Capítulo Vinte e Dois - Identidade

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― Por que vocês resolveram adiantar o casamento mesmo? ― Mari perguntava curiosa, enquanto eu escolhia as flores que enfeitariam o jardim de Eric, aonde iríamos realizar a cerimônia.

― Depois que se passa por uma experiência ruim como um sequestro, você não quer mais perder muito tempo, sabe.

Minha conversa com Eric ainda martelava minha mente e não só isso como o que eu senti ao ver o quadro de Isolde também. Às vezes quando eu fechava os olhos, eu podia sentir a menina me encarando, como se quisesse me falar algo.

Eu estava me esforçando para não ficar pensando muito nisso e me concentrar nos preparativos do casamento, mas confesso que estava difícil, principalmente durante as noites, quando eu encarava a rede branca de meu quarto e lembrava de Glenn.

Também tinha as noites de sono perdidas pelo peso da culpa que eu sentia ao pensar em Alex e Margo esperando Glenn, achando que ele agora deveria estar em segurança em casa, junto de mim. Mas não, aqui estou eu, comprando flores para o meu casamento.

Sem conseguir evitar suspirei, acariciando as pétalas das rosas vermelhas, com meus pensamentos tão distantes.

― Tá tudo bem, Clara? ― Mari perguntava, com aquele tom de voz que ela sempre usava quando sabia que tinha algo de errado.

― Sim, por que?

― Bom, é que eu achei que você estaria toda feliz aqui, sabe? Do tipo "Olha, Mari, que linda essas! Ai, essas também são lindas! Qual você acha que o Eric iria gostar mais?" ― Ela me lançou um olhar preocupado. ― Você anda diferente desde que você voltou, parece que tudo isso é um fardo pra você.

Pisquei alguma vezes, digerindo o que Mari falou. Eu estava... estranha?

Bom, muitas coisas haviam acontecido, quem poderia me culpar por achar coisas como escolher flores uma futilidade quando eu tinha uma maldição para quebrar? Mari não sabe o que aconteceu comigo, ela não sabe o que é descobrir que a sua vida é uma confusão por causa de umas drogas do passado.

Eu não podia culpa-la, é claro. Ela não tinha nada a ver com isso e seria melhor continuar assim.

― Eu só to meio estressada e cansada ― Ri, tentando tranquilizar ela. ― Digo, logo logo eu vou me casar, quem não ficaria meio estranha numa situação dessas?

Ela me lançou um olhar suspeito, carregado de curiosidade.

― Você tá escondendo algo, Fernandes ― Mari falou tão séria que senti arrepios. Ela só me chamava pelo sobrenome quando ela queria demonstrar o quão séria ela estava. ― Eu não sei o que, mas tem merda ai.

― Que isso... ― Virei o rosto, com medo de transparecer o meu nervosismo. ― Moça, eu vou querer arranjos de lírios brancos e rosas vermelhas, tá? Acho que é só isso mesmo.

Continuei a falar com a vendedora, sem olhar para Mari, com medo de ela notar algo. A última coisa que eu precisava agora era a Mari se preocupando comigo, perguntando se tinha algo de errado e querendo desvendar o que poderia estar acontecendo comigo para me deixar avoada daquele jeito.

O resto do dia felizmente correu bem, as coisas para o casamento estavam quase prontas, fora alguns detalhes. Finalmente eu iria me casar... parecia até mentira, mas era a realidade. Eu e Eric finalmente iríamos nos casar.

Fazia tanto tempo que eu esperava por isso que agora que estava tão perto era meio... estranho, como se alguma hora eu fosse acordar e perceber que tudo aquilo não havia passado de um sonho distante.

Só que agora eu não conseguia mais encarar aquilo como uma união ou uma demonstração de afeto, tinha tantas coisas em jogo com aquele casamento que eu não conseguia mais ter os mesmo sentimentos sinceros de alegria em relação a ele.

A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora