Capítulo 67

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Sentada na poltrona no Centro Médico, Clara amamentava Isaac sob o olhar atento e impressionado da doutora Thainá. Era o quinto dia do nascimento do filho. Mesmo sem as drogas especiais da ONE, o bebezinho estava se desenvolvendo muito bem, respondendo ao tratamento. E a médica lhe dissera que Isaac se recuperara como se estivesse há um mês internado! Clara continuava na clínica, embora já estivesse de alta.
Na manhã seguinte que dera à luz, acordara assustada, esperando o pior. Cedar estava ao seu lado e a acalmara. Ele a ajudara a tomar banho e se vestir e a carregara no colo até a UTI. Ver seu filho fora a emoção mais profunda e pura que tivera.
Pelas aberturas da encubadora, tocara seus pezinhos com cuidado, acariciando cada parte do corpinho até chegar ao rosto. Não se podia negar que era um Nova Espécie. Apesar de prematuro tinha a estatura de um recém nascido humano. Os ossos malares eram pronunciados e o narizinho ligeiramente achatado. As feições definitivamente eram de Cedar.
Só saíra da UTI quando Thainá a expulsara para repousar, prometendo que poderia visitá-lo mais tarde.
Cedar passara cada momento ao seu lado . Clara achava muito engraçado que ele a tratara com tanta antipatia quando se conheceram e, depois, com uma fingida indiferença.
Levantou a cabeça e o viu entrando. Sorriu para ele, que sorriu de volta. Ela nunca deixava de sentir-se deslumbrada com sua aparência. Era muito alto, muito forte e de feições marcantes e ela o desejava tanto ou mais do que o desejara nos seus primeiros dias na colônia brasileira.
— Demorei? - ele perguntou.
— Um pouquinho. Quase perdeu a mamada do meio da manhã.
Cedar se agachou, admirando seu filho.
— Este filhote é guloso, não é?
— Amor, não é filhote!
Ele riu.
— Desculpe-me. Este bebê é guloso. Melhorou?
Ela acariciou o rostinho do filho e depois o de Cedar.
A doutora Thainá estava fazendo algumas anotações no tablet e pigarreou, olhando para eles.
— Isaac está muito bem. Ganhou peso e reage aos estímulos - deu um sorriso para o casal. — Se continuar assim receberá alta na próxima semana.
— Contamos com isso. - disse Cedar.
— Vou deixar vocês dois sozinhos. Tenho um paciente muito impaciente me esperando.
— Qual espécie se feriu? - perguntou Cedar.
A médica abraçou o tablet e riu.
— Ele não se feriu. Está um pouco decepcionado porque não teve a lua de mel que esperava.
— Blade?
— Ele mesmo.
Clara ficou constrangida.
— Sinto muito, Thainá. Esse bebê apressadinho estragou seu casamento.
— Que nada. Felipe me contou que a festa foi até altas horas.
— Mas vocês não participaram.
— Clara, uma festa não substituiria a satisfação de cuidar do seu bebê. Isaac me deu mais felicidade que do que eu teria com a festa.
Como se decidisse participar da conversa, o bebê largou o seio da mãe, esticou as perninhas e ouviram uma explosão dentro da sua fralda. O bebezinho se assustou e, largando o seio da mãe, soltou um gritinho.
Os três riram e Clara falou com Isaac.
— Isso, filho, mostre que seu intestino está funcionando direitinho.
Cedar balançou a cabeça para a mulher, olhando-a alarmado.
— Por favor, não me faça trocar a fralda novamente.
— Isso faz parte do seu papel de pai.
— Eu ensinarei meu filho a lutar, a caçar e...
— Quando ele crescer. Enquanto isso, pode trocar a fralda.
Thainá riu.
— Deixarei vocês sozinhos para este momento importante.
A doutora saiu da UTI e Cedar suspirou.
— Clara...
Ela estendeu a criancinha para o pai.
— Sou um Conselheiro da ONE, um oficial treinado e um lutador temível. Trocar fraldas não é...
— Tome seu filho, Cedar.
Clara segurou o riso ao ver o enorme homem mostrar um semblante triste enquanto pegava o pacotinho mal-cheiroso. Ele levou o bebê até uma mesa de exames e o deitou sobre o acolchoado.
Clara observou o corpo bem feito de seu companheiro, os ombros largos, as costas musculosas, a bunda firme e as pernas longas e torneadas. Sentiu o rosto ficar quente ao lembrar-se da primeira vez que fizeram amor. Ela era tão inexperiente e ficara preocupada com o seu tamanho, mas não se negara a ela; o queria muito.
E ali estava ela, dona do coração de um dos líderes da ONE, um homem-fera perigoso...
Os grunhidos de Cedar enquanto limpava o filho a faziam sorrir, mas também provocavam um sentimento muito forte, muito profundo que ela só conseguia descrever como felicidade.

Cedar verificou mais uma vez se Clara estava confortável com o bebê. Ele tinha apenas 2 meses e já estava fazendo uma viagem tão longa.
No dia anterior viajaram de Santa Rosa para Rio Branco e de lá para Manaus. Fizera questão de que ela e o bebê descansassem   durante a noite, antes de embarcarem para Miami. Ele ficara com uma escolta de 6 homens, enquanto o restante do grupo continuava a viagem no mesmo dia.
Blade viajara no primeiro grupo num jato fretado, preocupado para chegar logo em Homeland. Ele esperava que seria um vôo complicado. Estavam levando Lion de volta para os Estados Unidos, porque o macho tivera momentos difíceis na colônia. Cedar compartilhara apenas com Sky e Blade que Lion sofria de uma longa depressão, agravada pelo ataque de Painting.
Cedar seguira no dia seguinte num jato menor até Miami.
Depois de uma noite de repouso num hotel, embarcaram  num jatinho para Los Angeles. Ele não estava incomodado em  fazer uma viagem lenta até Homeland. Queria o melhor para sua companheira e filho.
Depois de duas frustadas tentativas, finalmente se casara com sua amada Clara numa linda e fragrante noite de verão, cercados pela família dela e seus irmãos espécies. Confidence caminhara pelo tapete nupcial com Isaac no colo, que trazia as alianças presas em seu macacãozinho. Lion não estava bem para encontrar com muitas pessoas e, por isso Blade fora o seu padrinho.
O casamento fora uma emocionante despedida daquela que fora sua casa por quase três anos.
Agora estavam no helicóptero da ONE, prestes a pousar no seu heliporto.
Cedar amava aquele centro da ONE. Era a sua primeira casa, desde que sairam do estranho motel  onde o governo os instalara. Lá prendera desde  usar talheres até a manusear um fuzil de longo alcance.
O helicóptero pousou e Cedar reconheceu o grupo que o esperava. Justice, Bestial, River e Brawn se perfilavam no gramado como se esperassem um grande estadista. Eles se aproximaram quando Cedar abriu a porta do veículo.
— Sejam bem vindos. - Justice gritou acima do ronco dos motores dos
helicóptero. Estendeu os braços para ajudar Cedar a descer com a mulher e o filho no colo.
Os outros membros se aproximaram e Cedar desceu Clara do seu colo com muito cuidado. Todos os cumprimentaram para ignora- los no momento seguinte. Suas atenções estavam na criancinha com belos cabelos e olhos  castanhos que se agitava no colo da mãe.
— Sim, fiz uma boa viagem, obrigado por não perguntarem. - reclamou Cedar.
Bestial balançou os ombros.
— Ninguém liga para você, Cedar. - declarou e lhe deu as costas, disputando com os outros a atenção de Isaac.
Cedar deu um sorriso. Estava bem. Estava em casa.

Valiant observava o espécie agachado à beira do rio. Leo dissera que ele passava a maioria do tempo sozinho, evitando os outros moradores da Zona Selvagem da Reserva original.
Os longos cabelos cacheados, mal cuidados, caíam  pelas costas e estava muito magro.
Valiant percebeu que o macho não estava bem, pois não percebeu a sua chegada.
— Painting?
Ele se virou e as olheiras mostravam que não dormia bem.
Painting se ergueu devagar.
— Ela está bem?
Valiant deu a informação de má vontade.
— Tiger não gostou nada disso.
— Eu só preciso saber se ela está bem.
Valiant suspirou. Painting implorara que ele conseguisse informações sobre a companheira de Cedar.
— Tiger disse que está bem. Cuida dos animais domésticos e dá aulas de biologia.
— E o bebê?
— Ele disse que é forte e saudável.
— Deve ser uma cópia do Cedar, não é?
— Os filhotes sempre parecem com o pai.
Os ombros de Painting caíram um pouco mais e Valiant teve pena dele.
O macho cometera crimes contra outros espécies. Aquilo só  ocorrera uma vez, quando machos revoltados tentaram matar Justice. Painting fora condenado a viver para sempre na Zona Selvagem e somente poderia ter contato com seus habitantes.
Valiant achava que ele deveria ter sido morto, porém o Conselho decidira por aquele castigo.
— Você enviaria uma mensagem para mim?
— Para a companheira de Cedar? Não.
— Não é para ela; é para ele.
Valiant o olhou com desconfiança.
— Qual mensagem?
— Diga a Cedar que eu lamento muito. Ele foi muito bom para mim e eu paguei com traição.
Valiant cruzou os braços enormes.
— É só isso?
— Diga que cuide de Clara e a faça muito feliz.
Dando uma fungada, Valiant concordou com a cabeça. Painting parecia estar sendo sincero.
— Você precisa de provisões?
— Não, estou bem.
— Certo.
Valiant se afastou silenciosamente. Quando já estava bem distante, virou-se para trás. O macho voltara a se agachar, olhando para o rio.
Valiant sabia que ele não merecia ser perdoado; jamais seria, entretanto se sentia pela mulher de Cedar a metade que do que ele sentia pela sua Tammy, estava sofrendo demais.
V
Caminhou para casa, onde sua companheira o aguardava com seus três filhos, remoendo aquela história.
Cada Nova Espécie acasalado seria capaz de cometer loucuras pela fêmea que amava. E Painting cometera as suas.
Sim, o amor fazia coisas.

Querida leitora, assim chegamos ao final da história. O próximo capítulo será um epílogo onde saberemos um pouquinho do futuro de Cedar e Clara.

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