles esperavam a programação começar —, posso pegar a Jessie? — disse fitando a mulher com um olhar pedinte.

No Final da Jornada [Em andamento]Where stories live. Discover now