Negatividade

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Seu dia começou com o sentimento de fraqueza.

Ao contrário de milhares de Au's pelo multiverso, onde o amanhecer era marcado pela calorosa sensação dos raios de Sol esgueirando-se através das cortinas para repousar sobre a pele, aquele lugar esquecido não apresentava nada remotamente similar a esse clichê. Era obscuro, silencioso, e a aura esmagadoramente pesada dizia que seus ossos podiam ser esmagados a qualquer instante... Um abismo digno, afinal, não era nada além do esperado de si, "o rei da negatividade".

Havia acordado excepcionalmente adoecido naquela manhã. A sensação física era a de que seu crânio estava sendo puxado continuamente para fora do corpo, querendo levar a sua alma junto e, como consequência, tudo a sua volta derretia diante do próprio rosto a ponto de mal conseguir se aguentar nos próprios pés. Era uma surpresa desagradável considerando o curto tempo em que esteve estabilizado.
Obteve dificuldade até mesmo para se levantar da cama e chamar por seus súditos, ordenando-os que fossem imediatamente atrás de mais "fontes de poder" em algum universo aleatório que escolheu em meio a pressa, rangendo os dentes para não demonstrar a dor.

Agora, se encontrava sentado na borda da cama, espiando o mundo através da janela. Aquela paisagem de árvores mortas não representava nada além de sua própria prisão, encapsulada no formato de um contínuo e vasto universo em ruínas, guardado por aquela esfera de negatividade no meio do céu como uma eterna meia-noite que privava seu castelo de qualquer feixe de luz.
Por fim, sua tontura já tinha passado e suas vistas cansadas perduravam sem rumo até o horizonte nebuloso, aguardando que seus subordinados retornassem e aproveitando para idealizar o que faria a partir de agora. As coisas estiveram estagnadas por tempo demais, o sumiço do destruidor não contribuía para nada e, por tudo que era mais sagrado, era bom que Error lhe trouxesse notícias agradáveis caso não quisesse iniciar uma briga fúnebre.

...Entretanto, e se não fosse o caso? Se a tal trégua estivesse com problemas, ou talvez, nem mesmo tivesse começado?

A última coisa que precisava era saber que aquele acordo estava em um ritmo lento, e sendo assim, decidiu tomar algumas precauções. No pior dos casos, se sua saúde fosse começar a deteriorar logo agora, não teria como simplesmente voltar atrás em seus ataques até que estivesse se sentindo melhor. Afinal, Ink estava ciente de seu envolvimento e não poderia mais desfazer suas ações sem que o guardião percebesse alguma discrepância no comportamento alheio.
Cogitou ideias, escreveu um pouco e revisou antigos papéis, por fim chegando a uma conclusão agradável ainda que precisasse de aprimoramento. Apenas teria que conversar com o elemento surpresa deste plano primeiro.

Ignorando o mal-estar que sentiu ao levantar-se, deixou seu quarto e rumou até o subsolo do castelo em passos lentos, onde sabia que ele se encontrava.


























































Abaixo da terra, onde a umidade se fazia presente nos cômodos e o ar tinha cheiro de poeira, o único lugar que importava era aquele quarto escuro, onde o breu era tão presente que não se podia enxergar a um palmo de distância. De dentro dele, gritos e grunhidos podiam ser escutados atravessando as paredes, sendo pertencentes as diversas almas penduradas e aos monstros espalhados pelo piso ensanguentado.
Os que foram condenados a passar seus dias ali possuíam uma única utilidade: ser uma fonte. Propagar ao dono daquele castelo amaldiçoado os únicos sentimentos necessários para continuar o fortalecendo. Dor e medo.

E, de dentro daquele quarto, saía aquele que precisava sujar as próprias mãos mais uma vez, obrigado pelo mesmo monstro de antes.

- Finalmente. - Nightmare o recebeu observando suas vestes claras manchadas com respingos de sangue. - Não demore tanto da próxima vez, Cross.

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⏰ Last updated: May 18 ⏰

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