3: LEILÃO

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Não conseguia dormir. A revelação de Alissa ecoava em minha mente, e a ansiedade me mantinha alerta. Maria, ao meu lado, respirava suavemente, seu sono interrompido apenas pelo pesadelo que vivíamos. A luz da manhã começava a se infiltrar no quarto, pintando as paredes com tons de um novo dia que eu temia não ver.

― Maria, Maria, acorda ― sussurrei, tocando seu cabelo com delicadeza.

Ela se mexeu, abrindo os olhos lentamente.

― Precisamos tomar um banho, eles não podem desconfiar que ficamos a madrugada toda acordada ― disse, tentando manter a voz firme.

Nos levantamos, e o banho foi um ritual silencioso. As roupas que Vivian havia deixado eram modernas e bem ajustadas, como uma promessa de uma vida que não era nossa.

Quando a porta se abriu, Vivian apareceu com um sorriso caloroso, mas seus olhos... havia algo neles que eu não conseguia decifrar.

― Meninas. Que bom que já estão acordadas ― ela disse. ― Vem, só estamos esperando vocês para tomarmos café.

Seguimos Vivian por um corredor adornado com tapeçarias antigas, descendo uma escada secundária até uma sala de estar espaçosa. A lareira de mármore aquecia o ambiente, e uma estante de livros antigos se estendia do chão ao teto. A sala de jantar era imponente, com um afresco de anjos no teto e um candelabro de cristal.

― Aqui é onde faremos nossas refeições juntos ― explicou Vivian. Ela nos guiou até a sala de jantar, onde uma mesa longa e ornamentada nos aguardava. Ao lado dela, uma figura loira se destacava com uma aura quase angelical. Era Alissa, que nos observava com uma intensidade que me fez hesitar.

― Filha, essas são Maria e Merliah. E meninas, esta é Alissa, minha filha - Vivian nos apresentou com um gesto amplo em sua direção. ― Uma estudante exemplar e uma filha maravilhosa.

Alissa nos cumprimentou com um sorriso que parecia genuíno, mas seus olhos azuis me sondavam, buscando algo que eu não conseguia decifrar. Havia um apelo silencioso neles, uma urgência que ela parecia incapaz de expressar em voz alta.

― Prazer em conhecê-las ― disse ela, e sua voz doce carregava um peso que contradizia suas palavras leves.

Vivian continuou a falar, alheia à troca de olhares entre nós.

― Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem com ela.

Tenho certeza que não teremos tempo para isso, pensei.

O sorriso de Alissa permaneceu, mas agora havia um tremor quase imperceptível em sua expressão.

― Espero que gostem da comida - Alissa acrescentou, mudando o assunto para o café da manhã que estava sendo servido. ― Minha mãe preparou tudo com muito carinho.

O cheiro do café e do pão fresco era convidativo, mas eu sabia que cada movimento nosso era observado e que cada decisão que tomássemos poderia significar nossa liberdade ou nosso fim. Eu precisava manter a calma e jogar o jogo deles, pelo menos por enquanto.

Vivian caminhou até nós com uma expressão maternal que não chegava a tocar seus olhos. Ela segurava o frasco de comprimidos com uma delicadeza que contrastava com a tensão que eu sentia.

― Antes de comerem, preciso que tomem isso - disse ela, estendendo um comprimido para Maria e depois para mim.

Maria se sobressaltou na cadeira na mesma hora, e eu tive que pensar rápido quando percebi que Vivian e Tom pareciam desconfiados.

― Maria não gosta de remédios. Ela nunca toma ― falei, tentando parecer tranquila.

― O gosto... não é muito bom ― acrescentou Maria, com uma voz trêmula.

Cinzas Do PassadoOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz