Capítulo 15

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— Valiant?
Slade estava tão furioso que via tudo em vermelho. Estava de pé no portão da casa que tinha sido dada a Valiant. Ouviu uma porta bater e segundos depois um Valiant quase nu desceu casualmente os degraus da entrada da casa para se aproximar do portão.
— Slade. Por que está aqui? Podia ter ligado se precisava de alguma coisa.
— O que estava fazendo? — Slade abriu o portão e entrou. Estava pronto para brigar se Valiant ficasse puto com ele entrando no seu pátio sem permissão. — Me disseram que não machucou a mulher, mas eu juro por Deus que se tivesse, eu o mataria com as minhas próprias mãos. Não tinha por que ir atrás dela. — urrou.
Valiant cruzou os baços.
— Eu senti o cheiro de um humano. Aquela cabana não fica muito longe e eu fiquei irritado. Justice disse que nenhum humano era permitido por aqui.
— Bem, você passou por cima de dois dos nossos para alcançá-la, então sabia muito bem que ela tinha razões para estar aqui. Aquela cabana não fica no seu território pessoal. Não tinha autoridade para atacar nossa gente.
Valiant deu de ombros, dizendo nada.
— Eu mato você se chegar perto dela outra vez — ameaçou Slade com um rosnado. — Estamos claros? Eu sei que você é amigo de Tiger, mas maldição, não vou permitir que machuque aquela mulher. Fique longe dela e não se aproxime novamente. Entendeu-me? Não toque em um fio de cabelo dela.
— Não vou me aproximar dela. Já discuti isso com Brass. Ela é uma de nós no que me diz respeito.
Slade olhou para Valiant com raiva, levemente confuso pela declaração dele.
— Ela não é uma de nós, mas é uma ótima amiga dos Espécies. Ela trabalha para nós. Justice e eu confiamos nela.
— Ela é uma de nós agora, não é? Eu senti o cheiro dela pessoalmente. Ela foi muito corajosa e nem sequer gritou quando eu cheirei sua barriga.
— Você o quê? — Explodiu Slade. — Ficou perto assim dela? Tocou nela? — Avançou.
Valiant rugiu e se agachou.
— Pare ou nós vamos brigar.
Slade parou sua abordagem enfurecida, mas quase se sacudiu de fúria.
— Tocou nela?
— Eu mantive minha palavra a Brass e não a machuquei. Queria sentir o cheiro dela quando ele me deu a notícia, porque não acreditei nele. Os dois concordaram em me deixar me aproximar dela. Não foi um ataque.
— Ele permitiu que tocasse nela?
Slade encheria Brass de porrada quando fosse à sua próxima parada, a cabana. Valiant era instável e qualquer um com um cérebro não deveria deixá-lo se aproximar de Trisha. Se ele tivesse lá, teria matado o enorme Espécie por ao menos tentar.
— Eu não acreditei que ela estava grávida. Agora sei que está.
O choque rasgou Slade ao meio.
— O quê?
Valiant se levantou lentamente.
— Grávida. Ninguém lhe disse? A mulher está esperando um bebê. É por isso que Brass a trouxe para cá, para que ficasse a salvo... dos humanos.
A raiva fluiu para fora de Slade dando lugar a uma dor no peito. Trisha está grávida? Parecia que seus joelhos iriam ceder. Seu coração começou a martelar e a raiva começou a retornar. Ela está grávida! Uma onda de emoções o inundou, a maior parte homicidas, ao pensar que algum cara tinha tocado o que era seu. A ideia de qualquer um fazendo isso quase o deixou à beira da loucura.
— Justice ordenou que a trouxessem aqui para protegê-la de sua gente. Justice acha que quando os humanos descobrirem que ela está esperando um bebê que é uma mistura estre espécies vão querer lhe fazer mal. Eu tenho que concordar com ele. Humanos são instáveis e hostis por razões estúpidas. Tem algo no cheiro dela que a torna diferente. Deve ser o bebê dentro dela, mudando a química de seu corpo.
— O pai é um Nova Espécie? Tem certeza? — Slade cuspiu as palavras, sua amargura e raiva crescendo a passos largos.
— Cheire-a você mesmo. Seu cheiro é diferente. Humano e levemente nosso, mas o suficiente para eu ter certeza. Eu cheirei mulheres humanas grávidas quando os militares mandou um monte delas para nos levar comidas e suprimentos. Eles sabiam que não iríamos machucá-las se invadissem o território que nos deram. Nada é mais indefeso do que uma fêmea grávida. Eu conheço bem o cheiro de uma, mas essa cheira diferente. Não consegui detectar uma diferença até colocar meu nariz em sua pele. Deve ser porque sua gravidez ainda é recente. Quando os meses se passarem provavelmente vai ficar mais fácil de notar à distância.
Slade saiu em disparada dos portões em direção ao seu Jipe. Sua raiva não conhecia limites. Alguém devia ter lhe dito que Trisha tinha sido enviada para a Reserva porque carregava um bebê Nova Espécie. O motor do Jipe roncou e Slade pisou fundo. Os pneus cantaram em protesto, mas ele não se importou com o barulho. Agora as coisas faziam bem mais sentido. Estava louco de ódio.
* * * * *
— Alguém vem e rápido — gritou Moon em alerta. — É um dos nossos Jipes.
Brass deitou as cartas e sorriu para Trisha.
— Já estava na hora de mandarem o que pedimos. — Ele deu uma olhada no relógio. — Na verdade estão adiantados meia hora do que disseram que chegariam ao telefone.
— Estou morrendo de fome, tomara que tenham mandado comida.
— Tenho certeza que sim. — Harley lhe piscou. — Uma mamãe grávida tem que comer muita porcaria. Eu peço uma se eles mandarem alguma barra de chocolate. Eu amo aquelas coisas.
— Eu sou a grávida. — riu Trisha. — Isso quer dizer que eu tenho o direito a reivindicar qualquer coisa primeiro.
— Malvada — Harley estirou a língua, pôs as cartas na mesa e se levantou. — É melhor ajudar a trazer as coisas. Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido vamos poder ver o que mandaram.
— É Slade — gritou Moon segundos depois. — Está vindo bem rápido mesmo.
— Merda — suspirou Brass da porta. — Ele está puto. Consigo ver os dentes dele daqui.
— Por quê? — Trisha se encheu de confusão. — Não foi culpa nossa Valiant ter atacado.
Brass se virou.
— É melhor você subir, Trisha. Acho que as coisas vão ficar feias.
Trisha franziu o cenho e se levantou do sofá, caminhando até a porta ao invés do sugerido. Ela tirou Brass do caminho com o braço e saiu na varanda para ver o Jipe de Slade dar uma freada ao lado da cabana. Slade deixou marcas de pneus ao brecar.
Não precisava ter os sentidos elevados para sentir o cheiro de borracha queimada quando Slade desligou o motor do carro e pulou do assento do motorista. Ele chegou até Moon primeiro e rosnou para ele.
— Saia do caminho.
Moon não se moveu.
— Algum problema?
Slade se arremessou. Ele agarrou Moon pela camisa e o empurrou com força, para longe do seu caminho, e avançou. O medo cresceu instantaneamente em Trisha depois de perceber que Slade parecia mais que fulo. Ela de fato recuou e bateu na parede da cabana próxima a entrada. Brass se levantou repentinamente, indo até a entrada, e encontrou Slade de frente.
— Permitiu que Valiat tocasse nela? — gritou Slade. — Ele é instável e poderia tê-la matado. — Slade esmurrou Brass na cara com o punho.
Brass caiu de bunda no chão. Ele urrou e tentou se levantar, mas Slade se virou, dado um chute no peito dele. O chute derrubou Brass deitado na grama. Slade rosnou, mostrando os dentes, quando Harley se aproximou dele.
— Fique fora disso a não ser que também queira apanhar. Isso é entre nós.
Harley parou, levantou as mãos e recuou.
— Ok.
— Pare — exigiu Trisha. Ela tentou correr pela escadinha para alcançar Brass, preocupada que estivesse machucado gravemente, mas Harley segurou o seu braço para impedir que saísse da varanda.
— Fique de fora — ordenou Harley baixo. Ele fechou os braços gentilmente em volta da cintura de Trisha. — Pode se machucar. Às vezes nossos machos brigam para aliviar o estresse. Isso é uma questão de domínio e não devemos interferir.
Trisha estava perplexa. Aquilo não era são e com certeza não era algo que queria assistir. Eles precisavam parar. Alguém podia acabar se ferindo. Porém, Harley se recusava a soltá-la quando lutou.
Brass ficou de pé. Ele rugiu e jogou o corpo em cima de Slade. Em horror, Trisha observou os homens se enfrentarem. Nunca tinha visto uma briga de Novas Espécies antes. Parecia uma combinação entre uma briga de cães e uma luta sem regras de kickboxing. Ficou claro em minutos que Slade lutava melhor. Ele esmurrou Brass no rosto e deu um chute que o jogou no chão de bruços. Brass grunhiu, mas não levantou. Slade ofegava, obviamente ainda enfurecido.
— Achou que podia protegê-la? — Rosnou Slade. — Não consegue nem protegê-la de mim.
Brass levantou a cabeça, parecendo um pouco zonzo, e sangue manchava sua boca. Ele virou a cabeça para olhar Slade com raiva.
— Alguém tinha que tentar protegê-la.
— Bem, você não pode. — Slade marchou em direção à cabana. Moon tinha rodeado os lutadores até ficar de guarda na base dos poucos degraus, bloqueando o caminho de Slade até Trisha. Harley de repente soltou Trisha e pulou os degraus para ficar ao lado de Moon. Os dois pareciam tensos.
— Saiam da frente — rosnou Slade, parando a poucos centímetros dos dois.
— Por quê? Você está com raiva e não está agindo com a razão. — Harley manteve o tom de voz calmo.
— Você machucou Brass por estar puto com Valiant. Não sabíamos que ele estava aqui ou Brass teria ido falar com ele antes que ele farejasse um humano. Você é um dos nossos melhores lutadores e sabe que conseguiria vencer Brass sozinho. Podia vencer nós dois também, individualmente. Sabemos disso. Mas vai ter que passar por cima de nós dois ao mesmo tempo se o que deseja é perturbar Trisha. Sua briga não é com ela.
O olhar azulado escuro de Slade se prendeu ao de Trisha. Ele ofegava muito e parecia tão enfurecido que a assustava. Nunca achou que ficaria com medo de Slade, especialmente depois do tempo que passaram a sós na floresta, mas estava errada. Estava apavorada.
— Eu sabia que estava mais atraída por Justice do que admitia para mim. Eu não teria te evitado se soubesse que estava tão ávida para ter um macho Espécie em sua cama. Achei que estava te protegendo — urrou Slade. — Estar com um de nós a põe em perigo. Você passou por coisa demais e eu não queria que ficasse comigo por gratidão por ter salvado sua vida. Eu sabia que só o tempo poderia nos dar uma chance. — Ele sacudiu a cabeça. — Poderia matá-la. Eu lhe disse que você era minha. Minha! — rosnou. — Pode ficar aqui e ter o seu bastardo, mas é melhor que nunca a veja de novo. Você não tem permissão para deixar a cabana enquanto Justice esconde você e o seu filho adorado debaixo do meu nariz.
Slade se virou e foi embora. Trisha travou os joelhos para que não caísse na varanda. Slade achava que estava grávida de Justice? Seu queixo caiu.
— Slade?
Ele a ignorou completamente, como se nem tivesse falado, e pulou dentro do Jipe.
— Slade? — Elevou a voz.
Ele virou a cabeça e uma raiva pura apareceu em suas feições.
— Você está morta para mim, Doutora. Nunca mais diga o meu nome outra vez. Eu me arrependo de algum dia ter lhe dirigido a palavra e queria que nunca tivesse te tocado.
O Jipe rugiu e ele engatou a marcha ré.
— Slade? Precisa me escutar — gritou Trisha. — O bebê não é de Justice!
Ele pisou no freio e virou a cabeça para trás, entortando o lábio.
— Brass? Devia ter escolhido alguém mais forte, Doutora. Eu acabei com ele sem nem suar. Mas eu aposto que ele grita o seu nome, não grita?
Trisha conseguiu dar um passo e se segurar na cerca da varanda para continuar de pé. Estava enlouquecida de raiva agora.
— Também não é dele. É seu, seu filho da puta estúpido! — Gritou a informação para ele. — Pode ser capaz de dar uma surra em Brass, mas ao menos ele está aqui para mim. Ele nunca me abandonou quando eu mais precisei dele e não mente para mim jurando que vai voltar e ao invés disso foge como se fosse um grandessíssimo covarde do jeito que você fez. E esse bastardo que você se refere, é um ótimo jeito de chamar o próprio filho. Odeio você.
Ela viu a expressão dele mudar quando emoções cruzaram suas feições em rápida velocidade. Raiva, choque, e finalmente ele empalideceu antes de sua expressão voltar para aquela de fúria. Ele desligou o Jipe e desceu do veículo. Seus traços ficaram inescrutáveis quando ele veio em sua direção. Brass conseguiu voltar a se levantar e se colocou vacilante no caminho dele.
— Não.
Slade rosnou para ele.
— Saia da frente.
— Não faça isso — pediu Brass baixinho. — Quer angustiá-la a ponto de fazer com que perca o bebê? Ela já passou por muita coisa.
Slade olhou para Trisha.
— O bebê é mesmo meu?
— Não quer dizer o bastardo? Vá para o inferno, Slade. Sim, o bebê é seu no sentido biológico. Em todos os outros ele é meu e só meu. Mas não se preocupe. Nas últimas semanas eu aprendi exatamente o que esperar de você, então fique longe de mim do jeito que tem feito. Eu esperei uma semana para que ligasse ou viesse me ver. Quando não veio eu ainda fiquei esperando outra semana. Então você aceitou esse trabalho e nem sequer teve a decência de me dizer que estava indo embora. Simplesmente foi. Eu o odeio por isso, realmente odeio, e nunca vou te perdoar. Você mentiu para mim e simplesmente me descartou. Bem, eu também posso fazer isso. Deixe-me em paz e pare de bater nos meus amigos, porque eles se importam de verdade comigo. — Ela respirou com dificuldade, lutando contra a vontade de chorar. — Eles não me fazem chorar. Não me abandonam nem partem o meu coração.
Ela virou e correu para dentro da casa, em direção a escada. Mal conseguiu chegar ao banheiro antes de vomitar. Quando acabou, lavou o rosto, escovou os dentes, e finalmente teve a coragem de abrir a porta. Estava com medo de que Slade quisesse confrontá-la de novo, mas era Moon quem estava sentado na beira da cama.
Slade ficou no pátio em absoluto choque. Um bebê. Não era possível. Espécies não podiam engravidar fêmeas. Tinham garantido isso. Mercile tentou e muito. Mas Trisha não mentiria para ele. Sabia que não o enganaria com algo tão importante assim.
— Feliz, agora? — Brass cuspiu grama, varrendo a terra com a mão. — Você a deixou nervosa.
Slade fulminou o outro macho.
— Eu não sabia.
— Não estava presente para descobrir. Não ficou perto dela desde que ela foi resgatada. Foi nessa época que cruzou com ela?
Trisha está esperando meu filho. Ele tentou permitir que seu cérebro ainda chocado absorvesse a notícia.
— Você a teve e a abandonou. Eu já ouvi muitas coisas estúpidas antes, mas essa foi a pior. Pode ser capaz de me derrotar em uma briga, mas nunca entre numa luta de inteligências comigo. Eu acabaria com você — disse Brass antes de disparar em direção ao lado da cabana, atrás da mangueira de água.
Slade ficou ali se sentindo entorpecido, fitando a casa. Queria ir atrás dela, falar com ela, e teria até implorado o seu perdão pelas palavras duras que tinha dito, mas nem sabia por onde começar. Tinha chamado o seu filho de bastardo.
Por que eu sempre fodo tudo perto dela? Maldição! Baixou o queixo até o peito e se encheu de dor. Ele era o seu pior inimigo. Toda vez que abria a boca parecia afastar ainda mais a mulher que amava dizendo algo que a magoava.
Virou-se, tropeçando até o Jipe, sabendo que precisava se acalmar e pensar. Tinha que descobrir um jeito de consertar as coisas. Pulou no banco do motorista, mas suas mãos hesitaram. Não queria deixá-la. Não podia. Deixou a mão cair, mas depois alcançou outra vez a chave. Raiva e dor o dominavam. Não conseguia fazer nada direito quando se dizia respeito a Trisha. Talvez não a merecesse, mas a queria tanto que isso o fazia sentir um gosto amargo ante o prospecto de perdê-la para sempre.
Ligou o motor e foi embora devagar, mas voltaria. Tomaria um banho, trocaria as roupas e se acalmaria. Pensaria claramente e encontraria um modo de consertar aquela bagunça que o seu temperamento e o seu ciúme tinha criado.
Um filho. Trisha vai ter um filho meu. Um sentimento prazeroso se espalhou pelo seu peito.
* * * * *
— Ele já foi. — Moon lhe estudou. — Você está bem?
— Fiquei fora de controle.
Ele assentiu.
— Eu vi e ouvi.
— Como Brass está?
— Harley está lá fora, dando um banho de mangueira nele, mas ele vai ficar bem. Seu orgulho sofreu mais ao ser surrado, mas Slade é mesmo um dos nossos melhores lutadores. Eu disse a Brass que não havia vergonha em apanhar do melhor. Só deveria haver vergonha se você perdesse de alguém mais fraco.
— Eu peço desculpas por isso ter acontecido. — Trisha enxugou as lágrimas.
Moon ficou de pé e se aproximou lentamente dela.
— Não é culpa sua. Slade mereceu as suas palavras. Ele transou com você e desapareceu depois. Isso é vergonhoso para ele, não para você. Você é um dom, Trisha. Qualquer homem seria sortudo se você gostasse dele e permitisse que a tocasse do jeito que ele tocou, mas ele jogou isso fora. Foi estupidez dele fazer isso. Deite e descanse. Os suprimentos chegaram tem alguns minutos e já, já, vamos trazer o seu jantar. Pense no seu bebê e não se preocupe com Slade nem com nada mais. Vamos cuidar de você. Tenho certeza que assim que Slade se tranquilizar ele vai voltar e conversar com você com calma. Fizemos que ele visse a razão em deixá-la até que se acalme. Ele não queria, mas o cérebro dele começou a funcionar outra vez. Acho que ele foi um filho da puta em agir com tanto ciúme, acreditando que você havia permitido que outra pessoa a tocasse. Ele não seria um imbecil tão grande assim se não se importasse com você e ele deve se importar muito já que foi um dos maiores que eu já vi.
Trisha não protestou quando Moon a cobriu depois que ela se deitou e depois deu um beijo em sua testa. Trisha lhe sorriu.
— Obrigada. Estou impressionada, a propósito.
— Com o quê?
— Acho que foi a primeira vez que eu o ouvi falar tanto de uma vez.
Moon sorriu antes de descer a escada. Trisha tentou relaxar. Não foi fácil.
Ainda estava angustiada com o que tinha acontecido.
Bem, Slade sabe sobre o nosso filho agora. Tinha cumprido o pedido de Justice e tinha sido um desastre. Lutou contra as lágrimas. Não sonhou nem em um milhão de anos que acabaria gritando a notícia da paternidade de um homem cujo bebê ela esperava e tinha chamado nomes feios com ele, para completar. Simplesmente… uma merda!
Moon estava certo? Slade tinha sido extremamente imbecil. Se ele não ligasse não teria reagido tão violentamente à notícia da sua gravidez. Tinha realmente doído quando ele assumiu instantaneamente que tinha dormido com Justice. Talvez ele achasse que saía dormindo com vários homens regularmente. Não a conhecia nem um pouco se esse era o caso.
O negócio todo do “minha” permanecia colado dentro da sua cabeça. Ele disse que era sua quando tinha atacado Bill no acampamento onde quase havia sido estuprada. Então quando saíram ele tinha lhe gritado que ela sabia que era dele, mas se era assim que a considerava, por que a abandonou? Ele disse algo sobre protegê-la e isso ficou muito confuso quando tentou entender o que queria dizer. Ele quis lhe dar tempo?
Tinha dito que só o tempo poderia dar uma chance aos dois ou algo parecido com isso. Tempo para quê? Para que eu me sentisse usada e estúpida em pensar que algo com algum significado tinha acontecido entre nós?
Ela ouviu os degraus rangerem pouco tempo depois e enxugou as lágrimas. Harley subiu as escadas carregando um copo de leite e um pouco de comida consigo. Dava para ver uma colher dentro de uma tigela.
— Eu trouxe leite para o bebê e sopa para o seu estômago irritado. Moon me disse que vomitou o suficiente para perder toda sua última refeição. Eu trago biscoitos com gotas de chocolate se conseguir segurar tudo isso. Eles mandaram um saco enorme deles. Eu disse para os rapazes que deixassem ao menos um para você.
Trisha sorriu e sentou.
— Só um?
— Talvez dois. Está comendo por dois agora.
Harley lhe sorriu.
— Tenha cuidado com isso. Está quente. Não quero que se queime.
Trisha o fitou com gratidão.
— Obrigada por ser meu amigo.
— Amigo? Eu pensei que podíamos fugir para Vegas e ter um Elvis nos casando. — Seu olhar brilhava enquanto brincava. — Eu já tinha bolado tudo. Podíamos comprar um cachorro sarnento, um velho trailer enferrujado, e achar algum entulho para morarmos perto. Ouvi falar que é um ótimo lugar para se encontrar mobília.
Ele levantou o tecido da camisa de cima do braço e expôs seus grossos bíceps.
— Eu tinha escolhido um lugar aqui para tatuar o seu nome e achei que podia tatuar o meu na bunda. Desse jeito eu poderia dizer de fato que aquela parte era minha.
Trisha riu. Moon subiu a escada e sentou na beira da cama segurando um prato com alguns pedaços de torrada amanteigada. Ele o colocou na cama perto de Trisha para que pudesse alcança-lo com facilidade.
— Não é só no traseiro que vai querer colocar o seu nome, Harley. Vai tatuar no seu braço para que quando ela esquecer o seu nome, esteja visível para lembrar. Todos sabemos que você não é muito memorável. Ela teria que ser uma contorcionista para ver o seu nome no traseiro.
— Se ela é uma contorcionista — falou Brass da escada — então ela vai ter que se casar é comigo. E nunca vai querer que Elvis a case. Isso dá azar pelo o que eu sei. Todo mundo sabe que um casamento iniciado por um cara morto acaba em um casamento morto no fim. E falando nisso, ela é top de linha, não esqueça. Você não compra um trailer velho e enferrujado. Compra um trailer de viagem de cinco rodas e vive com estilo. Desse jeito pode atracar e não ter que remover o pátio toda vez que precisar ir a algum lugar.
Trisha teve vontade de se encolher quando viu o rosto de Brass. Tinha machucado as maçãs do rosto e a mandíbula, cortes por todo lado, e havia um inchaço próximo ao seu olho. Ele segurou o seu olhar preocupado e piscou.
— Ainda sou incrivelmente bonito.
Ela riu.
— Sim, é verdade.
Moon farejou de repente. Seu olhar se voltou para Brass e Harley. Eles tambem farejaram.
Três pares de olhos se voltaram para a janela antes de olharem para o outro lado.
Trisha ficou tensa.
— Sentiram cheiro do quê?
— Nada com o que se preocupar — murmurou Moon. — Só uma ameaça de tempestade.
— Oh. Espero que não tenha goteiras. — Trisha olhou para o alto, para as vigas inclinadas de madeira e de volta para os rapazes. — Mas a cabana parece bem sólida, mesmo que seja bem antiga por dentro.
— Tenho certeza que não vai vazar, Trisha.— Brass indicou sua comida. — Coma.
Trisha comia enquanto os homens continuavam provocando-a. Ela riu, ouvindo-os ficarem cada vez piores em imaginar cenários de casamentos. Viu quando olharam para a janela algumas vezes. Tinha ficado escuro lá fora. A janela continuava aberta, mas ela não viu nenhum brilho de relâmpagos nem ouviu chuva.
Trisha terminou toda a sopa, comeu as duas fatias de torrada, e terminou o leite.
Moon pegou os seus pratos.
— Vou trazer seus biscoitos e mais leite, mas vou dar uma corrida primeiro. Gosto de correr à noite. Pode esperar pelo lanche?
— Sim. Obrigada.
Ele sorriu para ela e desapareceu escada abaixo.
— Eu sei — riu Harley. — Podia casar comigo e podíamos ir morar com os seus pais. Ouvi dizer que humanos que vivem com os seus sogros têm um casamento duradouro.
Brass bateu na testa com a palma da mão.
— Onde ouviu essa merda retrógrada? Esse é um modo infalível de acabar com um casamento.
Trisha riu.
— Você sairia correndo ou coisa pior se uma vez conhecesse meus pais e provavelmente compraria uma arma para matá-los. Não quero casar com um cara que vai pegar mais de vinte anos de prisão.
— É. — Assentiu Brass seriamente. — Então ela teria que se divorciar de você por trai-la dentro da penitenciária.
— Trair? — Harley pareceu confuso por um segundo e fez uma careta.
— Isso é… totalmente mentira! Eu sinto atração por mulheres.
— Depende de a quem você pergunta. Eu já ouvi que alguns homens acharam o verdadeiro amor atrás das grades. — Brass piscou para Harley. — Você tem mesmo uma bunda bonita. Tenho certeza que não sou o único homem a ver isso.
— Nunca mais me agacho na sua frente. — Harley mostrou o dedo do meio para Brass. — E isso não é uma oferta. Meus padrões são bem mais elevados.
— Já chega — riu Trisha. — Vocês já estão fazendo a minha barriga doer. Por que não damos uma folga ao meu estômago e voltamos ao jogo de cartas? Eu estava acabando com vocês.
— Não estava, não. — Harley se levantou. — Eu pego as cartas. — Ele caminhou para a escada. — Estávamos deixando você ganhar.
— Ele é um péssimo perdedor. — sussurrou Brass.
— Eu ouvi isso!

Slade - novas espécies 2 - Laurann DohnerOnde histórias criam vida. Descubra agora