capítulo 08

2.2K 160 10
                                    

-O que vão querer?- Uma senhora, baixinha e gordinha perguntou, um segundo depois, colocou os óculos e encarou Lucas! E deu um guincho como um porco - Lucca, meu menino,quanto tempo? - Apertou suas bochechas - Quando vai trazer o velho Santorini pra Nana dar uma olhada hein?- Falou depois de dar um beijo molhado,eu só ria era cômico - Quem é sua namorada?- Perguntou olhando para mim. Sorri,sem graça e depois observei um pai e sua filha entrarem no lugar,o pai estava com as mangas dobradas até o cotovelos, e parecia cansado,mas tinha um sorriso no rosto, o típico pai americano. Ele se sentou com a garotinha,e começou a olhar o cardápio.

- Está é Marissa De Angeles,ela é uma amiga!- Nos apresentou,sorri para a velha senhora.

- É um prazer conhecê-la!- disse, voltando a atenção para o cardápio, eu não sabia o que queria comer. - O que me sugere?- questionei, Lucas sorriu achando graça.

- Dois, lanches do Lang, e pode me trazer uma água, acho que estou desidrato, alguém tem que fazer uma dieta!- Comentou com Nana que ria muito, o encarei por alguns minutos fazendo careta ele me lançou um piscadela, ela disse um sim,e saiu para levar nosso pedidos, voltei minha atenção para pai e filha,e ela parecia fazer birra por algo.

- Carolina, não!- falou o homem.

- Mas papai, eu não quero bacon, e ele não tirou,as empregadas lá de casa,sempre tiram o bacon!- protestou, o cozinheiro olhava sem graça para ambos,e foi recolher o prato. - Eu estou pagando,e quero as coisas do meu jeito!- Mandou a menina, o pai a olhou sério. Se fosse eu teria tomado umas bofetadas.

- Carol, não e por que você tem mais dinheiro,ou poder, e que pode mandar nos outros, você tem sempre que pedir, com educação- Fez uma pausa para a garota acompanhar o raciocínio - Eu não quero que você sofra,ou faça os outros sofrerem,todos devem ser tratados da mesma maneira! Eu fui claro?

- Sim,senhor! - e se virando para o homem com um sorriso tímido falou - Me desculpe, o senhor pode por favor tirar o bacon, e que gordura faz mal para meu coração!- Pediu gentil,e o homem piscou,e pegou o prato.

Aquilo me fez lembrar de algo, Lucas me encarava, com uma expressão que eu não conseguia decifrar.

- Boa lição, não acha?- Perguntou, minhas mãos suavam muito. Tirei a luva da mão esquerda,e depois a da direita, e as virei para cima, para o ar do ventilador pegar.

- Sim,e pelo menos ele a ensinou de um jeito mais convencional!- Comentei,bebendo um pouco da água dele,que me olhou curioso.

- Hum? Oh!- exclamou, então encarei o ponto que ele olhava,era minha queimadura, a primeira e última lição que aprendi por meu pai! - Quem fez isso?- ele passou os dedos por cima, era um buraco do tamanho de um charuto, com vários quelóides ao redor,pequenos,mas mesmo assim contavam sua história.

- Meu pai!- disse tirando suas mãos das minhas. Ele parecia chocado - Mas já faz muito tempo!- Eu ri sem humor

- Por que?- ele parecia sombrio,ao falar, dei de ombros, e comecei a narrar.

" Eu era uma criança fácil de lidar,deveria ter uns seis ou sete anos,acho, mas uma vez eu fiz birra,por que uma das governantas não queria deixar que eu dormisse até mais tarde, eu briguei com ela e disse,que meu pai mandava em tudo, ela saiu do quarto,e eu perdi minha vontade de dormi. Naquela tarde Bryant foi até minha casa para podermos brincar, ela disse que os criados devem saber seus lugares,e não incomodar os patrões, por que nós que pagamos seus salários, ela sempre foi muito geniosa íamos tomar chocolate quente, e Bryant derramou um pouco nessa governanta, crianças são desastradas e até mesmo maldosas. Eu fiquei assustada, ela ria e a mulher só sabia chorar,mas tarde quando Bryant foi embora, meu pai me chamou até seu escritório. Ainda me lembro da sala grande e quente, do cheiro de charuto, o uísque brilhando na mesa, o quadro da minha mãe me encarando sorridente, o barulho das minhas botas no chão de madeira. Eu fiquei muito feliz,porque poxa, meu pai nunca me deixava ir ao escritório, ainda mais depois do jantar, ele me mandou sentar em seu colo,eu estava radiante,era o que eu mais queria. Que meu pai me minasse. Então ele disse- Marissa, nunca devemos desrespeitar alguém, independente de sua posição, isso é uma regra!- O olhei sem entender,

- Papai,eu pedi desculpa à senhora!- Contei,o que não era mentira.

- E quanto ao chocolate quente?- Questionou,eu não podia dedurar Bryant, ela não seria mais minha amiga, e nem poderia vir mais brincar comigo - Estou muito desapontado com você, e você sabe que merece ser castigada!- Declarou, acendeu mais uma vez o charuto,eu tentei sair de seu colo,porém apertou minha cintura mais forte ainda, eu comecei a chorar.

- Me dê a mão, Marissa!- Mandou - Será pior se recusar!- Falou mais alto estendi a mão, de má vontade,e o vi mergulhar o charuto na mesma, afundando as brasas na pele nova da minha mão infantil, doeu muito,era terrível,eu chorava e gritava,saia sangue,as bolhas estouravam. Ele fez isso até o charuto acabar, me tirou de seu colo,e me mandou crescer e me comportar como uma garota de respeito. Ele nunca mais me pediu para sentar em seu colo, ou conversar comigo em seu escritório " Terminei de contar, memoria vivida como se não tivessem se passado anos e sim alguns meses, logo o almoço chegou,era um enorme hambúrguer com batatas,e um refrigerante trincando de tão gelado,salivei. Meu estômago roncou mais alto, quando ergui a monstruosidade gordurosa a minha frente.

- Nossa, seu pai é...- Ele tentava achar uma palavra gesticulando com uma batata na mão.

- Horrível? Sim ele, é mas e meu pai!- Falei firme ele deu de ombros, - E seus pais não se importam, de você ficar andando por aí, em um domingo?- Questionei mordendo meu lanche,eu estava feliz, o que era raro de acontecer, sem pensamentos ruins, depois que eu me lembrava da minha infância. Ele parou de comer, me encarou sério,odiava quando fazia isso. Parecia que ele tinha mil segredos.

- Minha mãe, ainda está no Brasil, eu vim morar com meu pai,ele não dá muita importância sabe,ele trabalha como chefe de segurança!- Limpou os lábios, o encarei.

- De quem? E alguém famoso?- Fiquei curiosa, ele bufou, e deu sorriso contido, como se achasse graça.

- E uma menina mimada sabe,filha de um magnata, ela é cheia dos não me toque,e usuária e faz coisas erradas, ela não serve para herdar o império do pai, ela é muito chata,irritante, eu particularmente a acho nojenta,eu não me envolveria com ela!- Disse,ele parecia sentir realmente muito nojo da tal garota, ela parecia ser um monstro.

- Nossa que idiota!- Pensei alto, mesmo entendendo um pouco sobre a garota e ele sorriu - Já terminei!- Cantarolei e ele ficou surpreso, já que o sanduíche parecia um tijolo em comprimento e altura,mas era uma delícia,e não deixei uma batata sequer sobrar no prato. Ele fez um gesto com a mão como se pedisse a conta, e logo ela foi trazida, tirei as duas notas e entreguei, ele ficou vermelho.

- Isso não é certo, eu é que deveria pagar- Falou, e eu ri.

- Eu queria comer,eu que pago!- Disse puxando seu rosto para dar um selinho. Ele pareceu se acalmar, despediu-se de Nana e fomos embora.

Ele me deixou em casa,nós beijamos, na varanda de novo,eu estava gostando de fazer isso, eu estava adorando ele, no caminho ele me fez rir, mais do que seria normal para uma Marissa sóbria e após um velório. E isso me fez bem, manteve minha cabeça ocupada de todas aquelas coisas.

- Venho te pegar amanhã, tudo bem?- Perguntou, encarei seu rosto intrigada com a pergunta.

- okay!- Respondi, perdendo aquele sorriso que deixava partes de mim quente e animada. Timidamente me afastei de seu abraço, me virei e entrei em casa. Gosto como as coisas estão indo com ele,nem devagar nem rápido, estão no seu tempo.

Garotas da Máfia - Vol. 01Where stories live. Discover now