Todas as células de meu corpo desejam que eu enfie a cara no cozido e me empanturre até dizer chega. Mas a voz de kara me faz parar.
– É melhor a gente comer devagar esse cozido. Lembra a primeira noite no trem? A comida pesada me deixou enjoada, e eu nem estava com tanta fome assim.
– Você tem razão. E eu bem que podia engolir isso aqui tudo! – comento, lamentando a situação. Mas não faço isso. Somos bastante sensatas. Cada um come um pãozinho, metade de uma maçã e uma porção do tamanho de um ovo de cozido e arroz. Obrigo-me a comer o cozido em pequenas colheradas, eles mandaram até pratos e talheres de prata, saboreando cada mordida. Quando terminamos, eu miro saudosamente o prato. – Quero mais.
– Eu também. É o seguinte, a gente espera uma hora, se a comida assentar no estômago, aí a gente come mais um pouco – sugere kara.
– Combinado. Vai ser uma hora bem demorada.
– Talvez não tão demorada. O que era mesmo que você estava dizendo antes de a comida chegar? Alguma coisa a meu respeito... nenhum competidor... a melhor coisa que aconteceu
com você na sua vida...– Não me lembro dessa última parte – retruco, na esperança de que a iluminação esteja bem fraca aqui dentro para que as câmeras não consigam mostrar meu rosto vermelho.
– Ah, certo. Isso era o que eu estava pensando. Chega pra lá, estou congelando.
Deixo um espaço para ela no saco de dormir. Nós nos encostamos contra a parede da caverna, minha cabeça sobre o seu ombro, ela abraçado a mim. Posso sentir J'onn me cutucando para prosseguir com a encenação.
– Então, éramos cinco e você nunca reparou nas outras garotas?
– Não. Eu reparava em todas as garotas, mas nenhuma delas me deixou uma impressão tão duradoura quanto você.
– Tenho certeza de que esse negócio de você gostar de uma garota da Costura emocionaria muito seus pais.
– Dificilmente. Mas isso não me importa nem um pouco. De qualquer modo, se a gente conseguir voltar, você não vai mais ser uma garota da Costura, você vai ser uma garota da Aldeia dos Vitoriosos.
É isso aí. Se nós vencermos, cada um de nós vai ganhar uma casa na parte da cidade reservada aos vitoriosos dos Jogos Vorazes. Muito tempo atrás, por ocasião do início dos Jogos, a Capital construiu uma dúzia de belas casas em cada distrito. É claro que no nosso
apenas uma está ocupada. A maioria das outras jamais foi utilizada.Um pensamento perturbador me ocorre.
– Mas então, nosso único vizinho vai ser J'onn!
– Ah, isso vai ser legal – diz kara, abraçando-me com mais intensidade. – Você e eu e J'onn. Bem aconchegante. Piqueniques, aniversários, longas noites de inverno ao redor da lareira, rememorando antigas histórias dos Jogos Vorazes.
– Eu te disse, ele me odeia! – argumento, mas não consigo evitar dar uma risada ao imaginar J'onn se tornando meu novo amigo.
– Só às vezes. Quando ele está sóbrio, nunca fala qualquer coisa negativa sobre você.
– Ele nunca está sóbrio! – protesto.
– É verdade. Em quem estou pensando, afinal? Ah, já sei. Cinna. É Cinna que gosta de você.
Principalmente porque você não tentou correr quando ele tocou fogo em você. Por outro lado, J'onn... bem, se eu fosse você, eu evitaria J'onn completamente. Ele te odeia.
– Pensei que você tinha dito que eu era a favorita dele.
– Ele me odeia mais ainda. Acho que, no geral, gente não é o negócio dele.
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Lena Luthor - Supercorp
Teen FictionLena Luthor acaba se oferecendo para ser um tributo no lugar de sua irmã Lorelai para ir aos jogos vorazes. Pela primeira vez o distrito 12 vai ter uma dupla de garotas indo aos jogos juntas, pois ninguém sabe como o nome de Kara Danvers foi parar n...