Memórias

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Domingo, 22 de fevereiro de 2015

Eu nunca fui uma pessoa carinhosa, e nesse ponto posso dizer que sou bem parecida com minha mãe; mas, de forma curiosa, nós nutríamos um tipo diferente de carinho, sem muita melosidade ou pressão. Ela era a única pessoa com quem eu poderia ficar abraçada por vários minutos, e não apenas em datas comemorativas, quando demonstrações de afeto são quase obrigatórias. Além disso, achava incrível como meu corpo se encaixava perfeitamente naquele abraço, embora eu já não fosse mais uma criança. Nele, sentia-me amada... segura. Não havia nada melhor que estar nos braços da minha mãe, a não ser ouvir a sua risada. Dona Agnes era uma máquina de gargalhadas: contagiantes e inconfundíveis. Vê-la feliz me deixava feliz. Vê-la viva me impulsionava a viver. Agora enxergo como Deus foi bom permitindo que Savana sobrevivesse. É como se um pedacinho da minha mãe permanecesse aqui. Só é difícil aceitar que ela não terá as mesmas memórias. No coração da Sah, Ester será lembrada. Se eu pudesse, abandonaria todo esse sentimento que nem ao menos sei definir; mas isso parece uma tarefa grande demais. E, junto desse fardo, carrego outro bem pior: entender o porquê do sofrimento. 

No Final da Jornada [Em andamento]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora