Capítulo 20

12 0 0
                                    


A tarde estava quase chegando ao fim quando a carruagem parou diante da escadaria que conduzia ao templo. Como não era uma data especial, não havia muitos visitantes.

O templo possuía um amplo salão de entrada e alguns espaços recuados, onde os fiéis podiam fazer suas preces com mais privacidade. Sendo a rainha, eu tinha acesso a uma sala exclusiva, destinada para que minhas preces não fossem interrompidas. Os funcionários me guiaram até lá, acompanhada pelos meus guardas.

Cada passo que eu dava sobre o chão de mármore ecoava pelo corredor e pelo salão do templo. Os últimos raios de sol filtravam pelos vitrais coloridos das janelas, lançando reflexos de luz sobre o caminho enquanto eu recordava da última vez que estive ali, implorando em lágrimas por liberdade.

Ainda havia uma pontada de inconformismo em relação ao Criador em mim, mas, ao mesmo tempo, temia que minha revolta ou mesmo o tempo que passei distante dali pudessem levar à rejeição dos meus pedidos. Certamente, eu não teria ido até ali se não fosse por uma questão tão determinante para o futuro de Aruna.

Os funcionários do templo abriram a porta e me deixaram à vontade na sala. Uma grande janela com um vitral ficava em frente a um suporte onde eu poderia me ajoelhar, além de um candelabro e um cofre para ofertas. Dali, eu tinha uma visão completa de Aruna e do palácio de luz. Respirei fundo, com certo receio, após observar o que estava em risco.

Os guardas inspecionaram o ambiente e saíram para me esperar do lado de fora.

Inclinei meu rosto em um gesto de reverência, uni minhas mãos e iniciei minhas preces da maneira que sabia que deveria: com um cumprimento semelhante ao que recebia dos súditos em Aruna.

--- Qual é o motivo das suas preces? Não é comum vê-la nesse templo --- uma voz masculina disse atrás de mim.

Precisei conter uma risada amargurada diante de tal questionamento. Como ele não saberia sobre tudo o que estava acontecendo em Aruna? Todos sabiam.

Contudo, movi a cabeça para dissipar meus pensamentos desgostosos enquanto procurava discernir qualquer vestígio de serenidade dentro de mim. Considerar que todos estavam cientes da situação de Aruna seria arrogância.

Quem morava distante da cidadela e realizava seus afazeres com total atenção, como os funcionários do templo, provavelmente não estava a par da revolta dos argians ou sobre minha gestação.

--- Estou suplicando ao Criador que proteja Aruna enquanto não posso fazê-lo e que a revolta entre meu povo cesse. Eles estão assustados com a possibilidade de minha gravidez, e há uma crescente insatisfação pública sobre esse assunto. Portanto, confio que o Criador possa iluminá-los para que percebam claramente que não há motivo para tal temor.

--- Não está realmente grávida? --- Ele interrompeu minha fala para perguntar e, por alguns segundos, hesitei entre revelar a verdade ou não, pois poderia estar ali para me matar.

--- Estou, mas Aruna não está desprotegida. O rei Kardama está no palácio de luz para assegurar a segurança de todos.

--- Rei Kardama... O itzan? --- O homem enfatizou a última palavra e eu revirei meus olhos, que ainda estavam fechados enquanto eu tentava me concentrar em meus pedidos.

Eu estava exausta da arrogância dos argians ao falar com desdém sobre os itzans.

--- Rei Kardama, o soberano do império senko-aruniense. Um mago muito poderoso, capaz de proteger todos os magos de luz como eu mesma faria.

--- Mas ainda assim, ele é um itzan.

Respirei profundamente mais uma vez. No templo, existia uma norma para não nos deixarmos dominar pela raiva. Do contrário, poderíamos correr o risco de nossas preces serem rejeitadas pelo Criador, pois elas precisavam emanar genuinamente de nossos corações.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora