Capítulo 6

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— Ei, hora de acordar, doçura.
Ainda estava escuro quando Trisha acordou e o corpo de Slade não estava pressionado mais ao seu lado. Uma mão pegou a sua e começou a levantá-la. Grunhiu baixo e levantou, ainda grogue. Não tinha certeza de quanto tinha dormido, mas não foi nem de perto o bastante.
— Ande uns dez passos nessa direção e vá fazer suas coisas. — Ele soltou sua mão e a virou.
— Minhas coisas?
— Xixi matinal — explicou ele. — Vá logo. Eu já usei a árvore dos meninos.
— Não consigo enxergar nada.
— Então que bom que esteja lhe indicando uma direção onde não vá dar de cara com algo. Acorde, Doutora. Falta mais ou menos uma hora para amanhecer. Precisamos colocar mais distância entre nós e eles. Eu já subi em uma árvore num lugar mais alto e vi que eles deixaram a fogueira apagar, mas ainda consigo sentir o cheiro da fumaça. Eles estão por lá. Quando estiver claro vai ser mais fácil nos encontrar. É por isso que temos que ir andando.
— Tá. — suspirou. — Acho que não tem nada para comer, não é?
— Desculpe, mas não.
Assentiu e deu um passo quando Slade a liberou. Caminhou uns dez metros antes de parar e descer a calça. Tinha que urinar, mas lhe levou um minuto para relaxar o bastante para se agachar. Não estava nem um pouco acordada. Mataria por um café gelado e até por um pedaço de pão comum. Seu estômago grunhiu quando pensou em comida. Não tinha comido nada desde o café da manhã do dia anterior.
Fechou a calça e voltou para a direção de Slade. Ouviu uma risada à direita antes de mãos segurá-la.
— Por aqui. Está indo na direção errada. Não é muito fã das manhãs, é?
— Não. Não sou.
— Acho que é uma daquelas mulheres que preferem ficar na cama e desligar o botão do alarme várias e várias vezes até o último minuto.
— O que tem de errado com isso? Eu fiquei desacostumada desde que deixei de dar plantões no hospital para trabalhar em Homeland. Eu durmo muito mais e não posso dizer que lamento esse fato.
Ele riu.
— Nenhum alarme vai tocar hoje.
— É. Só vamos correr um pouco para salvar a nossa pele.
— Isso é um bom resumo. — Ele respirou fundo. — Acha que consegue caminhar um pouco?
— Estou me sentindo melhor. Dolorida, mas melhor.
— Está dolorida do acidente ou por minha causa?
— Não fique se gabando. — Sorriu Trisha. — Você é enorme, mas ainda consigo andar muito bem.
— Pronta para ir, docinho?
— Claro, pirulito. — Sorriu, virando a cabeça para que ele não pudesse ver.
— Pirulito? — Ele quase soou insultado.
— Porque eu sinto vontade de lamber você. — respondeu docemente.
Ele urrou e agarrou seu braço.
— Só está dizendo isso porque sabe que temos que ir.
— Tem certeza?
— Vamos.
— Vá na frente.
Trisha não conseguia ver nada. Slade segurava firmemente seu braço, avisando-a quando passar por cima de alguma coisa pelo caminho. Ela tropeçou algumas vezes. Slade parou depois da quarta vez que ela quase caiu.
—Vou carregar você até amanhecer. Estamos indo devagar demais.
— Desculpe. — Falava sério. Ele poderia ir bem mais rápido se não estivesse com ele, sabendo muito bem que representava um perigo à sua sobrevivência.
— Sem problemas. Sei que tem suas limitações já que é apenas humana. — Sua voz estava cheia de graça.
Trisha levantou a outra mão e lhe estirou o dedo do meio.
— Consegue ver isso?
— Talvez depois, Doutora. Vou entender como uma oferta. Vou me virar para que suba nas minhas costas e aqui está a bolsa. Se eu tenho que te carregar, você tem que carregá-la. — Ele cuidadosamente colocou a alça da bolsa por cima da sua cabeça e debaixo do braço para que descansasse em suas costas. Moveu-se até que soube que a esperava à sua frente. Ele se agachou e ela subiu nas suas costas.
Ele a levantou quando agarrou seus ombros e começou a andar.
Finalmente, amanheceu e Trisha conseguia ver.
— Me coloque no chão.
Ele parou e soltou seus joelhos para que Trisha deslizasse. Estavam em uma funda ravina que se perdia de vista. Olhou para cima para os dois lados.
— Vamos ter que escalar se isso não acabar em algum lugar perto.
Olhos azuis escuros encontraram os seus.
— Esperei até que conseguisse ver, mas precisamos escalar agora. Quero sair daqui. É bom para levá-la nas costas, mas estamos melhor mais acima.
Tinha que abrir a boca, ela pensou, mas assentiu.
— Depois de você.
Ele sacudiu a cabeça.
— Você vai primeiro. Quero poder te segurar se cair.
Aquilo fazia sentido. Respirou fundo. Slade apontou e Trisha assentiu, virou-se e viu bastante arbusto dos dois lados. Agarrou uma raiz e começou a subir. O solo era rochoso em alguns lugares, mas ela continuou achando onde segurar-se na vegetação. Slade estava bem atrás dela. Seu pé deslizou uma vez e ele agarrou o calcanhar do seu sapato, impedindo-a de deslizar. Ela virou a cabeça.
— Obrigada.
— Continue subindo, docinho.
— Certo, pirulito.
— Pare com isso.
— Assim que você parar.
Voltou sua atenção para a subida e continuou escalando. Suas mãos doíam, mas tentou ignorar isso, sabendo que suas vidas estavam em jogo. A luz ficou mais forte conforme o sol subia e o ar frio se tornou uma manhã quente e cheia de sol, fazendo com que Trisha suasse. Sabia que seu alívio se mostrava quando alcançaram o topo e ela grunhiu.
Sentia como se tivessem escalado o dia todo. Uma mão de repente agarrou a parte de trás da sua calça e a puxou. Trisha ofegou quando caiu de joelhos. Slade se agachou do seu lado.
— Fique abaixada. — ordenou, olhando-a de forma irritada. — Estamos num lugar mais alto, mas fácil de ver, e seu cabelo loiro é muito visível.
— Desculpe. Esse negócio não é o meu forte.
— Infelizmente, é o meu. Descanse, fique abaixada, e quieta. Vou inspecionar a área.
— Claro. Faça isso. — Estava exausta quando simplesmente se deitou no chão, sem ligar quando ficou cheia de terra. Colocou o braço debaixo da cabeça. — Não vou me mexer.
Slade bufou.
— Mulheres.
— Homens.
— Convencida.
— Imbecil.
— Doutora, pare com isso.
— Enquanto estiver inspecionando será que poderia achar uma cafeteria e me trazer um café mocha gelado, podia? Talvez um brioche? Ou um donut?
Dentes brilharam quando ele sorriu de repente.
— Vou fazer o possível.
Trisha o viu partir. Ele ia abaixado. Ela estudou o céu, decidindo que ficaria bem quente quando o sol nascesse completamente. Podia sentir. Sentou alguns minutos depois e olhou ao redor com cuidado, vendo sulcos mais abaixo. Estavam mesmo em um lugar alto. Voltou a se deitar, esperando que Justice North tivesse mandado a Guarda Nacional resgatá-los. Queria um banho quente, roupas limpas, e comida. Bocejou.
Nao tinha dormido o suficiente. Era uma profissional em tirar cochilos de gato. Tinha feito isso desde a faculdade de medicina. Ser uma interna podia ser uma existência sem sono. Tinha aprendido a dormir sob condições extremas. Só esperava que o treinamento a ajudasse a sobreviver a tão pouco sono e ao ritmo cansativo que precisavam manter para ficarem à frente dos homens que os caçavam.
* * * * *
— Não faça nenhum som. — Algo cutucou com força o estômago de Trisha.
Seus olhos se abriram e ela encarou com medo o homem cabeludo usando roupas militares à sua frente. Sua arma empurrou mais em sua cintura, cutucando seu estômago, e seus pés estavam plantados um de cada lado dela. Ela olhou diretamente entre suas pernas abertas e não pôde deixar de notar que ele tinha um rasgo na calça que revelava um pouco de uma cueca vermelha.
— Cadê o animal?
Trisha encontrou o olhar do homem e seu coração começou a martelar de terror. Ele falava de Slade.
Obviamente os homens que tinham tentado matá-los eram anti-Novas Espécies. Respirou fundo, aterrorizada. Ele atiraria em suas tripas se apertasse o gatilho e aquela seria uma morte horrível. Se disparasse, esperava que atingisse artérias mais importantes para que fizesse com que morresse mais rápido. Com a arma pressionada em sua pele naquele ângulo, viu que o buraco que o tiro faria a mataria rapidamente.
— É surda, vadia? Cadê o homem-animal?
— Ele me abandonou. — mentiu. — Eu o atrasava demais.
O homem olhou seus seios com cobiça.
— Porra de animais burros. Eu teria ao menos fodido você primeiro. Levante devagar. Você é a médica, certo?
