Bônus (Glenn) - Branco

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Capítulo especial dedicado a todos os leitores que me acompanharam durante esses meses, me apoiando e ajudando com seus comentários e votos.

Vocês são demais ♡

*

Ajeitei o tapa-olho sobre meu olho direito, o tecido preto se destacava até demais no meu rosto, mas a ideia das pessoas encarando o tapa-olho era melhor do que elas encarando meu olho. Era algo pessoal demais para as pessoas ficarem encarando e nem mesmo eu gostava de ficar olhando para o meu "legado". Ao menos nessa droga de país ninguém ficava enchendo meu saco, falando o quanto aquilo era um desrespeito com o primeiro cavaleiro. Como se eu sequer ligasse para isso.

Na verdade eu queria mais é que tudo isso fosse para o inferno, só de lembrar todo mundo me olhando torto por causa do tapa-olho me dava vontade de tentar arrancar meu olho de novo. Mas eu não iria fazer isso, havia prometido a Margo que não faria isso e agora que eu a havia arrastado comigo para cá, me sentia eternamente em débito com ela.

Respirei fundo, tentando não ficar pensando nisso. Eu tinha um dever hoje e para completa-lo com êxito eu precisava estar calmo.

Peguei as chaves do apartamento e fui embora.

Caminhei com calma pelas ruas, ignorando as pessoas olhando para a minha cara e cochichando. Eu sentia raiva e inveja delas, afinal elas podiam decidir o que fazer com a própria vida, elas tinham o direito de escolha, algo que eu nunca tive. Assim que dei meu primeiro suspiro de vida, meu destino já estava completamente traçado.

Só de pensar no treinamento eu sentia arrepios e as cicatrizes no meu corpo pareciam latejar, como se fossem novas e estivessem sangrando. Não podia lembrar disso, não queria lembrar disso.

Felizmente meus pensamentos ruins foram aos poucos sendo substituídos por um sentimento bom. Era como se meus ouvidos estivessem sendo preenchidos com uma melodia alegre e harmoniosa, uma voz feminina ressoava na minha mente, como o canto de um anjo. Até minha visão do mundo clareava, como se meus problemas e pesadelos fossem coisas distantes e sem importância.

Sorri, não conseguindo evitar. Não gostava de sentir tudo o que se passava dentro dela, mas mesmo assim, saber que ela estava alegre sempre trazia um sorriso para o meu rosto.

Hoje ia ser outra visita rotineira. Todas as semanas eu tirava um dia para checar como a princesa estava. Eu passava o dia próximo dela, observando todas as mudanças emocionais que ocorriam e para ver também se havia alguma mudança no seu estado de saúde.

Clara Fernandes Martin tinha dezesseis anos agora. Ela era uma garota radiante e alegre, que adorava vestidos floridos, sapatilhas coloridas e o namorado, Eric. Mal sabia ela que dentro dela existia a alma de uma princesa que havia morrido a quase setecentos anos atrás.

Comecei a contar meus passos, me sentindo ansioso, pois logo logo me encontraria com ela. Um... dois... três... quatro... Pronto.

A garota andava na rua ao lado da amiga, falando animada com ela sobre alguma futilidade qualquer. O vestido azul contrastava com os cabelos cor de fogo, que caiam delicadamente sobre seus ombros e acariciavam seu rosto, que portava um sorriso alegre. Os olhos esverdeados estavam sorrindo também, com um brilho brincalhão refletido neles.

Respirei fundo, observando ela de longe. Seria mais fácil proteger ela se eu simplesmente pudesse pega-la e prende-la em uma gaiola, mas havia diversas regras sobre não interferir na vida dela. Regra que eu já havia quebrado, é claro.

― Minha mãe fica vendo aquela novela com os indianos, agora ela não para de comprar roupas com estampas indianas, acredita nisso? ― A princesa dizia, num misto de deboche e aborrecimento.

A Princesa PerdidaWhere stories live. Discover now