3° | Os bocós

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— Isra! — Glória acenou para o amigo quando conseguiu se desvencilhar da multidão empacada na saída do teatro.

Ouvindo-a, ele parou, olhou para trás e aguardou a chegada dela.

— Ei! — Joaquim Tenório também gritou do aglomerado de alunos e apressou os passos para alcançá-los.

Juntos, os três se cumprimentaram a seu modo e engataram uma conversa animada sobre coisas comuns. Glória, a mais entusiasmada do grupo, relatou sobre seu final de semana com os pais, contando como a visita havia sido maravilhosa por sucumbir à tremenda saudade da família. Também pediu aos meninos detalhes do retiro, mas não os deixou falar, pois sempre emendava uma pergunta atrás da outra.

É uma pena que, ao lado de Glória, esses pobres mortais nunca experimentariam o sossego do espaço sideral.

— Aconteceu algo no retiro que você não vai acreditar. — Joaquim inclinou o corpo e falou mais compassado para chamar a atenção da garota. Talvez assim ela deixasse de tagarelar.

— Deixe de arrudeio⁶, Quindim, desembucha logo.

O garoto riu quando percebeu ter atingido a curiosidade da menina. Apesar de a notícia ser mesmo interessante, amava o efeito que o suspense causava em sua companheira de caminhada.

— Porque ele não fala? — Glória fitou Israel, cujo rosto exprimia divertimento, mesmo tendo travado os lábios para não rir.

Agrrr! — A curiosa bufou, cruzando os braços.

— Você está cutucando onça com vara curta — disse Isra.

Joaquim não se sentiu amedrontado ao receber o aviso do amigo, mantendo-se sempre contemplativo. Quando resolveu abrir a boca para contar as boas novas, um alvoroço foi notado na porta do auditório, onde assovios e urros eram direcionados a Bruno e seus companheiros, como se fossem celebridades. As gargalhadas vindas do grupo eram tão altas que soavam artificiais. Além disso, faziam questão de ficar no meio do caminho das pessoas, ignorando o fato de estarem atrapalhando a movimentação no local.

Enjoada com a cena, Glória revirou os olhos e fez uma careta ao dizer:

— A turma de bocós! Por que pensam ser o centro do universo?

— Suponho que eles não entendem nada de astronomia — Joaquim gracejou, arrancando uma risada verdadeira dos outros.

Isra não se sentia afetado por estar longe dos jogadores, tampouco se importava em ser motivo de piada entre eles. Apesar de ter se enturmado no começo, tempos depois ficou claro que não possuíam nada em comum fora da quadra. Não se achava melhor, mas aprendeu a ser mais cauteloso com as pessoas a quem se associava.

— Me pergunto se esse ego inflado é por causa do título de pentacampeão ou por serem do curso de química. — Glória estreitou os olhos, ainda os encarando.

— Pouco importa. — Israel deu de ombros. — É tudo vaidade.

Os outros dois patrulheiros confirmaram com um meneio de cabeça e ficaram observando os "astros" do momento até quando a sirene tocou, indicando o início do 3° horário.

Em outro lugar do prédio, Emily também havia escutado o "toque de recolher" e se perturbou com o efeito causado em seu ouvido. Com o término da solenidade no teatro, a menina deu uma desculpa qualquer para os colegas e fugiu para o andar de cima, sem ter um lugar específico em mente, desejando apenas um momento de quietude.

Após caminhar até a metade de um dos corredores, entrou no banheiro feminino, a fim de esperar cessar a grande movimentação no local. Quando não havia mais ninguém nos lavatórios, Emy se aproximou da pia, molhou o rosto suado e soltou os fios ondulados do coque, aproveitando para alinhar o frizz com as mãos.

No Final da Jornada [Em andamento]Where stories live. Discover now