Cap 24

131 18 4
                                    

Levo um tempo explicando a situação a Kara como a cara de raposa tem passado todo esse tempo se escondendo e roubando coisas sem querer ninguém perceba.

– Vou me livrar das amoras que restaram – diz Kara. Ela recolhe o plástico azul, com cuidado para prender as amoras do lado de dentro, e vai jogá-las na floresta.

– Espera aí! – grito. Encontro a bolsa de couro que pertenceu ao garoto do Distrito 1 e encho-a com um punhado de amoras que estavam no plástico. – Se elas enganaram Cara de Raposa, quem sabe não enganam Cato também. Se ele está nos perseguindo ou coisa parecida, a gente pode fingir que deixou essa bolsa cair sem querer e se ele comer as frutas...

– Aí, olá Distrito 12! – diz Kara.

– É isso aí – respondo, prendendo a bolsinha no cinto.

– Ele deve saber onde a gente está agora. Se ele estava em algum lugar por perto e viu aquele aerodeslizador, já sabe que a gente matou a Cara de Raposa e está em nosso encalço.

Karaa está certa. Essa pode ser a oportunidade que Cato está esperando.

Mas, mesmo que corrêssemos agora, há a carne para cozinhar e nossa fogueira será mais um sinal de nosso
paradeiro.

– Vamos fazer uma fogueira. Agora mesmo. – E começo a juntar alguns gravetos.

– Já está pronta para encarar ele?

– Estou pronta pra comer. Melhor cozinhar nossa comida enquanto temos chance. Se ele sabe que a gente está aqui, ele sabe e pronto. Mas ele também sabe que somos duas e
provavelmente imagina que a gente estava caçando Cara de Raposa. Isso significa que você já está recuperada. E a fogueira significa que a gente não está escondido, mas que estamos, convidando ele para vir aqui. Você apareceria ?

– Talvez não – responde ela.

Apesar da fadiga em meu corpo, minha mente está alerta, de modo que deixo Kara dormir bem mais do que o combinado quando voltamos a caverna.

Na verdade, um dia levemente cinzento já surgiu quando sacudo seu ombro. Ela olha, quase assustada.

– Dormi a noite toda. Isso não é justo, Lee, você deveria ter me acordado.

Dou uma espreguiçada e me enfio no saco.

– Vou dormir agora. Pode me acordar se alguma coisa interessante acontecer.

Aparentemente, nada acontece, porque quando abro meus olhos, o sol brilhante e quente da tarde penetra as frestas da caverna.

– Algum sinal de nosso amigo? – pergunto. Kara balança a cabeça.

– Não, o desprendimento dele chega a ser perturbador.

– Quanto tempo você acha que a gente vai ter até que os Idealizadores dos Jogos nos reúnam? – pergunto.

– Bem, Cara de Raposa morreu há quase um dia, então, já houve tempo suficiente para o público fazer suas apostas e ficar entediado. Imagino que a coisa aconteça a qualquer momento.

– É mesmo, e estou com a sensação de que hoje é o dia – comento. Sento-me e olho para a paisagem tranquila. – Imagino como eles farão isso.

Kara permanece em silêncio. Na verdade, não há nenhuma resposta razoável.

– Bem, até que isso aconteça, não faz sentido desperdiçar um dia de caçada. Mas talvez fosse uma boa ideia a gente comer o máximo que conseguir caso haja alguma encrenca.

kara empacota nosso equipamento enquanto preparo uma farta refeição.

Sair da caverna dá uma sensação de conclusão. Algo me diz que não haverá outra noite na arena. De uma forma ou de outra, morta ou viva, estou com a sensação de que escaparei
hoje.

Devido ao fato de termos começado o dia com um certo atraso, alcançamos a planície já ao anoitecer. Não há nenhum sinal de Cato. Nenhum sinal de nada, exceto a Cornucópia dourada
brilhando em meio aos oblíquos raios de sol.

Nós nos sentamos às margens do lago, inteiramente visíveis. Agora não há mais sentido em nos escondermos. Vejo os tordos, esvoaçando nas árvores da extremidade da planície, cantando animadamente como se fossem um coro de bolas coloridas. Então canto a melodia de quatro notas de Rue. Posso senti-los parando, curiosos com o som da minha voz, ouvidos atentos à espera de mais. Repito as notas em silêncio.

Primeiro um tordo reproduz a canção,
depois outro. Em seguida o mundo todo parece adquirir vida com o som.

Durante um tempo, apenas fecho os olhos e escuto, encantada pela beleza da canção.

Então, alguma coisa começa a perturbar a música. Sons cortados abruptamente em frases distorcidas e imperfeitas. Notas dissonantes intercaladas na melodia.

As vozes dos tordos se elevam num grito agudo de alerta.

Ficamos imediatamente de pé, kara segurando a faca, eu preparada para atirar.

Então, Cato sai da floresta aos trancos e barrancos e avança rapidamente em nossa direção.

Não está segurando nenhuma lança. Na verdade, suas mãos estão vazias e no entanto ele corre diretamente para nós. Minha primeira flecha atinge seu peito e, inexplicavelmente, cai no chão.

– Ele está usando alguma espécie de armadura! – grita Kara.

Em cima da hora, porque Cato já está em cima da gente. Preparo-me para o confronto, mas ele dispara entre nós sem fazer esforço algum para diminuir a velocidade.

Dá para ver pelo ritmo da respiração, pelo suor que escorre de seu rosto arroxeado, que ele está correndo em
alta velocidade há muito tempo. Não atrás de nós, mas fugindo de alguma coisa. Mas do quê?

Meus olhos rastreiam a floresta em tempo hábil para avistar a primeira criatura saltar em direção à planície. No instante em que me viro, vejo mais meia dúzia delas se juntando à primeira. Então, já estou tropeçando e correndo cegamente atrás de Cato sem pensar em
mais nada além de salvar minha própria pele.

Lena Luthor - Supercorp Onde histórias criam vida. Descubra agora