Capítulo 22

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A estrutura guilhotina que estava sendo montada pelos argianos encontrava-se posicionada em uma colina próxima ao castelo. Sua disposição estratégica sugeria que fosse direcionada para proporcionar uma visão privilegiada do palácio de luz, uma conclusão que formulei enquanto os guardas sombrios interrompiam os construtores.

--- Foi este homem o responsável ---, informou um dos guardas sombrios, apontando para um indivíduo baixo e robusto, de olhar raivoso e algemado, trazido pelos outros guardas.

--- Interessante construção ---, ironizei. --- Pergunto-me quem teria o privilégio de ser executado aqui, diante de tão bela paisagem.

O homem permaneceu em silêncio, encarando-me com ódio.

--- Quem está liderando este movimento de revolta? --- inquiri, adotando um tom sério enquanto me aproximava.

Ele continuou em silêncio. Um dos guardas sombrios desferiu um soco em seu rosto.

--- O rei está fazendo perguntas --- interveio o guarda, mas fiz um gesto para que parasse.

--- Obterei as respostas necessárias, seja dele ou de seus cúmplices já capturados nas masmorras.

Naquela mesma manhã, havíamos detido outros dois líderes de pequenas revoltas no território argian. Todos permaneciam sob custódia, vigiados pelos guardas itzans para evitar qualquer tentativa de fuga ou resgate.

As masmorras em que os traidores da coroa de Aruna estavam confinados não eram as mesmas onde os prisionais convencionais ficavam. Isso garantia que não houvesse possibilidade de planejar uma fuga ou receber auxílio externo.

--- Aruna não é um lugar destinado aos itzans. Você nunca será nosso governante ---, declarou o homem.

Semicerrei os olhos e, com um gesto da mão, envolvi seus olhos em sombras, obscurecendo seu campo de visão. Era uma medida para que não soubesse para onde seria levado. E, confesso, para que sofresse um pouco com a dúvida do que aconteceria. 

--- Conduzam-no à prisão ---, ordenei, voltando minha atenção para as luvas em minhas mãos.

Enquanto os itzans destruíam a guilhotina e queimavam seus destroços em uma fogueira, os revolucionários magos de luz proferiam insultos ao serem conduzidos.

Este era o cenário recorrente. O povo argian frequentemente se considerava superior, enquanto nós, os habitantes de Senka, crescíamos em número e poder bélico. Nosso povo havia ressurgido das cinzas da guerra contra Aruna, silenciosamente, pois éramos os esquecidos do Criador.

Senka se tornou um reino sem divindade, pois conforme sentiam que eram rejeitados pelo Criador diante de tanta humilhação, os itzans preferiram negar sua existência.

Eu, porém, jamais poderia fazê-lo, porque o conhecia. Portanto, preferia acreditar que éramos apenas os filhos menos queridos, deserdados por nosso próprio orgulho. Não era como se eu não conhecesse a perversidade da minha própria família.

Quando eu tinha quatorze anos, morri pela primeira vez. Eu estava cavalgando sozinho, fugindo do castelo sombrio, revoltado com meu pai, o rei de Senka. Eram tantos os motivos que eu sequer lembrava de qual havia sido a discussão naquele dia. 

Minha mente ainda era jovem, inexperiente e estava acelerada, cheia dos assuntos que não me diziam respeito. Por isso, não percebi exatamente quando a floresta foi substituída pelo lago congelado. 

Enquanto o cavalo deslizava suavemente sobre a superfície cristalina do gelo, o som dos cascos ressoava de forma suave, como uma melodia tranquila em meio ao cenário gélido que me rodeava.

A Coroa de Luz [COMPLETO]Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora