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CECÍLIA

Dias depois

Hoje é a minha segunda sessão de terapia e eu não consegui fazer o exercício que a psicóloga pediu. Só consegui escrever sobre o orgulho de ter passado em primeiro lugar no vestibular e de torcer para o São Paulo.
Espero que ela compreenda.

A Lia falou pra eu silenciar o Jonathan e a namorada, mas eu vou perguntar à psicóloga se isso é bom.

Porque acho que se eu ver, quando eu me curar, vou estar curada 100%, sem chances de recaída. Tenho medo de silenciar e quando eu tiver de ver, quando for inevitável, eu reagir mal.

Mas em todo caso, vou perguntar à psicóloga hoje.

Até me animei um pouquinho com esse encontro, esperei a semana toda por ele.

Tomara que ela me diga para fazer alguma coisa para começar o processo de libertação, de cura. Eu não quero fazer loucuras, colocar minha vida em risco.

Eu sei que vou sofrer por muito tempo, porque ninguém deixa de gostar de outra pessoa assim tão fácil, mas eu preciso ir vivendo enquanto vou esquecendo.

Nos dias de terapia eu não vou trabalhar, a empresa me deu folga nesse dia. Expliquei a situação e disse que faria hora extra quando fosse necessário.

Ainda bem que eles foram acolhedores, poderiam ter me demitido, mas não fizeram.

Ao contrário, me deram folga todas às quintas. É raro, mas acontece, e ainda bem que aconteceu comigo.

Não contei aos meus pais sobre a terapia, porque sei que eles vão ficar preocupados comigo e eu não quero isso.

Sobre o Jonathan, ele não mandou mais mensagem, não ligou. Por que mandaria, se ele teve a semana mais feliz da vida dele?

Fez gol no último jogo, fez a comemoração para Manuela, o bendito símbolo do infinito.

Pelo menos ele não me traumatizou em relação ao São Paulo. Pode traumatizar qualquer coisa, menos em relação ao meu São Paulo.

Antes dele vir jogar aqui, eu era mais torcedora, o fato dele ser jogador do time me afastou do Tricolor. Mas eu vou voltar, vou acompanhar com mais empenho.

Não vou permitir que ele tire uma das coisas que eu mais gostava quando era criança, que era assistir jogo, principalmente ao lado do meu pai.

Fiz um salada de frutas para tomar café. Sozinha com muitas lembranças, ia mexendo as frutas, juntando as minhas favoritas e levando até a boca.

Abri o Instagram já preparada para o que podia ver, mas graças a Deus, não vi nada relacionado aos dois.

A única coisa que me chamou atenção foi a demissão do Ceni. Fiquei triste. O cara é simplesmente o maior ídolo do time, mas parece que não deu certo como técnico.

Que ele tenha mais sorte em outro time. Ele merece todo sucesso do mundo.

Sorri ao lembrar de quando meu pai me levou ao Morumbi em uma das inúmeras vezes, e eu cantei a música "Puta que pariu, é o melhor goleiro do Brasil".

Minha mãe ficou retada com ele, porque ela não queria que eu cantasse a parte do "puta que pariu".

E meu pai dizia que não era nada demais, era só a música da torcida.

E eu toda empolgada, me sentindo gente grande por saber cantar.

Resolvi acrescentar o fato de ter herdado a idolatria ao mito. Meu pai sempre foi muito fã dele, e fazia questão de me contar histórias sobre ele.

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