Conseguiu assentir apesar do choque de que soubesse alguma coisa a seu respeito.
— Sou a Doutora Trisha Norbit.
— É uma veterinária ou uma médica de verdade?
— Eu sou…
— Não importa — ele a interrompeu. — Levante o seu traseiro. Um dos meus garotos está ferido e é o seu dia de sorte. Normalmente matamos traidores do nosso país, mas preciso de você. Acho que não importa que tipo de médica seja contando que saiba colocar um osso no lugar e costurar a pele.
Traidores do país? Ficou de boca aberta. O cara obviamente era um fanático.
Ótimo. Ela sentou quando ele tirou a arma alguns centímetros e deu outro passo para trás. Levantou-se cuidadosamente e levantou os braços.
— Tem alguma arma além das suas tetas?
— Minhas… — Gaguejou e o olhou com raiva. — Não.
O homem mudou a posição da arma, deixou-a aninhada debaixo do braço, mas com a mira nela.
— Levante a sua camisa devagar e me mostre que não tem uma arma presa na calça.
Ela o fez, levantando a camisa até as costelas e virando devagar até que ele pudesse ver que não estava armada. Encontrou seu olhar quando tinha feito um círculo. Custou-lhe muito controle para não dar uma olhada em volta e ver se podia avistar Slade, mas não ousou. Rezou para que tivesse visto o homem armado e não voltasse para onde estava.
— Vamos. Bill? Tom? Ainda estão me dando cobertura?
— Sim, senhor. — um homem disse da esquerda.
— Com toda certeza, Sully. — A voz falou da direita.
Trisha olhou em volta, mas não viu ninguém além do homem armado à sua frente. Ele sorriu, revelando dentes amarelados e tortos.
— Alguns dos meus garotos estão comigo. Normalmente andamos em grupos de quatro. Será a última coisa que o animal vai fazer se ele decidir te salvar. Não vai voltar por sua causa, a não ser que sinta uma coceirinha no pau.
Trisha se impediu de entortar a boca de nojo. Ele era o mais baixo dos homens, em sua opinião. Pelo som de sua voz e pelas coisas que dizia, honestamente pensava muito mal de Slade. Ele nem o conhecia e tinha que ser seu preconceito contra todos os Novas Espécies que falava. Podia ser um idiota, mas infelizmente tinha uma arma apontada para ela.
— Ande.
Um plano se formou em sua mente. Ela deu um passo e mancou com dificuldade, arrastando o pé, e fazendo uma bela careta. O homem com a arma disse palavrões que a fizeram estremecer.
— Está ferida? Maldição! — Ele rugiu as palavras.
Trisha teve que resistir sorrir do idiota. Ele se preocupou que fizesse barulho, mas tinha acabado de gritar. Slade com certeza teria ouvido aquilo. Inferno, qualquer um a uma milha o ouviu, supôs. Mordeu o lábio com força e o observou quando parou de mancar.
— Aconteceu quando vocês bateram no carro.
Ele parecia furioso.
— Tom? Venha aqui.
Tom provavelmente nunca tinha se barbeado pela aparência de sua pele rosada e ele tinha o corpo magro de um pré-adolescente. Era quase tão baixo quanto Trisha. Segurava um revólver e uma faca enorme que estava presa em sua roupa de camuflagem, fazendo-o parecer um garoto de doze anos fantasiado de soldado no Dia das Bruxas. As linhas finas perto de sua boca eram os únicos sinais que entregavam sua verdadeira idade, colocando-o no começo dos vinte.
— Sim, senhor? — A voz de Tom saiu anormalmente rouca, provavelmente algo feito de propósito para soar mais masculina. Olhos verdes se fixaram em Trisha, desceram para os seus seios, e foi lá que sua atenção permaneceu.
Queria cruzar os braços por cima deles, mas tinha medo de se mexer e ser atingida. O imbecil a secava. Olhou-o com raiva, mas ele não parecia se importar já que provavelmente não tinha notado sua fúria. Não estava olhando para o seu rosto. Para isso teria que parar de fitar os seus seios.
— A que distância Pat está?
— Uma milha, Senhor. — Tom lambeu os lábios e esfregou a mão livre na coxa. — Essa é a amante do animal, Senhor? Aposto que ela trepou com ele.
— Cale a boca. — ordenou o homem no comando. — Dê uma olhada nela. Ela é linda. Não é uma baranga qualquer que não conseguiria encontrar homens de verdade como nós. Pegue o rádio e diga a ele que estamos indo devagar com ela, porque ela está mancando.
Tom finalmente tirou a atenção dos seios de Trisha para olhar o homem mais velho.
— Claro, Sully. — Tom não parecia nem um pouco feliz quando desapareceu no meio do denso arbusto.
— Vamos.
Trisha se lembrou dos seus nomes. Sully. Tom. Bill. Podia identificar dois deles até o momento se vivesse tempo suficiente para alcançar as autoridades. Realmente os queria presos.
Concentrou-se nesse plano silencioso enquanto foi andando devagar, propositalmente arrastou os pés, e fez uma cena de uma dor inexistente. Se os atrasasse isso daria a Slade mais tempo para escapar. Ele poderia ir atrás de ajuda e mandar a polícia atrás dela.
Passaram a maior parte do caminho descendo. Ela tropeçou algumas vezes, mas Sully nunca levantou um dedo para ajudá-la. Ele mantinha a arma presa nela, seguia atrás de perto, e não dizia uma palavra. Trisha supôs que se Slade não lhe conseguisse ajuda ela provavelmente não ficaria viva por muito mais tempo depois que costurasse o cara ferido. Provavelmente atirariam nela do jeito que fizeram com Bart quando não tivesse mais serventia.
Eles finalmente saíram da parte mais arborizada e ela avistou uma clareira com uma barraca montada e os restos frescos de uma pequena fogueira. Trisha sentiu cheiro de comida e o seu estômago roncou. Um bule de café estava em cima das cinzas da fogueira que haviam feito com pedras formando um círculo. Trisha fez uma pausa, virou a cabeça e encontrou os olhos castanhos cor de lama de Sully.
— Ele está dentro da barraca, então meta o seu traseiro lá e o ajude. Pat, chegamos e a doutora está entrando. Não estoure os miolos dela antes que ela possa tratá-lo.
Trisha mancou em direção à barraca, mas quase gritou de uma dor de verdade quando agarram seu cabelo por trás e puxaram seu corpo. Ela tropeçou e caiu de joelhos, forçando Sully a soltá-la. Lágrimas a cegaram por segundos quando segurou a cabeça, supondo que ele arrancou parte do seu cabelo. Ela olhou para Sully em choque quando conseguiu vê-lo por entre as lágrimas.
Ele tinha a arma apontada para a barraca.
— Pat? Responda agora.
Trisha voltou a atenção para a barraca quando ninguém respondeu. A porta estava fechada com zíper. Sully inclinou-se para frente e se abaixou. Ele abriu a barraca e pulou para trás, a arma apontada para dentro quando se afastou um pouco mais.
— Pat? Responda agora!
Silêncio.
— Bill? Tom? Respondam agora! — rugiu Sully.
— Aqui, senhor. — gritou Tom. Ele saiu da floreta a uns vinte pés de onde Trisha e Sully estavam. Outro homens, nos seus quarenta anos, careca, com uma barriga de chope, saiu da floresta até a clareira. Trisha supôs que aquele era Bill. Ele assentiu para Sully. Os três homens franziram o cenho em direção à barraca. Sully assentiu para Tom e sacudiu a cabeça para a barraca, mantendo a mira na abertura.
Tom se aproximou, enfiou a arma no coldre do ombro, e abriu o botão da bainha da enorme faca de caça em sua coxa. Agarrou-a com firmeza e se agachou do lado da tenda. Com a mão esquerda abriu um zíper de um puxão, abrindo para espiar dentro.
— Ele não está aqui. — arfou Tom.
— Não falou com ele pelo rádio? — Sully parecia fulo.
— Não, senhor. Ele não respondeu. Eu achei que ele poderia estar dormindo ou cagando. Ele ainda não consegue andar muito bem mesmo com o braço todo quebrado.
Sully se virou para apontar a arma para Trisha.
— Quando o animal a abandonou?
Ela engoliu a saliva.
— Ele foi embora à noite. Eu dormi com ele, mas quando acordei bem antes do sol nascer ele tinha me abandonado.
— Ele está longe daqui. — Bill tinha uma voz grossa com um sotaque que era texano ou talvez sulista. Era difícil de saber. — Assim que deixasse de carregá-la correria como o vento. Eles andam rápido, Sully. Ele provavelmente está a umas dez milhas no momento. Mas outra equipe vai pegá-lo, com certeza.
— Filho da puta. — Sully baixou a arma que levava. — Vamos nos espalhar e encontrar Pat. Acham que ele está delirando por aí? Estava com febre hoje de manhã.
Bill assentiu.
— Pode ser. Eu lhe disse que um de nós devia ficar com ele. Saímos desde o anoitecer e ele pode ter andado bastante. Um de nós terá que ficar com a mulher e ela pode cuidar dele quando o encontrarmos.
— Devíamos tê-lo levado. — murmurou Tom. — Eu disse que ele podia morrer. E se ele acabou se matando por aí?
— Eu não vou dispensar aquela recompensa de cinquenta mil porque Pat é um idiota que não sabe para onde vai. — O tom de Sully ficou brusco.
Bill assentiu e fitou Trisha onde ela estava, sentada no chão.
— Eu fico com a mulher enquanto vocês dois se dividem e procuram Pat. Eu acho que ele iria descer mais já que é mais fácil de andar assim. Talvez tenha entrado em pânico e esteja atrás de outra equipe, achando que alguém vá manda-lo embora ou talvez achou que pudesse chegar até a estrada para pedir carona.
— Porra! — Gritou Sully. — Por que não nos esquecemos dele, matamos a vadia, e vamos atrás do nosso animal? Eu quero aquela recompensa por um desses animais bastardos.
Trisha ficou quieta, mas vacilou de choque. Alguém tinha colocado um prêmio de cinquenta mil na cabeça de Slade? Quem faria isso? Por quê? Engoliu em seco. Esperava que esquecessem que existia. Odiava Sully por querer matá-la logo de cara.
— Você esquece — suspirou Bill — que Pat é o filho de Thomas. Se não encontrarmos aquele retardado, ele nunca vai nos dar dinheiro algum por um daqueles bastardos. Precisamos manter a mulher viva até que ela possa costurá-lo. Temos que achar o idiota e capturar o animal.
O animal está usando as ravinas e vai manter esse padrão. Vamos chegar nele rodeando o caminho. Olhe quanta distância fechamos com isso.
— Mas ele tinha a vadia atrasando-o. — Sully apertou os dentes e soltou um palavrão. — Ok. Vamos fazer isso. Bill e eu vamos nos dividir. Você vai em direção da estrada caso Pat tenha ido para lá. Eu irei atrás do animal e verei se consigo pegá-lo. Com sorte ele vai continuar lento e eu consiga chegar nele por cima. Tom pode ficar aqui com a vadia.
Bill sacudiu a cabeça.
— Olhe para o imbecil. Ele não consegue parar de olhar os peitos dela.
Trisha virou a cabeça para Tom. Ele estava de pé segurando a faca, olhando de boca aberta para os seus seios de novo. Ele sorriu.
— Ficarei feliz de ficar com ela.
— Viu? — praguejou Bill. — Queremos ela viva, imbecil. Eu ficarei com a mulher enquanto vocês dois se dividem e procuram. Tom, vá na direção da estrada.
— Tudo bem. — concordou Sully, fechando a cara para Tom. — É melhor que ache o idiota. Eu vou subir pelo oeste para chegar no animal mais rápido.
— Mas eu quero ficar com ela. — Tom não estava feliz e isso se mostrava em seu protesto estridente.
Sully engatilhou a arma.
— Isso não foi uma recusa de cumprir uma ordem, foi? Eu odeio porra de chorões. Seu pai não é o com o dinheiro nisso e ninguém dá a mínima se levar uma bala no traseiro.
O rosto de bebê de Tom se encheu de medo. Ele sacudiu a cabeça vigorosamente.
— Estou indo agora.
Trisha observou Sully e Tom juntar mantimentos e então os dois foram em direções diferentes. Isso deixava Bill para vigiá-la. Trisha estudou o homem que a encarava. Ele suspirou alto.
— Com fome? Sede?
— Por favor. — pediu Trisha baixo.
Bill foi até a barraca e voltou rapidamente. Trouxe uma soda e um saco ziplock com algum tipo de sanduiche dentro. Bill parou alguns centímetros dela.
— Pegue.
Ela estendeu as mãos. Ele lhe jogou a soda com cuidado. Trisha a pegou e a colocou no chão próximo aos joelhos. Estendeu as mãos de novo e ele jogou o sanduíche. Ela lhe deu um olhar grato.
— Muito obrigada.
— Cale a boca. — ordenou ele. — Eu odeio quando conheço coisas que tenho que matar depois. Só coma e fique calada.
Trisha odiava sanduíche de manteiga de amendoim, mas não reclamou enquanto mastigava. Estava morrendo de fome para se importar com o que comia. Abriu a tampa da soda e tomou vários goles. Tentou não esfarelar o sanduíche.
Sabia que Bill tinha sentado no chão a alguns metros dela e silenciosamente observava cada movimento seu. Terminou o sanduíche e tentou salvar o resto da soda.
Não queria beber tudo em caso de Bill não ser tão generoso depois.

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora