Capítulo 12

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Trisha tinha suspeitado que Bart morreria, teve certeza disso quando ouvira os disparos, mas ouvir as palavras do que fizeram com ele a destruiu por dentro. O rosto dele apareceu em sua lembrança, o quanto estava com medo, e ele era só um garoto. Um com uma mãe que se preocupava com ele a ponto de querer que fosse a um veterinário tomar vacinas contra doenças de animais.
— Jesus — ofegou Trisha. — Na virilha?
Justice hesitou.
— O que fizeram foi terrível e cruel. Uma coisa é matar um homem a sangue frio, mas outra é castrá-lo antes da morte.
Seu estômago revirou um pouco.
— Castrar?
— Eles usaram uma arma de cano duplo à queima roupa. O legista nos disse que eles devem ter colado na virilha dele na posição certa antes de apertar o gatilho. Aqueles bastardos são os animais e ainda assim têm problemas conosco. Espécies nunca seriam tão desumanos assim.
Trisha ficou de pé de forma vacilante.
— Preciso de um banho. Sei que você tem perguntas, mas eu estou cansada, morrendo de fome e suja. — Ela mordeu o lábio e estremeceu de dor, esquecendo-se de como estava dolorido. Encontrou os olhos de Justice quando se levantou. — Provavelmente vou chorar também. Eu não fui estuprada, eu juro. Slade impediu meu agressor antes que ele conseguisse. Estou grata que se importe com o meu bem estar, mas a minha vida sexual é algo pessoal. Entretanto, eu tenho um favor para pedir.
— Qualquer coisa.
— Quando ouvir sobre Slade, não me importa que horas sejam, por favor, mande alguém me ligar para me dizer. Ele salvou a minha vida lá varias vezes. Não acho que vou descansar bem até saber o que aconteceu com ele.
— Vou pedir para Brass ficar aqui. Vou mandar que lhe tragam comida, ela estará aqui te aguardando assim que sair do chuveiro. Juro que quando souber de algo, ligo para Brass e peço para que lhe passe a informação. Vamos falar sobre o que aconteceu amanhã.
— Brass vai ficar aqui?
Justice assentiu.
— Sim. É só uma precaução. Parece que alguns dos imbecis morreram. Alguns deles estão bem fulos que eles tenham morrido ao invés de matado. Você terá proteção vinte e quatro horas até sentirmos que não há mais ameaça. Você já está familiarizada com Brass e já sofreu traumas demais. Ele vai ficar com o primeiro turno. Quero-o dentro da sua casa. Ele pode ficar no sofá se for aceitável. Estará aqui para receber a comida e passará toda informação que eu conseguir para você.
— Mas estamos em Homeland e é seguro aqui. Aqueles otários não podem passar pelos portões e alcançar a minha casa. Tenho certeza que...
— Alguém os informou sobre os nossos movimentos. — Justice a cortou. — Eles sabiam a rota que tínhamos planejado para o seu carro, o que nos diz que têm informações daqui de dentro. Só os nossos times de segurança humanos sabiam para onde estávamos indo, de que horas, e como chegaríamos lá. Você terá oficiais Novas Espécies para protegê-la vinte e quatro horas por dia até nos certificarmos que está segura e isso não vai acontecer até que a pessoa responsável seja encontrada. — Ele respirou fundo. — Eu tenho que ir, mas a comida chegará logo. Coma e durma.
Ficou chocada que alguém trabalhando em Homeland tivesse traído os Novas Espécies, mas acreditava em Justice e em sua expressão fechada.
— Não precisa me mandar comida. Eu posso fazer um sanduíche.
— Não. Você precisa de uma boa comida quente e caseira. Eu vou mandar trazerem agora. Eles vão lhe trazer alguns pratos. Vejo você de manhã. Ligue-me quando acordar.
— Obrigada. Por favor, não se esqueça de me contatar sobre Slade.
— Eu juro que não esqueço. Assim que eu souber, você fica sabendo. — Ele deixou a porta da frente aberta e Trisha o ouviu falar baixo com os homens lá fora.
