2° | O discurso do Rei Julien

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Os Institutos Federais eram caracterizados pela sua variedade de estudantes. Concomitante ao ensino médio, os alunos tinham a oportunidade de escolher um curso técnico de sua preferência e, pelo menos na teoria, sair do ensino básico aptos para o mercado de trabalho. Eletrônica, química, meio ambiente, informática e eletroeletrônica eram os cursos disponíveis para a modalidade integrada, o que fazia do IFMA - Campus Estrelados a escola mais almejada da região.

Você é bom em matemática, querido leitor? Multiplique comigo: cinco cursos, cada curso com três turmas — primeiro, segundo e terceiro ano — e cada turma com quarenta alunos. Muito bem, agora imagine essa quantidade de adolescentes juntos, interagindo, depois de um mês de férias... Pelas galáxias!

A bagunça no teatro da instituição era generalizada. Não era possível distinguir uma palavra sequer no meio de tantos ruídos e conversas avulsas. Os veteranos comentavam as novidades das férias, os calouros tentavam se enturmar com os colegas de classe, e alguns apenas dormiam nas poltronas.

Como eles conseguiam? Bem, é um tremendo mistério.

— Todos sentados, sentados! — Diamices, a pedagoga do curso de química e eletrônica, tentava manter a ordem no caos, sem sucesso algum.

Por ser baixinha, sua presença no meio dos estudantes era quase imperceptível, ainda mais com toda a euforia no local. O jeito nervoso da mulher divertia os adolescentes, mesmo quando se sentiam intimidados com os olhares esbugalhados dela. No fundo, havia muito amor em ambas as partes.

— Respire e se acalme! — Um dos alunos a abraçou rápido antes de sair correndo, fazendo-a reclamar de todos e falar palavras como: "jovens rebeldes", "rebeldes e jovens" e "jovens rebeldes" de novo.

Emily sentou no fundão, acompanhando os amigos que não tinham o mínimo de interesse na cerimônia de boas-vindas. Logo após, o time de vôlei masculino se juntou a eles nas últimas fileiras no nível mais alto do teatro. Com exceção de Israel, que preferiu se acomodar em um assento da primeira fileira, sem a companhia de Glória e Joaquim, pois ele não os tinha encontrado em nenhum dos lugares-chave do prédio.

— Esse ano vamos trazer o troféu pra casa e sair do terceirão em grande estilo — Bruno comentava com os brothers. — Não vai ter pra ninguém nesse campeonato.

— Você disse a mesma coisa no ano passado. — Nicole revirou os olhos e apoiou o pescoço na cabeceira da poltrona. — Se o Andrade⁴ não participar das competições, será um fiasco de novo.

Os olhos de Emy que rodaram nas órbitas com a menção do seu rival — ou quase isso — de classe.

Emily e Israel sempre foram os melhores alunos da turma 313 de eletrônica, desde o 1° ano. Mas, ao contrário da menina, Isra era sociável e nada fissurado na vida escolar. Enquanto ela dedicava todo o seu tempo aos estudos para tirar as melhores notas, nosso protagonista praticava esportes, lia e cantarolava com os amigos pelos corredores. Não fazia muitas perguntas aos professores, mas ainda se saía bem em qualquer avaliação.

Sem entender tal empreitada, a moça vivia se comparando e se considerando uma formiga intelectual. Para Israel parecia fácil, e isso a aborrecia. Quando começou a andar com Bruno, esse sentimento se intensificou, pois ele fazia questão de inventar mentiras a respeito do parceiro de time, movido pela inveja.

Do outro lado da situação, alheio a tamanha oposição da colega de classe, estava Israel, que admirava Emily pelas respostas diretas e belas redações. Enxergava nela algo pelo qual ele lutava para alcançar: o equilíbrio. Esse desacerto entre os dois, fruto de um preconceito juvenil, teria sido resolvido se Emily fosse mais acessível ou, ao menos, houvesse dado uma oportunidade para as pessoas certas.

No Final da Jornada [Em andamento]Where stories live. Discover now