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O dia da entrevista chegou, e eu não tinha uma roupa sequer. Bem, eu até tinha, mas nenhuma parecia boa o suficiente para a ocasião. Em cima da cama as roupas escorregavam até o chão, eu não tive tempo de ir às compras ainda. Mas isso era por um bom motivo, eu já estava na minha casa nova. Longe de Estevan, longe da Nicole e longe de qualquer pessoa que vinhesse palpitar sobre a minha vida.

Eu precisava disso, acho que todos precisamos de uma distância de pelo menos um pouco. Precisamos de um lugar onde só esteja você, seus pensamentos e seu coração.

— Não se atrase querida! — Minha mãe gritou da cozinha, ela passou a amanhã aqui me ajudando com algumas coisas da decoração embora as tintas não tenham chegado.

— Não vou, não se preocupe mãe. — Disse eu apenas de toalha e cabelos molhados.

Odeio atrasos, e odeio pressas. É por isso que sempre sou pontual e sempre opto pelas coisas bem feitas ao invés da pressa.

— Ela está mentindo mãe, Greta nem trocou de roupa ainda. Ela acha que será rápido rebocar aquela sardenta. — Um dos meus irmãos gêmeos mais novos disse que ao passar pela porta do quarto e se jogar sob a minha cama.

Quase gemi em frustração, eu gostava mais dele quando era criança e não um adolescente desbocado.

— Você ainda não foi para escola?

— Estou aqui, não estou? — Ele rebateu concentrado no celular.

— Vaza do meu quarto Enoch! — Murmurei sem paciência.

Ele saiu da cama.

— Já estava me cansando dessa sua cara feia mesmo. — E simplesmente foi embora.

Mudei de roupa e sequei meus cabelos, até que pelo espelho vi o meu irmão entrar de novo.

— Eu já não disse pra você dar o fora daqui garoto? — Quase o ameacei com o secador, eu não podia perder meu bom humor, não antes da entrevista.

"Não sou o Enoch, sou Herber", o mais novo dos gêmeos fez o sinal em libras para que o entendesse. "Ele disse que você está nervosa para a entrevista". Ele repetiu novos movimentos.

— Estou um pouco, eu confesso. A M. O não é qualquer empresa. — Fiz os sinais para ele que abriu um pequeno sorriso ao se aproximar.

Herber nasceu com problema na audição e na fala, ele é mudo e quase surdo se não fosse pelo aparelho auditivo. Dos gêmeos, ele era o mais calmo, ele sempre pensava antes de agir diferente de Enoch. Os gêmeos tinham aderido a aparência do nosso pai, os cabelos morenos, os lábios finos e sobrancelhas grossas, mas enquanto aos olhos nós três tínhamos cópias. Azuis como gelo.

"Não fique nervosa, você vai se sair bem." Ele assentiu várias vezes para reafirmar oque foi dito em libras. "Qualquer pessoa em sã consciência iria preferir alguém inteligente como você, Greta."

Ele me abraçou, Herber gostava bastante de toques físicos e sempre que tinha uma oportunidade ele fazia exatamente oque está fazendo agora. Ele me encarou depois do abraço, eu aprendi a entendê-lo apenas pelos olhos então assenti.

— Obrigada Ber, me sinto bem melhor graças ao seu abraço.— Ele acompanhou o movimento dos meus dedos e sorriu ao consertar a mochila.

"Boa sorte." Foi oque ele disse antes de se virar e sair do quarto. Eu não consegui evitar aquela pitada de preocupação ao vê-lo ir a escola, eu já estive em uma e sei o quanto um colega pode ser maldoso e isso se intensifica se você é considerado diferente. 

Secretária HildagoWhere stories live. Discover now