4: Girl On Fire

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Os senhores na sala do leilão eram um abismo de luxo e decadência, onde o valor humano era medido em cifras e lances. O homem que me comprou, um símbolo vivo da opulência, exalava um perfume caro que misturava o aroma de madeiras nobres e um toque de bergamota. Seu terno era de um azul profundo, quase negro, com linhas que se ajustavam perfeitamente ao seu corpo, denunciando a exclusividade de seu alfaiate. O relógio em seu pulso não era apenas um acessório, mas uma declaração de poder.

Enquanto ele me arrastava pelos corredores ocultos daquele lugar, eu tentava desesperadamente manter Maria em meu campo de visão. Ela estava sendo levada à frente, e eu podia ver a silhueta de seu captor, um vulto ameaçador que se movia com uma segurança intimidadora. Comecei a me mover depressa. Eu precisava alcançá-la, precisava saber que ela estava bem.

Mas a mão do homem que me segurava apertou meu braço com força, e sua voz cortou o silêncio como uma lâmina quando ele me puxou para trás. Só então percebi que quebrei o meu disfarce e estava andando rapidamente.

— Você está sóbria? — A suspeita em sua voz era evidente, e eu senti o medo se espalhar por cada célula do meu corpo.

Eu não podia deixar que ele percebesse meu pânico, não podia dar-lhe a satisfação de ver meu desespero. Então, com uma coragem que eu não sabia que possuía, reuni toda a minha força e o empurrei. Ele tropeçou, surpreso com minha resistência, e aproveitei esse momento para correr.

Corri como nunca havia corrido antes, com o coração batendo tão forte que parecia querer escapar do peito. Mas então, ao virar o corredor, me deparei com o homem que tinha Maria sob seu controle. Ele apontou uma arma para mim, e suas palavras gelaram meu sangue.

— É melhor você ficar parada.

Eu estava paralisada, o medo me consumindo, enquanto olhava para Maria. Ela parecia distante, perdida em um mundo que eu não podia alcançar. Foi quando o homem que me comprou apareceu atrás de mim, e o outro gritou para ele:

— Cuide da sua mercadoria!

Ele me puxou de volta, lutei com todas as minhas forças para me soltar. Estava completamente perdida e assustada quando outro homem chegou. Ele era alto, com cabelos grisalhos penteados para trás e um terno elegante. Seus olhos eram penetrantes e seu olhar me deixou desconfortável.

― O que está acontecendo aqui? ― sua voz ressoou pela sala, fazendo todos se calarem por um instante.

― Esta garota está sóbria! Como vocês podem trazer uma garota sóbria para o leilão? ― disse o cara que segurava meu braço com firmeza.

O homem elegante olhou para mim e me analisou por um tempo, como se estivesse avaliando um objeto. Ele parecia ser o dono do leilão, tão rico e poderoso quanto os outros homens ao meu redor.

― O meu negócio é um negócio muito especial, com uma clientela muito especial. Descrição é a única regra que nós temos aqui ― ele disse, seu tom de voz autoritário e frio. ― E o único dever que você tem aqui é se comportar.

Então ele se virou para o homem que me segurava.

― Me desculpe, eu não sei como isso foi acontecer ― disse ele, suas palavras soando mais como uma repreensão do que como uma desculpa sincera.

Eu só queria fugir dali o mais rápido possível, longe daquele ambiente opressor e cruel. A sensação de estar ali como um objeto me revoltava, e eu ansiava por escapar daquela situação degradante e levar Maria comigo.

O homem que segurava Maria pareceu recuar um pouco, como se soubesse que tudo estava sob controle. Ele guardou a arma em sua cintura mais uma vez e se preparou para sair da sala.

Cinzas Do PassadoWhere stories live. Discover now