Capítulo Três - Perfeição e Mistério

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Já havia passado uma semana desde a minha estadia na casa de Eric.

O sonho vinha me perturbar vez e outra. Ele nunca mudava, era a mesma cena, o mesmo campo de batalha, o mesmo cheiro de queimado e Eric sempre falava as mesmas palavras, sempre olhando diretamente para mim. "Me perdoe".

Sempre acabava comigo acordando em pânico, me segurando para não ligar para ele, só para ouvir sua voz e sentir que estava tudo bem, que aquilo era só um sonho idiota. Afinal, só podia ser um sonho idiota, não é mesmo?

Mari havia percebido que eu estava preocupada com algo. Ela me acompanhava para decidir as coisas do casamento mas eu não parecia tão animada quanto antes e até eu estava percebendo isso.

Eu estava apreensiva, como se dentro de mim tivesse um alarme me mantendo atenta ao perigo eminente. A questão era, que perigo?

- Quer voltar para ver o vestido? - Mari perguntava tentando me animar.

- Hmm, seria uma boa. - Eu disse enquanto escrevia algumas lojas para a lista de presentes. - Vou ter que lavar sua roupa? - Ri, tentando parecer relaxada.

- Só se você provar mais de cinco vestidos. - Ela riu enquanto pegava as chaves do carro.

Durante o caminho Mari ficou comentando da faculdade, era seu último ano lá e ela estava querendo ver se descolava uma pós graduação logo. Eu ouvi em silêncio pensando o quanto isso parecia distante de mim. Eu havia terminado a faculdade pouco antes de Eric me pedir em casamento, mas ao contrário da Mari eu não me esforcei para sempre estar no topo da classe, eu só consegui o meu diploma e foi isso.

Eu achava engraçado o quanto eu e a Mari eramos diferentes e como era essa diferença que fazia tudo dar dão certo entre nós. Ela era curta e grossa, agia rápido e era firme, mas eu sabia que no fundo ela era insegura e ficava remoendo as coisas que ela falava para as pessoas sem pensar.

Enquanto isso, eu era de certa forma infantil, tinha meus momentos de sarcasmo e a péssima mania de ser passiva agressiva as vezes, fora o fato de eu ser ingênua e sempre tentar ver o melhor das pessoas,mesmo quando não existia. Ela aguentava a minha ingenuidade e eu aguentava ela estourando, era quase perfeito.

- E ai o Murilo simplesmente começou a surtar, sabe? - Ela continuava a falar. - Ele nem é meu namorado pra ficar com essas.

- Você devia parar de ficar com esses caras. - Eu ri. 

- Bom, ninguém tem a sorte que você tem, Clara. - Ela suspirou. - Não é como se eu quisesse um príncipe encantado também, mas eu queria encontrar um cara legal sabe? Alguém que soubesse respeitar o meu espaço e que não ficasse com ciúmes imbecis. 

- Você devia dar uma chance para aquele cara... o engenheiro! Ele era super fofo. 

- Não vou ficar comum cara que menciona a mãe no primeiro encontro, Clara. Ele podia ser o Jake  Gyllenhaal dos nerds que eu não ia ficar com ele de jeito nenhum. - Começamos a rir juntas.

Quando chegamos na loja as atendentes começaram a falar pelos cotovelos novamente. Parece que elas cheiravam o dinheiro e vinham para cima como umas esfomeadas.Não dava para culpa-las também, todo mundo tem que ganhar a vida de algum jeito.

Mari se jogou no sofá e começou a folhear um catalogo, comentando sobre os vestidos que ela achava legal. Todos pareciam bem normais para mim, mas não cheguei a falar para não irrita-la. Eu queria um vestido que me fizesse parecer da realeza,com pedraria, tulê, calda longa e não um simples vestido branco. Eu aceitava economizar em tudo menos no vestido.

- Tá, o que vocês tem de novo? - Mari perguntou para uma das vendedoras. - Ela quer algo espalhafatoso, sabe? Aqueles beeeeeem caros? 

- Ah, claro! -Os olhos da vendedora brilharam. - Acho que sei um perfeito.

A Princesa PerdidaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora