05 - I'm Better

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Depois do jantar, Ethan me ajudou a secar a louça enquanto eu a lavava. Ele era um menino excelente e parecia gostar da minha companhia, o que só aumentava o peso na minha consciência. Sabia que ele tinha medo de ficar sozinho, afinal, eu o tirei dos pais sem nem considerar o mal que poderia estar fazendo a essa criança doce, inocente e gentil.

Ethan não tinha conhecimento das verdadeiras intenções por trás do motivo de estarmos ali, e por isso, não me odiava como deveria. Ele acreditava que eu estava tentando ajudar, levando-o de volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído: os braços da mãe. Mas a verdade era bem diferente.

Sinceramente, não consigo entender como permiti que as coisas chegassem a este ponto. Houve um tempo em que era uma pessoa leal, com princípios sólidos. Jamais teria imaginado fazer algo tão terrível anos atrás, mas o luto parece ter o poder de transformar até mesmo os corações mais íntegros. Eu me transformei naquilo contra o qual jurei proteger o país.

E como se as coisas já não estivessem ruins o suficiente, o mundo estava infestado de zumbis sedentos por carne humana. Era como se fosse um karma, não havia outra explicação.

- Não consigo dormir. - a voz manhosa de Ethan rompeu o silêncio do quarto, que era iluminado apenas por uma vela, já que ele não gostava de dormir no escuro. Deitado de bruços na cama, ele virou a cabeça para me observar enquanto eu, deitada no chão, encarava o teto de madeira.

Meu olhar encontrou o dele, percebendo seus olhos marejados. Era de partir o coração.

Havia noites em que ele lidava melhor com isso, mas na maioria delas, o medo e a saudade dos pais eram tão intensos que ele nem conseguia fechar os olhos. Uma criança de cinco anos não deveria enfrentar dificuldades para dormir, não era justo.

Um suspiro culpado escapou dos meus lábios e me sentei no chão, ficando mais ou menos na altura dele. Estendi minha mão até seu rosto e o acariciei suavemente, recebendo um sorriso frágil em resposta.

- Você precisa descansar um pouco, senão como vamos brincar amanhã?- arqueei levemente a sobrancelha, tentando desviar seus pensamentos da tristeza que o consumia.

Os olhinhos de Ethan brilharam por um momento, como se ele considerasse a ideia, mas logo se nublaram novamente.

- Eu quero a mamãe. - sua voz saiu num tom tão choroso que parecia carregar o peso de todo o universo. Naquela hora, pude ver as lágrimas se formando em suas pestanas, prontas para deslizar por suas bochechas rosadas.

A imagem era comovente, uma mistura de inocência e dor infantil que cortava meu coração como uma faca afiada.

- Oh, querido... - ergui-me do chão e sentei ao seu lado na cama, e no mesmo instante ele se lançou para o meu colo, entrelaçando seus braços em meu pescoço e me abraçando com força enquanto chorava. Rodeei sua cintura com meus braços e o abracei de volta, sentindo toda a dor que eu estava causando nele.  - Nós vamos dar um jeito de você voltar para ela. - prometi com sinceridade, embora soubesse o quão difícil seria.

- A gente vai no lugar que a mamãe falou no rádio? - ele perguntou, afrouxando o abraço para me olhar nos olhos, lágrimas ainda escorrendo em suas bochechas.

Por alguns segundos, fui obrigada a permanecer em silêncio, confrontando a dura realidade. Não havia uma forma de chegar até lá sem ser vista por um dos homens da presidente. Ser identificada por qualquer um associado a ela seria como atirar na minha própria cabeça. Por mais que não tivesse mais nada a perder, não queria morrer, mesmo que uma parte de mim achasse que talvez merecesse.

- Eu vou pensar em um jeito melhor de vocês se reencontrarem, tá bom? Eu prometo. - Ele assentiu, apertando o abraço mais uma vez, antes de soltar-me. Segurou meu braço e puxou-me suavemente, pedindo silenciosamente para que me deitasse ao seu lado. Com uma mão apoiando minha própria cabeça, levei a outra até suas madeixas castanhas, acariciando delicadamente o local. - Quer ouvir uma história? - perguntei, tentando oferecer um pouco de conforto no meio da escuridão que o cercava.

Survivors ● |Norminah|G!P|Where stories live. Discover now