Loucura de Amor

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Ana Luísa

A semana passou bem rápido e finalmente chegou o dia da minha formatura! Acho que nunca estive tão ansiosa pra uma festa em toda a minha vida. 

Já estava no salão da minha mãe, eu tinha que estar no local até no máximo 18h30, pra conseguirmos tirar umas fotos com a turma, sozinhos e tal. Os convidados começariam a chegar a partir das 19h40 pra podermos tirar fotos com eles também e logo a cerimônia iria começar. Era 16h55 e a Victoria já estava comigo no salão fazendo minha maquiagem, enquanto minha mãe finalizava o seu próprio cabelo. Ela não tinha marcado atendimentos nesse sábado para o salão conseguir ficar unicamente pra nós aprontarmos. Íamos revezando os serviços para todas ficarem prontas com antecendência. Eu tinha um tempo maior pra me arrumar porque a Vic tinha pedido para o BH me levar mais cedo e depois ela ficaria com o carro dele para poder levar minha mãe e voltarmos para casa pós a festa.

Falando nos dois, estavam mais firmes do que nunca. Ela acabou contando pra minha mãe que estava ficando com ele, e minha mãe fez um único pedido pra ela: fazer ele ir pedir a mão da Vic em namoro lá em casa. E o pior de tudo é que ele realmente foi!

Os pais da Vic nunca foram de ligar muito pra ela, então também não queriam ficar sabendo da vida dela em nada. Por isso minha mãe fez questão de conhecer e saber se ele realmente era um bom rapaz pra ela. Mesmo ela não gostando muito da ideia dele ser envolvido, viu como o BH tratava ela e como os dois se olhavam. Mesmo não sendo da vontade de ambos de ter um relacionamento sério agora, os dois aceitaram muito bem o título e estão sendo pessoas incríveis um para o outro, o que me deixa extremamente feliz. Ver a Vic bem era minha prioridade, ela merece um amor tranquilo depois de nunca ter tido tranquilidade em casa.

Minha maquiagem contava com um olho marrom esfumado, um contorno bem marcado e uma boca vermelho sangue. Vic também posicionou os cílios postiços fazendo eles terem um destaque bem bonito, e também uma pele bem iluminada puxado pra um champanhe. Meus cabelos estavam enrolados nos bobs enquanto o iluminador corporal secava.

Vic: Pronto! Maquiagem finalizada, vou tirar uma fotos pra fazer a divulgação. - ela posicionou a ring light deixando meu rosto como foco central e começando as mídias.

Depois de um tempo, minha mãe veio finalizando meu cabelo enquanto a Vic começava sua própria maquiagem. O cabelo dela estava em um penteado com rabo de cavalo alto, e tinha uma trança que escondia o elástico que o prendia. Já minha mãe estava com o cabelo escovado, que era o único jeito que ela gostava. Nos meus, pedi que ela fizesse o penteado de tiara, que consiste em duas mechas presas por baixo de todo o cabelo, fazendo uma tiara natural, com as pontas todas enroladinhas.

Quando terminei de me arrumar, fui logo pondo meu vestido e acessórios, que em sua grande maioria eram pratas. Vic pausou a maquiagem da minha mãe para poder me ajudar a calçar meus saltos, que também eram prateados e tinha uma parte de amarração que ia até a metade da minha canela. Coloquei um bracelete um pouco acima do meu cotovelo, para dar um destaque maior.

Luzia: Você tá tão linda minha filha – Disse com lágrimas nos olhos e com um sorriso de orelha a orelha – Que orgulho eu tenho de você, você foi tão sonhada, tão planejada. Minha Analu, minha menina – Ela passava as mãos pelos meus braços, como quem queria ter certeza que não estava um sonho.

Olhei para o lado e vi Victoria já com lágrimas rolando pelo rosto todo, o nariz escorrendo e só vendo toda aquela cena. E isso era importante demais pra mim, as duas pessoas que eu mais amo na vida, presentes no dia da minha formatura. Levo minha mão até o meu escapulário, sentindo a presença do meu pai, e sabendo que naquele momento, ele também estava ali comigo.

Ana: Eu te amo mãe, eu amo vocês duas, mais que tudo, até mais que a mim mesma. – Abraço ela lentamente, querendo guardar cada resquício daquele dia na minha memória. Vic se junta a nós, murmurando que amava nós duas.

Vic: O BH tá lá embaixo te esperando irmã. A gente já se encontra pra te ver de beca. – disse com o sorriso mais lindo que já recebi dela, me acompanhando na escada para não me enrolar com o vestido.

Assim que chego na porta da recepção do salão, eu tenho um choque de realidade. Eu realmente estava me formando! Eu finalmente poderia dar uma vida melhor para a minha mãe, poderia ajudar a Vic, poderia me sentir maior de alguma forma. Eu sonhei tanto com esse momento que hoje, parece que estou com os olhos fechados prestes a levantar da cama a qualquer momento.

Vic: Eu amo você! E sou muito orgulhosa da mulher foda que você se tornou. Ver você realizando seus sonhos também fazem parte dos meus sonhos. E eu sabia que você iria conseguir. - Ela me olha com os olhos escorrendo, e passando as mãos pelos meus braços até chegar na pontinha dos meus dedos.

Ana: Obrigada por tudo irmã, eu te amo mais que qualquer coisa no mundo! - A abraço forte, torcendo para que aquele momento nunca acabe.

BH: Tá linda em cunha! - disse se fazendo presente - Podemos ir? Você vai se atrasar.

Assinto me afastando da Vic, onde ela promete novamente que jaja vai estar presente pra me prestigiar (ainda mais). Entro dentro do carro com a ajuda dos pombinhos e logo seguimos rumo ao salão de festas.

BH: Tá nervosa? - olha de relance pra mim antes de retomar a atenção para a estrada.

Ana: Pra falar a verdade? - ele assente com a cabeça - Um pouco - dou uma risada fraca. - Mas achei que seria pior. Sonhei tanto com esse momento que parece que estou anestesiada, vivendo uma realidade paralela.

BH: Tô pra te falar, antes de eu entrar nessa vida, meu sonho era ser veterinário - disse dando uma risada nasal. - Mas tu mais que ninguém sabe como é difícil ter sonhos vivendo dentro da favela. - olho para ele, onde consigo sentir uma dor ao contar a história. - Meu pai era alcoólatra, chegava bebado em casa todo santo dia. Além de tudo, trabalhava e não dava um real pra minha coroa. Sou o único homem de 5 filhos. Cresci vendo minhas irmãs sem ter um absorvente em casa. Ele pagava as contas básicas e o resto minha mãe tinha que se virar - o semblante dele fecha um pouco mais. - Teve um dia que minha mãe não aguentou mais. Pegou o rumo dela pra uma cidade no interior de São Paulo, junto com as minhas irmãs. Antes de ir, se despediu de mim com um beijo no rosto e me pediu desculpas por não conseguir me levar junto. Ela disse que não conseguia manter uma criança pequena enquanto todas estariam trabalhando. Desde então vivi com o meu pai, quer dizer, vivi até onde eu aguentei. Sai de casa com 14 anos, foi onde conheci o MK, conheci a família dele. Eles me deram todo o apoio possível, já entrei em um cargo considerado alto lá dentro. Sei que não era o que eles sonhavam pra gente, mas foi o que sobrou, quer dizer, o pai do MK não tinha escolha a não ser passar o cargo pra ele, e vendo minha situação, foi a única forma de me ajudar.

Ana: E hoje em dia, você pensa em retomar os estudos e se formar no teu sonho de infância?

BH: Doutora, se eu te falar que eu não gosto da vida que eu levo, vou tá mentindo pra tu - disse coçando a cabeça enquanto surgia um sorriso de lado no seu rosto. - Já me acostumei com essa rotina doida, e não abandonaria meus parceiros por nada nesse mundo. Não quero o mesmo pro meu filho, mas pra mim tá sussa. Consegui um cargo bom, recebo uma grana boa e gosto da adrenalina. Não tenho do que reclamar.

Ana: Você fala isso porque não tem família, mas e quando tu casar, tu vai ter esse mermo pensamento?

BH: Só se envolve quem sabe o que tá sujeito a passar - disse olhando nos meus olhos. - Qualquer uma que se envolve com alguém dessa vida sabe os riscos que corre. Por isso te falo doutora, não quero o mesmo pro meu filho, e se eu puder fazer de tudo pra evitar, tudo farei. Mas vai me dizer que tu não gosta de uma aventura? - disse dando uma risadinha, me deixando pensativa.

É BH, gosto de uma aventura até demais...