Ela caminhou devagar até o quarto e pegou uma calça grande de malha confortável e uma enorme camiseta. Foi até o banheiro. Deu uma olhada no espelho e sentiu vontade de explodir em lágrimas. Parecia com algo que um gato tinha arrastado pelo quintal antes de jogar fora e achar outra coisa para estraçalhar.
Tinha um hematoma da orelha até abaixo da mandíbula que percorria centímetros de seu rosto. Seu lábio estava altamente inchado do lado onde a pele havia se partido. Estava vermelho e rechonchudo.
Seu cabelo loiro comprido estava sujo e emaranhado de um jeito que não dava para consertar. Acima de tudo isso, a terra cobria sua pele em uma fina camada.
As roupas que usava estavam na mesma situação. Ela as tirou e estremeceu mais com os machucados nos pulsos, onde tinha sido presa à árvore. Tinha mais deles nas costas, quadril e omoplatas do capotamento do carro e avistou outro hematoma enorme na coxa advindo do acidente. Sabia que tinha uma aparência terrível.
Trisha foi para debaixo do jato d’água e ficou lá parada por muito tempo, até começar a lavar sua pele machucada bem cuidadosamente. Doía apesar dos remédios. As lágrimas começaram a cair com força até ela sentar no chão do banheiro e cobrir o rosto com as mãos. Sabia que sua vida tinha mudado para sempre. Dois homens estavam mortos e ela tinha tirado suas vidas. Como poderia voltar a ser a pessoa que um dia foi? Não via nenhum modo.
Uma batida leve na porta finalmente fez Trisha parar de chorar.
— Eu saio em um minuto.
— Precisa de ajuda? — Reconheceu a voz de Brass. — Está a salvo comigo, Dra. Norbit. — Ele pausou. — Estou entrando.
Merda. Ela tentou se levantar, mas seu corpo se recusou a obedecer. Tinha o boxe para esconder seu corpo, mas ele era de vidro fosco. Conseguiu ver o contorno de Brass dentro do banheiro quando ele veio em sua direção.
— Dra. Norbit?
— Eu sentei e agora estou meio que presa. — admitiu. Odiava ser tão fraca assim e estar com tanta dor. — Eu vou levantar eventualmente, quando estiver me sentindo melhor. Você podia me jogar uma toalha? — Ela fechou o chuveiro. — Por favor?
Uma toalha enorme caiu por cima do boxe. Trisha a pegou e usou para se cobrir o máximo possível. Dois segundos depois Brass a chocou quando abriu a porta do boxe.
— Não vou olhá-la como mulher. Permita-me ajudar, Dra. Norbit. Eu nunca a machucaria de forma alguma. — Ele se abaixou, estendendo as mãos para ela. Suas mãos agarraram com cuidado suas costelas e a levantaram com gentileza. — Vamos colocá-la na cama. A comida chegou e eu também vou lhe dar mais um analgésico.
Humilhava-a um pouco saber que precisava da ajuda. Não lutou quando o homem enorme a guiou para fora do chuveiro. Seu braço a mantinha de pé e ela precisava do apoio. Agarrou a toalha em volta da frente do corpo, mas não havia como evitar suas costas ficarem completamente nuas. Trisha sabia que seu rosto devia estar da cor de um flamingo. Brass de repente agarrou sua toalha e a tirou de suas mãos.
Trisha ficou de queixo caído. Sua atenção foi para o homem segurando a toalha. Ele manteve o olhar preso ao dela. Soltou o seu braço e abriu a toalha para passá-la em volta do seu corpo e prendê-la firmemente antes de segurá-la outra vez. Simplesmente a colocou em seus braços fortes e gentilmente a colocou em cima da bancada da pia. Brass se virou, pegou outra toalha e sem uma palavra começou a secar seu cabelo.
— Obrigada.
Brass assentiu.
— Você foi muito forte. Para alguém tão pequeno, tem meu inteiro respeito, Dra. Norbit. Foi muito durona, mas agora é hora de deixar outra pessoa tomar conta de você.
— Por favor, me chame de Trisha.
Ele lhe sorriu.
— Eu vou pegá-la de novo agora que o seu cabelo não vai ensopar a cama e colocar você nela. Eu vejo que tem pijamas, mas eu já sofri suficientes machucados para lhe prevenir que vai ficar melhor sem nada enquanto se cura. Pronto.
Ele jogou a toalha de seu cabelo na pia e a levantou nos braços.
Brass a carregou com gentileza para fora do banheiro até a cama onde alguém já havia tirado os cobertores. Brass a colocou no colchão e removeu os braços de sua volta. Estendeu as mãos e fechou os olhos.
— Vou levar a toalha molhada para o banheiro e pendurá-la enquanto se cobre.
Trisha passou a toalha e trouxe o cobertor para o peito. Viu Brass voltar ao banheiro onde ficou por alguns minutos, limpando-o. Então ele saiu, desligou a luz atrás de si, e lhe deu um aceno antes de desaparecer do quarto. Ele voltou imediatamente, empurrando um carrinho de comida com três andares de vários pratos cobertos. Trisha ficou de boca aberta.
— Não pode ser tudo pra mim.
Ele deu de ombros.
— Justice não sabia o que você queria comer então ele pediu que preparassem seis pratos. O Conselho tem um chefe de cozinha pessoal. Justice ligou pedindo comida quando soube que estava chegando. Também tem sobremesas. De novo, ele não sabia o que você comeria, então ele fez com que mandassem várias.
Brass removeu uma enorme bandeja. Ele a colocou em cima do colo de Trisha e sorriu.
— Eu vou abrir as bandejas para mostrar suas opções.
— Vai me ajudar a comer tudo isso, certo?
Brass riu.
— Estava esperando que perguntasse. Estou morrendo de fome.
O estômago de Trisha roncou alto. Ela corou quando Brass riu de novo. Ele obviamente tinha ouvido. Ele começou a tirar as tampas enquanto listava a comida que foi preparada. Não tocou nas sobremesas.
— Vou ficar com a costela bovina e com o filé. Tudo bem?
Ele sorriu.
— Tudo bem. Fico feliz que não queira as de porco. Eu as vi e me deu água na boca. Está com fome, não está?
— Morrendo.
Brass colocou os dois pratos na bandeja de servir. Ele deixou o quarto e voltou minutos depois com alguns refrigerantes. Trisha pegou um com sabor de cereja. Mantinha três sabores diferentes na geladeira. Brass hesitou.
— Eu vou comer na sala. Chame se precisar de alguma coisa. — Ele pegou o prato com as costelas de porco.
— Pode sentar ali. — Ela apontou para a cadeira ao lado da cama. O criado-mudo não tinha nada em cima, então ele teria uma mesa onde comer. — Eu ia ligar a televisão. Desculpa não ter uma na sala. Eu planejava comprar algumas coisas para a casa, mas ainda não fiz nada. Pode ficar aqui e assistir e eu ainda lhe dou o controle se prometer que não vai colocar em canais de história nem de esportes.
Ele riu.
— Você escolhe o canal. — Brass sentou e colocou o prato no criado-mudo.
Ele abriu uma das latas.
— Obrigado. O que está planejando mudar? É uma linda casa.
— Eu odeio essa cama e quero transformar o quarto extra em um escritório. — Ela apontou para o canto, onde tinha uma escrivaninha montada. — Não quero o escritório no quarto. Preciso relaxar aqui e toda vez que eu olho pra ela, só consigo pensar em trabalho.
Brass voltou o olhar para ela.
— Qual é o problema com a cama? Eu gosto de camas grandes de colunas e essa parece bem firme.
— É grande demais. Eu me sinto como se tivesse cinco anos de idade toda vez que tenho que subir nisso aqui, e eu realmente preciso subir, quase escalar. — Olhou para o chão. — Vê aquele banquinho. — Deu de ombros.
Brass deu uma olhada para baixo e começou a rir. Ele tentou parar, mas parecia entretido demais para esconder.
— Você é pequena, em defesa da cama. É alguns centímetros mais baixa do que o normal para uma mulher.
— É, eu sei. — Ela cortou o filé e colocou o pedaço na boca. Gemeu. — Que delícia.
Brass engasgou com o refrigerante. Trisha virou a cabeça para vê-lo olhando para ela e batendo no peito.
— Tudo bem?
— Ótimo. — Ele assentiu. — Acho que com base nesse som que fez esteja gostando e que o chefe do Conselho vale o salário que lhe pagam?
— Ele vale cada centavo. — Ela cortou o filé e pôs na boca. Gemeu outra vez e sorriu. — Perfeito. Delicioso. Quase derrete na minha boca.
Brass a fitou.
— Quer experimentar um pouco? As porções são enormes.
— Não, obrigado. É tudo seu. Eu adoro as costelas. Posso cair de boca naquele rosbife depois que comer isso se não o quiser. Nós costumamos comer bastante.
— Fique à vontade. Nunca vou terminar tudo isso.
Eles comeram. Trisha encontrou um filme de ação que os dois concordaram em assistir. Brass conseguiu comer três pratos e ainda encontrou espaço onde enfiar a sobremesa. Ele lhe deu dois analgésicos. Em algum momento durante o filme ela caiu no sono.
* * * * *
— Trisha?
Ela acordou se sentindo confusa. Olhou para Brass, vendo seu rosto a poucos centímetros do dele no quarto pouco iluminado. Piscou para ele, deixando a memória voltar.
Ele estava em sua casa para protegê-la. Ele lhe sorriu.
— Aquelas drogas a derrubaram mesmo. Estou tentando te acordar a alguns minutos. Acabei de receber notícias de Slade.
Essas palavras afastaram todo o sono e ela tentou se sentar. Brass de repente a impediu. Suas mãos seguraram gentilmente seus ombros e ele sorriu.
— Cuidado com as cobertas, Trisha. Quase mostrou os seios. — Ele a soltou.
Merda. Tinha esquecido que não estava usando roupas. Agarrou o cobertor para mantê-lo no lugar.
— Desculpa. Ele está bem?
— Está ótimo. Estão trazendo ele agora aqui para Homeland. Ele cruzou com um dos nossos times a uns vinte minutos atrás. Ele foi baleado, mas foi só um ferimento superficial. Estão levando-o ao hospital para darem uma olhada, mas ele deve voltar para cá em algumas horas.
Lágrimas se amontoaram e ela as piscou ao ouvir as notícias de que Slade estava a salvo e vivo somente com um ferimento superficial. Tinha sido baleado. Tudo foi se registrando. Tinha visto em primeira mão como os Novas Espécies podiam ser durões e o quanto se curavam rápido. Não estava muito preocupada de o ferimento ter alguma gravidade se o esperavam de volta a Homeland tão em breve.
— Obrigada.
— Volte a dormir. Odiei ter que acordá-la, mas Justice disse que queria ficar sabendo ao mesmo tempo que ele. Tenho certeza que Slade virá aqui assim que voltar para checar pessoalmente como você está. Descanse. Precisa disso.
— Obrigada. — Sorriu para ele. — Pode dizer a Justice que eu agradeço por tudo?
— Claro. — Brass se afastou para voltar à sala.
Trisha estudou o quarto. Brass tinha fechado as persianas, mas uma luz fraca passava entre elas. Deu uma olhada no relógio, surpresa ao perceber que eram seis e cinco da manhã. Rolou na cama e os remédios fizeram com que caísse novamente no sono.
Slade está a salvo.
* * * * *
Slade não queria sentar na cadeira nem mesmo estar presente na reunião. Precisava ir até Trisha. Não se sentiria realmente calmo até que pudesse olhar nos seus olhos, inalar seu cheiro e abraçá-la. Planejava fazer bem mais que isso assim que a tocasse, mas se recusava a deixar que esses pensamentos fluíssem já que todos os machos amontoados no escritório de Justice sentiriam o cheiro da sua excitação.
— Estou muito feliz que esteja a salvo. — Justice sentou na beira da mesa, o olhar varrendo os quinze oficiais estufados na sala ou sentados ou de pé, e suspirou audivelmente. — Temos respostas. Os imbecis responsáveis por isso falaram com a polícia. Eu acabei de ter uma conferência pelo telefone com o detetive responsável pelo caso.
— Eles nos odeiam — declarou Tiger. — É por isso que fizeram isso. É por isso que viemos sendo atacados no passado e pela mesma razão eles farão o mesmo de novo.
Fury rugiu de sua posição, próximo à porta fechada, onde se inclinava contra a parede.
— Toda vez que acreditamos que a ameaça diminui, alguma coisa acontece.
— Calma — exigiu Justice, encontrando cada olhar. — É porque contratamos a médica e ficaram sabendo.
Choque enrijeceu a espinha de Slade.
— Por que se importariam especificamente com ela?
— Ela fez uma residência de dois anos em ginecologia. — Justice correu os dedos pelo cabelo solto. — Alguém imprimiu o currículo dela nos jornais. Aqueles imbecis meteram na cabeça que é por isso que a contratamos. — Ele se concentrou em Fury. — Eles acreditam que ela está aqui para ajudar a descobrir porque não podemos ter filhos. Eu dei uma declaração de que foi seus anos na emergência de traumas o fator decisivo para que a escolhêssemos ao invés dos outros interessados. Eu temo que eles não acreditaram na verdade. Estão certos de que estamos tentando achar um jeito de você engravidar sua companheira, Fury.
Ele rosnou.
— Ellie e eu não somos cobaias. Não tomamos nenhuma decisão ao respeito disso. Queremos um filho, mas nós dois sabemos que não vale a pena a agonia de permitir que médicos destruam as nossas vidas com as coletas de sangue, as seringas e os exames.
— Eu sei disso. — Justice mudou de posição na mesa. — Se Mercile não foi capaz de descobrir o que deu errado, tenho certeza de que não há como solucionar o problema. Eles tinham especialistas em fertilidade quase matando as nossas fêmeas de tanta tortura. Somos simplesmente inaptos a isso. Eu não teria contratado a Dra. Norbit por esse propósito mesmo se alguém estivesse disposto a se voluntariar para fazer os testes. Teria contratado outra pessoa que lidasse unicamente com esse campo da medicina.
— Eles colocaram um preço na minha cabeça. — Falou Slade.
— Foi assim que eles conseguiram fazer com que a maioria daqueles otários fossem atrás dela. — Justice encontrou os olhos de Slade. — Você era o incentivo para matá-la e eles ofereceram dinheiro também para o homem que levasse o seu corpo até o homem que os contratou. Eles sabem que é só uma questão de tempo antes que morramos de velhice e já que somos estéreis, estão confortados pelo fato de que os Espécies não vão vingar. — Raiva engrossava sua voz. — A ideia de estarmos com mulheres humanas também os deixam putos.
— Odeio humanos. — Flame resmungou. — Machos. Ele olhou se desculpando na direção de Fury. — As fêmeas são doces. Sua Ellie é uma mulher maravilhosa. Não desejo mal a ela, mas aqueles machos me enfurecem.
— Nem todos eles — corrigiu Fury. — Só aqueles que nos odeiam.
— A questão é — continuou Justice — a ideia de nós termos outra mulher humana em Homeland, uma médica, atiçou a fúria deles. Eu considerei contratar outra pessoa para substituir a Dra. Norbit, mas eu acredito que ela seja uma aquisição valiosa para nós. Ela é uma boa médica que pode lidar com qualquer coisa, como já vimos. — Ele encontrou o olhar de Fury. — Ela salvou sua vida. Ela não nos vê com maldade. Confio nela e isso vale a irritação adicional de nos fazer um alvo ainda maior por causa da experiência que ela possui. — Ele saiu da mesa. — Ainda bem que ela nunca ficou com nenhum dos nossos homens. Isso realmente deixaria aqueles lunáticos no extremo.
Slade ficou tenso e sua boca abriu. Antes que ele pudesse falar, Brass falou.
— Ela pode ficar com algum de nós. Ela é uma fêmea muito atraente.
— Qualquer homem que se importe com ela evitaria fazer isso — alertou Flame.
— Verdade — concordou Justice.
Flame falou de novo.
— Estamos tentando abrir um outro lar para o nosso povo. Vamos precisar que ela viaje com frequência para nos ajudar a instalar a unidade médica de lá e toda vez que ela sair pelos portões vai ser como pintar um alvo nas suas costas. Inferno, não podemos nem confiar nos humanos que trabalham aqui em Homeland. Alguém passou a agenda de viagem dela e a rota precisa. Temos Brass e Wager protegendo-a vinte e quatro horas. Não tem como os grupos hostis de humanos não a tornarem um alvo principal. Ela estaria correndo tanto perigo quanto Justice corre se ficasse com um dos nossos. Só faria que eles quisessem matá-la ainda mais do que já querem. Ela estaria nos mantendo vivos se precisássemos de um médico e estaria dormindo com um de nós. Eles entenderiam que ela faria da correção do nosso problema de fertilidade uma prioridade já que assumiriam que a maioria das mulheres deseja ter filhos.
Um medo gelado agarrou o coração de Slade. Justice recebia ameaças de morte diariamente. Tinha que ter uma equipe de segurança seguindo-o por todo canto. Ser o líder de sua gente o colocava em uma posição mortal. Só podia se misturar livremente com humanos confiáveis contados a dedo e mesmo assim havia um risco.
Trisha era a médica de Homeland que tratava qualquer humano que precisasse de sua ajuda. O traidor poderia simplesmente cortar a mão e ter acesso direto a ela. Ela morreria antes que alguém conseguisse alcançá-la, mesmo com seguranças por perto. Os homens que pertenciam àqueles grupos hostis eram insanos. Ele não tinha dúvida de que um deles aceitaria uma missão suicida para acabar com o inimigo. O inimigo seria a sua Trisha. E eles morreriam se tocassem nela.
— Verdade. — Justice sacudiu a cabeça. — É bom que nenhum dos nossos machos esteja interessado nela. Eu teria que despedi-la e contratar outro médico. Ela teria que ser tão protegida quanto Ellie. Ellie pode trabalhar com as nossas fêmeas porque elas não representam ameaça a ela.
Os olhos de Slade se fecharam e a dor dentro do seu peito se tornou mais aguda, uma agonia quase parecida com uma facada. Trisha amava o seu trabalho, ser uma médica era o que ela era, do mesmo jeito que ele era Nova Espécie. Isso não poderia mudar e tentar seria uma tarefa impossível.
Ela o odiaria se fizesse com que escolhesse a ele ao invés da vida que levava. Ficaria ressentida com o tempo. Ele nem tinha certeza se ela se importa o bastante com ele para sequer tentar se inclinar em sua direção se lhe fosse oferecida uma escolha.
— Vamos ter que apertar a segurança. Dra. Norbit terá proteção vinte e quatro horas até a ameaça diminuir. Precisamos achar o traidor. Com o tempo esses imbecis vão perceber que nada vai nos ajudar a procriar e eles vão parar de temer que nos reproduzamos e viverão do sonho de eventualmente nos ver morrer.
Justice continuou falando, mas Slade parou de ouvir. Ficar com Trisha poderia causar sua morte. Isso a colocaria em um perigo extremo. Ele controlou as emoções, com medo de que alguém conseguisse sentir sua dor forte, e sabia que lamentaria depois, sozinho. Não podia colocá-la num risco daqueles nem acabar com sua vida. Ela significava muito para ele.

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora