Capítulo Dezenove - Barganha

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Fomos até a sala de estudos do casarão, aonde Eric deixava seus livros, quadros e fotografias, junto de um computador velho e meio ultrapassado. Fiquei um pouco surpresa ao encontrar um computador ali, Eric não fazia muita questão de usar eletrônicos, nem celular ele tinha. Lembro de como ele ria quando eu comentava isso e falava que um celular não lhe seria útil, pois não saia quase de casa de qualquer jeito. Depois disso nunca mais comentei sobre celulares ou computadores.

Fiquei impressionada ao ver que ele lidava bem com o computador, eu sinceramente esperava que ele fosse ficar igual a um senhor de setenta anos tentando aprender a mexer no mouse. A seta do mouse ia passando por pastas e mais pastas, cada uma com o nome de um ano. Clicou duas vezes em cima da pasta aonde estava escrito 2006, e começou a mexer pelas centenas de arquivos de vídeo e áudio.

A seta do mouse parou sobre um dos arquivos, Eric ficou alguns instantes encarando a tela do computador, até se virar e falar comigo.

― Antes de eu te mostrar o que eu quero te mostrar, Clara, quero que você saiba que eu não fiz parte disso.

Ótimo jeito de fazer com que eu ficasse ainda mais curiosa.

Sentei na cadeira ao seu lado, sentindo meu estômago revirando de ansiedade. O que ele iria me mostrar exatamente? Se ele achou necessário falar aquilo devia ser alguma coisa bem impactante.

O arquivo de vídeo abriu. A qualidade da imagem não era tão ruim, mas tinha aquela coisa característica de filmagem feita por câmeras de segurança.

Sr. Angelo estava usando um terno, sentado em uma cadeira mexendo em alguns papéis. Ele não parecia em nada com o jardineiro que eu conhecia, estava bem mais novo, sem barba e com os cabelos bem alinhados, penteados para trás. O terno preto combinava com ele, mas ainda me causava certa estranheza.

Então apareceu outra figura no vídeo, um garoto usando uma camisa flanela vermelha que parecia um pouco grande nele, os cabelos curtos até demais, do mesmo tom escuro que eu conhecia.

― Suponho que você seja o senhor Glenn Lund, não é? ― O homem não desviou sua atenção dos papéis.

― Acertou ― Ele falava com um sotaque estranho, como se estivesse ainda aprendendo a falar português. ― Glenn Lund, cavaleiro da princesa Isolde por todas as reencarnações, ao seu dispor ― Fez uma reverência, mas era evidente que aquilo era apenas uma provocação.

O homem finalmente desviou sua atenção dos papéis e se virou para o garoto. Levantou-se da cadeira e foi até ele, com passos firmes e fortes. Examinou Glenn, dos pés a cabeça, sem mudar sua expressão uma única vez, até que num movimento súbito ele arrancou o tapa-olho do rosto do menino e o jogou para longe.

Glenn assustado, colocou as mãos em pânico sobre o olho esverdeado, como se não quisesse que seus olhos fossem vistos pelo velho.

― É, é você mesmo.

― Você não acha que isso foi meio desnecessário? ― Ele falou de um jeito ácido, era visível que estava se contendo para não pular em cima de Sr. Angelo.

O jardineiro sentou-se novamente na cadeira, enquanto o garoto pegava o que sobrou do tapa-olho, passando os dedos pelo tecido preto rasgado que agora não servia para mais nada. Com um suspiro guardou os restos do acessório no bolso.

― E então, lembro que em seu telefonema me falou que poderia me ajudar a encontra-la.

Encontra-la...?

― É, é... Aqui.

Glenn jogou uma fotografia em cima da mesa, uma foto de uma menina em um vestido rosa cheio de tulê, com os cabelos avermelhados soltos e um sorriso enorme no rosto. Uma fotografia minha.

A Princesa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora