Você é bipolar?

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Eu estava mesmo começando a achar que Louis tem problemas com bipolaridade. Não é possível que ele seja uma pessoa normal. Primeiro ele quase me enlouquecia – se é que eu não estou até agora – dizendo aquelas palavras insanas, me beijava feito um completo depravado, não que eu reclame, e depois ele se arrepende de tudo. Eu sei que não posso tirar sua razão. Louis namora, seu coração, corpo e alma pertencem a outra. Eu gostaria mesmo de saber o que se passou em minha mente no momento em que o deixei prosseguir com aquela brincadeira. Juro que gostaria mesmo, mas infelizmente tudo o que eu tinha na cabeça era a imagem de Louis me beijando e passando aquelas malditas mãos pelo meu corpo. Se eu pudesse voltar atrás, não teria ido com Zayn para aquele jantar e muito menos ter gostado da sensação de ter beijado o meu chefe. Mas pelo amor de Deus, o que eu deveria fazer? Dizer que não havia gostado? Que eu detestei? Eu estaria sendo uma completa mentirosa. Já se passavam do meio dia quando nós terminamos de pintar uma parte da parede. Nós entre aspas, porque Louis insistia em fazer tudo sozinho e nem sequer me deixava tocar no pincel. Houve um momento em que eu sentei em minha cama e fiquei observando-o em silêncio. Confesso que eu me sentia uma tarada por olhar para sua bunda quando ele se abaixava para pegar algo no chão.

– Porque não foi ao trabalho hoje? –ele perguntou largando o rolo de tinta sobre um jornal e se virando para mim.

– Problemas femininos. –aquela resposta era ultrapassada, mas eu ficaria feliz se ele acreditasse. – Acordei com uma cólica terrível.

– Cólica? Isso não é motivo para faltar ao trabalho, Senhorita Lisy. –então ele sentiu a minha falta?

– Você não tem útero, não pode falar nada. –levantei quando o vi se aproximar. – Vou poder pintar agora? Que eu me lembre, o quarto é meu e eu não consegui fazer nada até agora.

– Você deveria me agradecer. –ele puxou a barra da camiseta para cima a fim de enxugar o suor que corria por seu rosto, deixando parte do seu tronco e da cueca a mostra. Virei para o lado envergonhada e arfando baixinho.

– Verei isso depois. –peguei um rolo de tinta que ainda estava limpo e com cuidado eu o molhei na tinta vermelha. Tirei um pouco o excesso batendo na ponta da lata e delicadamente comecei a rolar com ele pela parede.

Começando de baixo e indo para cima, sem alternar os movimentos.

– Você não é tão ruim assim. –ele comentou ficando ao meu lado.

– Ajudar mamãe com a pintura da varanda serviu para alguma coisa. –sorri e molhei outra vez o pincel na tinta.

– Estou vendo. –Louis coçou rapidamente o queixo e deu alguns passos ficando atrás de mim. – Lisy, eu preciso saber se está tudo bem.

– Eu já disse para não falarmos sobre isso, Louis. –fingi estar distraída com a pintura.

– Eu gosto de esclarecer bem as coisas. –seu corpo colou-se tanto ao meu que eu acabei indo um pouco para frente. – Aquilo foi um erro. Não pode se repetir nunca mais. –sua voz batia em minha nuca e isso fazia as minhas pernas bambearem. – Eu não gosto de você. –seus dedos escorregaram pelo meu braço e chegaram até a minha mão que segurava firmemente o pincel. – Não o agarre com tanta força.

Mantive os olhos bem abertos enquanto tentava controlar a tremedeira nas pernas.

– Você não desperta nenhum sentimento em mim. –suas mãos se fecharam ao redor da minha mão e ele começou a movimentá-la em um ritmo lento. – Para cima e para baixo, Lisy. Não tenha pressa em terminar. –ele sussurrou isso em meu ouvido.

Por favor, Lisy não pense besteira. Ah merda, tarde demais. Eu ainda tinha duvidas se ele estava falando mesmo do pincel ou só queria ver a minha reação através daquelas palavras.

– Você entendeu? –ele perguntou roçando o nariz em meu pescoço.

– Sim. –respondi sentindo sua mão pousar em minha cintura.

– Diga isso olhando em meus olhos. –ele pediu e me virou rapidamente. Abaixei o braço com pincel para não sujá-lo e o outro permaneceu entre nós dois. Caso ele resolvesse tentar alguma coisa, eu o empurraria longe ou pelo menos tentaria.

– Eu já entendi. –murmurei nervosa.

– Bom. –seus olhos se encontraram os meus e logo se desviaram para a parede atrás de mim. Eu não entendia bem o porquê daqueles olhos terem tanto efeito sobre mim. Não sei se era o fato do azul estar entre as minhas cores favoritas ou por eles terem um dono chamado Louis Tomlinson.

– Lisy! –a voz de mamãe entrou pelo os meus ouvidos como um despertador chato que me acordava todas as manhãs.

– O que foi mãe? –perguntei me soltando de Louis.

– Será que pode vir até aqui? Eu prometo que serei rápida.

– Já estou indo. –qualquer coisa para sair daquele quarto.

Larguei o rolo de tinta no chão e pedi para que Louis me acompanhasse. Nem pensar que eu iria o deixar sozinho no meu quarto. Não sei o tipo de homem que Louis é. Mamãe estava sentada no sofá com uma caixa de papelão no meio de suas pernas e ao seu lado estava Micaela.

– Pensei que ainda estivesse na cada de Caleb. –falei para ela.

– Tive que comprar um livro novo para a aula de Teoria do Urbanismo. –ela respondeu sem vontade. – Quem é o bonitão?

– Louis Tomlinson. –ele estendeu a mão para ela. Convencido? Não. Nenhum pouco. – Muito prazer.

– Sou Micaela, irmã de Lisy. –ela olhou pra mim lançando um sorriso sacana. – Então você é o Louis? Lisy tem um pôster seu colado na parede do quarto dela.

Ele gargalhou junto com ela.

– Não ligue pra ela. –revirei os olhos aliviada por Louis ao menos ter comprovado que não existe nada dele em meu querido quarto. – O que queria mãe?

– Achei umas fotos ótimas para você colocar em seu mural. –ela me deu algumas. – Olhando esses álbuns, eu pude encontrar fotos que eu nem lembrava que existiam. Recorda-se dessa aqui? –mamãe me mostrou uma foto minha com no máximo doze anos de idade.

– Eu lembro que foi Micaela que tirou. –na foto eu estava sentada em algum banco de praça, usando um vestido azul de alças, meus cabelos antes mais curtos e as pernas cruzadas. Eu estava sorrindo porque papai fazia graças atrás de Micaela e eu poderia dizer que a foto tinha sido natural. – Irei usar essa aqui.

– E dessa você se lembra? –ela apontou uma foto também minha, mas não tinha nada demais. Eu não deveria ter nem onze anos daquela fotografia.

– Na verdade, não. –fiz uma careta de estranhamento.

– Você tirou quando comprou seu primeiro sutiã. –mamãe respondeu normalmente e eu quase me engasguei com a própria saliva.

– Sério?

– Você reclamava que não tinha seios e que eles eram pequenos demais. –Micaela explicou e eu tinha certeza que estava vermelha. Ninguém merece que o seu chefe ouça as suas histórias podres de família. – Acho que hoje não mudou muito, maninha.

– Olha, quer saber... –falei me levantando. – Eu mesma vejo e escolho essas fotos.

Peguei os álbuns das mãos das duas e joguei dentro da caixa, me agachei um pouco e peguei-a sem dificuldade. Louis apenas balançava a cabeça, com certeza o desgraçado estava querendo rir. Obrigada Micaela. Subi novamente as escadas com a caixa em minhas mãos e ouvi os passos de Louis me seguindo.

– Olharei isso com calma depois. –joguei a caixa em cima da minha cama.

– Quer ajuda? –ele sorriu maldosamente.

– Não. –respondi logo. – Escuta, você nem deveria estar aqui. Deveria estar na empresa, isso sim.

– Encher o seu saco tem mais graça. –ele suspirou. – E além do mais, não tenho pressa para ir embora. Pedi a Eleanor que ficasse tomando conta das coisas enquanto eu estivesse fora.

Foi naquele momento que todas as palavras duras de Louis vieram à tona. Toda a vontade de chorar enjaulada na noite passada estava a ponto de sair. Foi só tocar no nome Eleanor para o meu peito se apertar e o arrependimento e tristeza me tomarem. Mais uma vez eu olhei para o teto e fiquei me maldizendo por ter sido tão fraca.

– Vamos terminar logo com isso, está bem? –pedi e ele assentiu. – A cólica está voltando e eu quero dormir o resto da tarde.

– Ok. –foi tudo o que ele disse.

Quem dera a minha dor fosse no meu ventre e não no coração.

[...]

Na manhã seguinte o frio deu seus primeiros sinais de vida, não que estivesse geando, mas eu tive que vestir roupas mais térmicas (1). Eu estava contente porque era sexta-feira, mas isso indicava que sábado estava próximo e no sábado eu teria que ir para o orfanato. Isso não seria um problema se Louis não fosse junto. Arrependi-me com tê-lo convidado para confirmar se eu estava sendo voluntária lá mesmo, mas como eu poderia saber que ele iria mesmo? Depois que Louis foi embora no dia anterior, eu tomei um banho longo e quente para em seguida me jogar na cama e ficar refletindo sobre nada até o horário da faculdade. Antes de ir para o escritório de Zayn, eu fui dar bom dia para Matt. Do jeito que ele era dramático, seria capaz de dizer que eu o havia esquecido.

– Bom dia. –falei e ele levantou a cabeça.

– Bom dia gata. –ele sorriu largamente. – Você fez falta ontem. Eu tive que almoçar sozinho e não tinha ninguém para conversar comigo. Você é má.

– Ocorreram alguns probleminhas. –suspirei. – Mas hoje eu estou aqui e nos vamos almoçar juntos, está bem?

– Promete?

– Prometo. Agora eu preciso ir, estou cinco minutos atrasada. –comentei olhando para o relógio preso a parede. – Nos vemos em algumas horas.

– Eu espero mesmo e você vai me contar tudo sobre o jantar. –ele piscou e eu apenas dei risada.

Realmente eu gostaria de alguém para conversar sobre tudo o que tinha acontecido e como eu estava confusa. Mas se eu contasse isso para Micaela, ela daria risada da minha cara e ainda iria perguntar como alguém tinha coragem de me beijar. Se eu falasse com mamãe, ela provavelmente me mataria e mataria Louis depois por assedio sexual. Minha única opção era Matt. Mesmo que ele vá gritar histericamente e dizer que estava certo o tempo todo. Eu gostava de Louis e nós formávamos um casal fofo. Isso é tão idiota.

No meio do caminho para o escritório, alguém passou o braço sobre o meu ombro e me beijou na bochecha. Só quem fazia aquilo era Zayn e por isso eu fiquei mais calma.

– Bom dia, cat. –ele disse animado.

– Bom dia Zayn. –circulei sua cintura com o meu braço.

– Senti sua falta ontem.

– Também senti a sua. –encostei a cabeça em seu peito. Geralmente eu ficaria envergonhada de estar abraçada com ele daquela forma, mas Zayn tinha um jeito de me deixar a vontade. Parecia nós já éramos amigos há anos e eu adorava essa sensação de intimidade que nós tínhamos. – Hoje nós iremos trabalhar, sim? Faz algum tempo que não faço nada.

– Hoje, finalmente nós vamos colocar a mão na massa. –soltamos um riso baixo. – Já tem alguma tarefa?

– Ainda não. –respondi.

– Ótimo. Hoje você terá algumas noções sobre Auditoria.

– Isso é serio? Eu gostaria de me especializar nisso ou em Pericia Contábil.

– Você realmente tem bom gosto. –ele me balançou um pouco.

Receber um elogio de Zayn me deixava orgulhosa de mim mesma. E eu ficava feliz porque pelo menos alguém valorizava as minhas escolhas e o meu trabalho.




Meu almoço não poderia dar em outra. Quando eu contei a Matt que tinha algo sobre mim e Louis que ele precisava saber, o garoto só faltou arrancar os próprios cabelos da cabeça. Fui obrigada a esperá-lo comprar um hot dog e ainda por cima comer. Sentamos em uma das mesas próximas a barraquinha e começamos a conversar.

– Pode me contar tudo. –ordenou ele. – Sem pular nem um detalhe.

– Tudo bem, mas eu quero que prometa que não vai dar um show em publico.

– Você sabe que eu nunca faria isso. –ele deu uma mordida no pão.

– Sei que não adianta nada eu falar isso, mas... –revirei os olhos. – Eu fui ao jantar com Zayn, ele me elogiou, nós rimos, encontramos Louis, Louis quis brigar comigo, Louis me ignorou, Zayn mentiu para mim sobre onde era o banheiro, o banheiro era na verdade o quarto de Louis, Louis apareceu, eu tentei sair do quarto, Louis não deixou, depois Louis me beijou, nós nos arrependemos e eu fui embora. –respirei profundamente quando terminei de falar.

– O que? –ele disse em choque. – Como assim ele te beijou?

– Quando eu tentei sair do seu quarto, Louis me impediu e disse que o meu batom estava chamativo. Foi então que ele puxou o meu braço e simplesmente me beijou. O pior de tudo é que eu correspondi sem pensar duas vezes. –passei a mão pela minha testa.

– Ahá! –ele gritou jogando a cabeça para trás. – Eu sabia. Eu sabia.

– Do que? –arqueei uma das sobrancelhas.

– Que vocês dois desejam um ao outro.

– Matt você pirou de vez. Eu não desejo o Louis e muito menos ele a mim. –tentei convencê-lo. – Ele estava um pouco bêbado quando me beijou, foi por isso que aconteceu.

– E porque você não falou para ele que não queria? Era simples.

– Ele me pegou desprevenida. –diminui o tom de voz. – Em todo o caso, isso não vai mais acontecer e eu espero mesmo. Foi um erro. E Louis provavelmente já deve ter até se esquecido disso.

– Acredito. –Matt debochou.

– O pior de tudo é que ele foi a minha casa ontem me pedir desculpas.

– Louis pedindo desculpas? Essa é uma ótima novidade. –disse de boca cheia. – 'Cara, ele quer alguma coisa sua.

– Eu sei o que ele quer; tirar a minha paciência.

– Não acho que seja bem isso. –ele mordeu os lábios e deu um sorriso de canto. – Vai ver ele queria te pegar sozinha no elevador ou no escritório dele.

– Matt... –tapei a boca com a mão e dei risada.

– Agora a pergunta que não poderia faltar. –ele se endireitou. – Ele beija bem? Quer dizer, você gostou?

– Foi estranho.

– Isso significa que você gostou.

– Como pode saber disso?

– Porque eu sei. Sua cara não nega.

– Termina logo esse hot dog ou eu vou enfiar ele na sua garganta. –fingi estar brava.

Matt não falou mais nada e também nem deveria. Ele era um idiota que tinha planos idiotas em sua cabeça. O bom de ter conversado com ele, foi o fato de que eu precisava desabafar. Meus sentimentos estavam bagunçados assim como a minha cabeça e pensamentos. Toda vez que eu pensava em Louis, as pontas dos meus dedos soavam e jurava sentir o toque dos seus lábios finos sobre os meus. Não explicar precisamente as sensações que me dominaram. Um susto, um choque. Foi inesperado, já que ele nunca faria isso em outra ocasião. Louis não gosta de mim e nem eu dele – nesse sentido – mas eu ainda tento imaginar o que teria acontecido se ele tivesse conseguido abrir o zíper do meu vestido.

Não. É melhor eu não imaginar.




No começo da tarde, Valery me deu algumas tarefas para fazer, para ser exata; verificar impostos retidos na fonte. Com a ajuda dos dois computadores e uma calculadora cientifica, comecei a calcular.

– Porque Louis tem que ter tantos funcionários? –reclamei.

– Quer uma ajuda? –Zayn perguntou.

– Não quero atrapalhar você.

– E você não vai. –ele afirmou. – Me dê isso aqui.

Ele virou o notebook e pegou algumas fichas, Zayn trabalhava no notebook e eu no computador de mesa. Tinha que agradecer a ele por me ajudar a terminar logo com aquilo, foi como se a minha tarefa fosse cortada ao meio. Houve alguns segundos que eu ouvi o barulho do seu teclado cessar e eu levantei a cabeça para observá-lo.

– Terminou?

– Não. Parei para te olhar. –sorriu sem jeito.

– Eu já falei que você me deixa sem graça? –voltei o olhar para tela luminosa.

– Já e é muito legal ver você sem graça.

– Você e Matt merecem uns tapas. –finalmente eu tinha chegado a ultima ficha para calcular o imposto. Já teve a sensação de estar distraída com algo, mas de alguma forma você sabe que alguém está olhando para você? Era assim que eu me sentia com Zayn. – Quer parar de olhar pra mim?

– Por quê?

– Eu me sinto encabulada, Zayn. –coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Parei senhorita. –ele escorou as mãos sobre a mesa. – Têm falado muito com Louis esses dias?

– Um pouco. O bom é que ele desencanou da ideia de não querer que nós trabalhemos juntos.

– O que? Não. Como eu atazaná-lo agora?

– Procure algo que o irrite. Fale da empresa dele, Louis odeia quem fala mal dela.

– Diz isso por experiência própria?

– Infelizmente sim. –Louis devia me odiar por isso.

– Eu admiro você.

– Eu também me admiro por estar viva até hoje. Ele só não me bateu porque eu sou uma garota. Fui sortuda.

– Foi mesmo. –ele concordou.

– Parece até que eu desperto o lado raivoso de Louis.

– Talvez não seja a única coisa que você desperta nele. –ignorei completamente a malicia usada na sua fala.

– Eu... –antes que eu começasse a falar, a porta foi aberta e eu agradeci a Deus por aquilo. Só não fiquei mais agradecida, porque quem passou por ela fora Louis.

– Ora, ora. Veja só se não é Louis. A que devo a presença na minha humilde sala? -Zayn gostava mesmo de provocar.

– Vim ver como você está amor. –disse de modo irônico.

– Oh eu estou bem, obrigado. –o moreno gargalhou.

– Ótimo, agora saí. Eu preciso falar ela. –Louis apontou para mim.

– Porque eu tenho que sair? –Zayn fez bico.

– Porque eu estou mandando.

– Ui! Adoro quando você é mandão. –ele se levantou, foi até Louis e forçou as mãos contra o peito dele. – Te vejo mais tarde, Louis amor.

– Tem horas que eu acho mesmo que você parte para o lado rosa da força, Malik. –Louis massageou as temporãs.

– Você me ama. –Zayn saiu rindo.

– Não ouse rir disso. –ele me alertou e eu me segurei.

– Ainda acho que vocês dois tem um caso. –me arrisquei em dizer.

– Eu não sou gay. E se tem duvidas quanto a isso, posso te provar agora mesmo o quanto eu sou homem. –Louis fez com que o meu sorriso desaparecesse e desse lugar a uma expressão boquiaberta. Engoli o seco e quebrei o nosso contato visual. – Enfim, vim falar sobre a nossa visita ao imóvel amanhã.

– Porque eu tenho que ir?

– Porque eu estou pedindo com educação e eu não faço isso muitas vezes. –percebi quando ele suspirou irritado.

– Isso não muda nada. Não estou com vontade de ir e você não pode me obrigar.

– Lisy... –ele cruzou as mãos buscando calma. – Será que ao menos uma vez você pode concordar comigo em algo e não reclamar?

– É você que não está concordando comigo. Não respeita a minha opinião. –rebati e me levantei. – Eu até aceito que você vá comigo para orfanato, mas você pode muito bem arranjar outra pessoa para ir junto em meu lugar.

– Não se faça de cínica, eu sei que você quer ir. –ele também se levantou.

– Pois você está bem errado. –eu odiava que ele estivesse sempre certo. Eu queria ir porque estaria perto dele e de alguma forma, isso me fazia bem. Não sei explicar, apenas acontece.

– Não tire a minha alegria, Lisy. Diga apenas um sim e eu a deixarei em paz. Por hoje. –completou ele.

Será que a desculpa ''minha mãe não deixa'' colaria com Louis? Todavia, eu não tinha nada para fazer no sábado e bem lá fundo ia ser legal passar mais um dia com ele. Mesmo Louis sendo um ignorante e chato.

– Tudo bem. –falei e ele deu um pequeno sorriso.

– Que horas você precisa estar no orfanato amanhã?

– As dez.

– Esteja pronta as nove. –ele caminhou até a porta. – Eu pego você.

''Você pode pegar o que quiser'' algo gritou dentro da minha cabeça. Já estava começando a pensar na possibilidade de arrumar outro emprego.




Quando estava me arrumando para ir pra faculdade, mamãe entrou em meu quarto e sentou-se na ponta da minha cama. Aquilo só tinha um significado; conversa séria.

– O que foi dessa vez? –perguntei logo.

– O que Louis veio fazer aqui ontem? –ela fingiu estar interessada nas unhas.

– Eu esqueci minha bolsa em sua casa e ele veio me devolver. –terminei de colocar o par de brincos. – Por quê?

– O que tanto fizeram aqui no quarto e com a porta fechada?

– Ele se ofereceu para me ajudar com a pintura na parede. –respondi tendo noção do que ela estava pensando. – Pelo amor, diga que não esta achando que... Mãe ele é meu chefe.

– Eu sei, mas de qualquer forma, é um rapaz bonito e muito atraente. E você com essa idade têm os hormônios loucos ai dentro. –ela tombou a cabeça para o lado.

– Mãe, meus hormônios estão controlados. –fiz um gesto com as mãos para que ela ficasse calma. – E não se preocupe com Louis. Ele, acima de tudo, namora e é isso.

– Vai me dizer que ele não chama a sua atenção? –mas o que ela queria? Será que todos tiraram o dia para ''shippar'' Louis e eu?

– Não. –menti. – E eu preciso ir.

– Vamos terminar essa conversa depois. –ela disse, mas eu resolvi ignorar. Dei apenas um beijo em sua bochecha e saí logo dali, antes que ela resolvesse querer me explicar de onde vêm os bebês.

[...]

Era estranho e desconfortável agir como se nada tivesse acontecido entre mim e Louis. Só que ao mesmo tempo era bom. Às vezes eu me sinto fraca por sempre colocar uma pedra em cima de certos assuntos e deixar as coisas inacabadas. Mas isso faz com que eu não me machuque tanto.

Já era uma manhã de sábado, e foi o primeiro em que eu acordei disposta a sair da minha cama. O som de Micaela soava alto, mas foi algo que, incrivelmente, não me incomodou. Pelo contrário. Eu até dancei enquanto tomava banho. Vesti uma roupa confortável (2) e resolvi comer alguma coisa.

– Já vai para o orfanato? –mamãe perguntou quando eu pisei na cozinha.

– Tive que me arrumar mais cedo porque o idiota do Louis vai comigo. –revirei os olhos. – E ele ainda quer que eu o acompanhe na visita a um novo imóvel que ele vai comprar.

– Não acha que esse seu chefe está muito folgado?

– Eu não ligo tanto que ele vá ao orfanato, mas pedir para acompanhá-lo a outro lugar é um saco. –peguei uma maça na fruteira.

– Então porque aceitou?

– Não sei. Talvez porque eu não queira ficar sem fazer nada durante a tarde.

– Essa desculpa é velha. Principalmente para sua mãe que tem cinquenta anos de idade.

– O que quer dizer? -perguntei dando uma mordida na maça.

– Você gosta do rapaz. –ela apoiou o rosto com a mão.

– Tenho respeito por ele. Apenas.

– Quer mesmo mentir pra sua mãe? –seu olhar alcançou o meu e eu desviei para a fruta em minhas mãos.

Eu não gosto de Louis. Nem como pessoa e nem como homem.

– Tem alguém buzinando. –mamãe me fez despertar de pensamentos.

– Deve ser Louis. –joguei a sobra da maça no lixo. – Nos vemos mais tarde.

– Se cuida. –nunca em minha vida aquela frase tinha soado tão preventiva.

Abri a porta recebendo um vento gélido nas pernas. Deveria ter vestido calças. O carro de Louis estava parado em frente a minha casa e eu me apressei um pouco para chegar até ele. Fechei o objeto de madeira atrás de mim e joguei os meus cabelos todos para os lados. Caminhei em passos rápidos até o veiculo.

– Bom dia. –falei puxando o cinto de segurança. Louis não respondeu nada, apenas passou a marcha no carro e deu partida. – 'Tá tudo bem?

– Estou ótimo. –disse sem me encarar.

Perfeito. Agora vou ter que aturar um Louis mau-humorado.



Quando chegamos ao orfanato, Louis saiu a minha frente. Não era legal ficar atrás dele. Simplesmente porque Louis usava uma regata (3) e a droga daqueles músculos ficavam de fora. Porque diabos ele tinha que usar aquela peça de roupa quando estava comigo. Durante o trajeto, nós sequer trocamos olhares e foi terrível. Eu gostaria de perguntar a ele sobre o tal imóvel, mas devido ao silêncio, achei melhor não perguntar nada. Ao passarmos pela recepção, a garota nos conheceu e deixou que entrássemos logo para ver Florence. Ela estava no mesmo quarto que da ultima vez e foi lindo quando ela sorriu para mim e Louis.

– Tia Lisy. –ela correu para os meus braços.

– Como vai meu amor? –beijei seu rosto.

– Bem. –os dentes pequenos apareceram quando ela sorriu. Seu olhar foi de mim para Louis. – Tio Lou. –ela ergueu os braços para ele.

– Oi pequena. –ele a segurou com cuidado. – O que quer fazer hoje?

– Brincar. –ela bateu as mãos uma na outra.

– Louis. Lisy. –Yane chegou nos cumprimentando. – Que bom ver vocês novamente. Vocês podem ir lá pra fora brincar com Florence, ela vai mostrar a vocês os brinquedos.

– Sem problemas. –falei.

– Então vamos. –Louis saiu carregando-a nos braços e Florence acenava para todos que passavam.

O que semana passada era uma área de pintura, estava transformada em um belo playground. Brinquedos de todos os tipos e uma musica de criança no fundo. Era só eu que tinha uma imagem diferente dos orfanatos? Sempre imaginei aquele local como um sem graça, triste e com crianças dormindo. Mas o que se encontrava ali era totalmente diferente. Era só ver Flore para comprovar. Louis a colocou no chão e ela correu em disparada para o escorregador.

– Primeiro esse. –ela gritou dando risada.

Ajudei ela subir e Louis ficou com a tarefa de recebê-la quando chegasse ao fim do escorrega. Ficou nisso por uns cinco minutos e depois ela mudou. Piscina de bolinhas. Era uma pena que eu não tinha mais tamanho, porque se não eu tinha entrado junto com ela.

– 'Tô com sede. –ela falou depois que saiu do meio das bolas coloridas.

– Fique aqui com o Tio Louis, que eu vou buscar água para você. –arrumei os fios bagunçados dela. – Eu já volto. –falei para Louis e ele assentiu.

Achar o refeitório não foi uma tarefa tão fácil quanto parece. Tive que dar algumas voltas até encontrá-lo. Várias mesas em tamanho mini estampavam o local e figuras de super heróis e princesas coloriam as paredes. Arranjei um copo com água para Florence e voltei para a área de brincadeiras.

Louis estava sentado em uma cadeira e Florence estava entre suas pernas, ela parecia entretida com as tatuagens em seu braço. Quando estava mais próximo dos dois, eu pude ouvir a conversa.

– Quero fazer uma, Tio Lou. –ela disse e Louis riu.

– Depois que completar dezoito anos, você pode fazer tranquila.

– Mas eu já tenho cinco. –ela mostrou os dedinhos.

– E falta isso... –Louis abaixou dois dos dedos dela e mostrou os seus dez da sua mão. – Para que você possa fazer uma.

– Isso é muito. –ela coçou a cabeça. Tive que rir daquela cena.

– Aqui a água, Flore. –dei o copo com cuidado para ela.

– Foi rápida. –Louis olhou para mim.

– Tive que pedir informações para achar o refeitório. –Florence me entregou o copo quando acabou de beber.

– Vou naquele ali. –ela apontou para o pula-pula a nossa frente.

– Estamos de olhos em você. –Louis apertou sua bochecha. Flore deu de cotas e adentrou o brinquedo também colorido. – Como alguém conseguiu abandona-la?

– 'Ta aí uma pergunta que não tem resposta. –cruzei os braços.




Eu sempre odiei despedidas. Mesmo sabendo que iria vê-la na semana que vem, me batia uma tristeza chata. Seus braçinhos soltaram o meu pescoço e foram para o de Louis.

– Vou ficar esperando vocês. –ela disse como se ordenasse. Porque eu não a podia levar para casa?

– A semana vai passar depressa e logo vamos nos ver de novo. –dei um beijo carinhoso em sua testa.

– Lisy tem razão. E eu vou trazer um presente para você.

– O que? –fez cara de curiosa.

– Vai ser uma surpresa. –ele piscou.

– Vou esperar isso também. –Flore sorriu.

– Muito obrigada por terem vindo. –Yane agradeceu.

– Não tem o que agradecer. Nós adoramos Florence. –joguei o meu cabelo para trás.

– E ela já adora vocês também. Bem, então até a próxima semana. Dê tchau Flore.

– Tchau Lisy. Tchau Louis. –ela acenou e nós retribuímos.

– Isso acaba com o emocional de qualquer um. –Louis falou quando viramos para a saída.

– Nem me fale.

[...]

O imóvel que Louis falava ficava em um local bem afastado da cidade, e o tempo de viagem não era um dos menores. Fiquei até com sono de tanto olhar para mato e estrada. Não sabia que existia aquilo em Nova Yorque. Talvez eu devesse andar mais pelo lugar que eu vivo.

– Vai descer ou vai ficar aqui dentro? -Louis disse puxando o freio de mão.

– Vou com você. –desci do carro encontrando nada mais do que um restaurante pacato e algumas poucas casas próximas a ele. – Como foi que você descobriu esse lugar?

– Um amigo me indicou. –deu de ombros.

– Louis. –um homem gritou ao vê-lo. Alto, cabelos grisalhos, pele branca e bem vestido; assim era ele.

– Joel. –Louis o cumprimentou com um aperto de mão. – Vou pedir que seja rápido, sim?

– Oh claro. –ele afrouxou o nó da gravata.

Joel nos levou até o imóvel ainda em construção, mas já bem visto.

– Nosso galpão tem 360m² , mas se o senhor se interessar nós iremos aumentá-lo antes de fechar negocio.

– Eu só gostaria de trazer uma filial para cá, acho que o tamanho está bom. –Louis olhou para todos os lados.

Juro que não entendia o porquê de Louis precisar de mim para aquilo. Ele era esperto, observador e eu não sabia nada do que eles estavam falando. Fiquei torcendo para que aquilo acabasse logo e eu pudesse ir para casa.

– Eu gostei, mas para termos um trato, preciso falar com o meu advogado antes. Quero que ele faça a papelada para mim. –Louis explicou jogando a chave do carro para cima e a pegando logo em seguida. Certeza que aquele era mesmo meu chefe?

Não só nas ações, mas também fisicamente.

– Como você preferir Senhor Louis. Estamos a sua disposição.

– Obrigado Joel, vejo você ainda essa semana. –Louis saiu me empurrando. – Vamos embora.

– Glorias. –agradeci olhando para o céu.

Tudo que o vi foram nuvens escuras e um barulho conhecido como trovão.

– Só espero que não chova. –foi só eu terminar de falar para uma gota d'água cair em minha mão. – Pra que eu fui abrir a minha boca?

– Entra logo no carro. –Louis gritou comigo.

– Estou indo. –corri para dentro do veiculo.



Menos na metade do caminho a chuva caía forte, eram seis horas, mas devido o céu escuro, a sensação era de onze ou mais. O sinal do rádio havia caído e foi ai que eu me assustei. Nunca gostei de dias chuvosos e tempestuosos, porque era assim que o tempo estava quando eu recebi a triste noticia da morte de papai. Pode parecer besteira, mas eu tenho trauma.

– Nós vamos ter que parar. –Louis falou olhando para o painel do carro.

– O que? Parar aqui? Ficou louco?

– Tem um hotel a beira de estrada um pouco mais frente. Nós paramos lá e assim que a chuva passar, voltamos para casa. –me explicou.

– Ok. –concordei um pouco hesitante.

Ele dirigiu por mais alguns minutos até chegar ao tal hotel. As luzinhas piscavam devido a chuva forte, ao lado havia um posto de gasolina fechado e vários outros carros estacionados em frente.

– Parece que não é só a gente que quer um abrigo. –Louis travou o carro quando nós dois já estávamos fora. Corremos para entrada e assim que abrimos a porta um sino soou.

– Boa noite. –um senhor de meia idade falou.

– Boa noite. –falamos juntos.

– Por acaso estão à procura de um quarto? –assentimos.

– Dois, na verdade. –Louis falou batendo os pés no tapete.

– Sorte de vocês que nós ainda temos três disponíveis.

Eu não me incomodava de ficar em um quarto sozinha. Isso é, quando não está em dias como esses. O medo que eu tinha de chuva era como aquele medo que as crianças pequenas sentem em relação à história do bicho papão. Era idiota sentir isso, mas eu não consigo controlar.

Meu quarto ficou de frente para o de Louis e eu quase entrei em pânico quando o vi fechar a porta lentamente.

– Você consegue Lisy, é apenas uma noite ou menos do que isso. –falei pra mim mesma.

Aproveitei para tirar as botas e lavar as mãos no banheiro. Tudo sempre tem que dar errado. O combinado era apenas ir com Louis até o imóvel e não passar a noite em um hotel capenga. O pior vai ser explicar tudo isso para minha mãe. Se ela já tinha desconfianças comigo e Louis, imagina quando ela souber que passei a noite fora e nem dei noticias.

– Droga, meu celular. –olhei pela janela e vi o carro de Louis. Minha bolsa tinha ficado lá dentro e o telefone também. – Ótimo.

Relâmpagos clarearam o céu e eu recuei alguns passos para trás. Respirei com dificuldade já me sentindo sufocada. Minha única opção era ir até o quarto de Louis, mas cadê a coragem para fazer isso? E se eu pedisse e ele batesse a porta na minha cara? Eu ficaria morta de vergonha. Deixei os pensamentos negativos para trás quando mais um relâmpago iluminou o quarto e fazendo um barulho estrondo.

– Merda. –abri a porta do meu quarto e a fechei sem trancar. Sem pensar duas vezes, eu bati na de Louis duas vezes.

– Quem é? –perguntou lá de dentro.

– Lisy.

– O que você quer?

– Saber se posso ficar aí com... –no meio da minha fala, ele abriu a porta e esqueci totalmente o que tinha para falar. Louis estava coberto apenas com uma toalha branca envolta da cintura, seus cabelos molhados deviam ter sido jogados para trás com a ajuda dos dedos. – Você.

– Se iria ficar comigo, porque me fez pagar dois quartos? –ele se escorou na porta.

– Esquece. –falei dando meia volta.

– Não falei que para voltar ao seu quarto. –ele me segurou pelo pulso. Louis me puxou para dentro do quarto e fechou a porta. – Problemas com a chuva?

– Na verdade são os relâmpagos. –sentei na ponta da cama sem deixar que os meus pés tocassem o chão. – Eles me assustam.

– Você é a primeira pessoa que ouço dizendo isso. –fiz de tudo para não encará-lo. – Se importa de olhar para o outro lado? Eu preciso vestir a minha roupa. A não ser que você queria me ver pelado.

– N-não. –cobri os meus olhos com as mãos e olhei para o lado oposto dele.

Dizer que a tentação de olhar não era grande, seria mentira.

– Aqui. –senti um pano cair sobre as minhas pernas. – Pode olhar, eu já me vesti.

– Pra que isso? –me referi a sua camisa jogada no meu colo.

– Para você vestir. –disse obvio. – Ou vai dormir de jeans?

Saber que ele estava sem camisa bem na minha frente me causava um sério problema com falta de ar.

– Anda logo com isso. Eu estou com sono. –ele se virou para que pudesse tirar a minha roupa.

Livrei-me do short e da blusa e vesti sua regata. Por sorte era ficou um pouco longa em mim e nada mias do que devia ficou de fora.

– Pronto. –falei em um sussurro.

Louis se virou e me encarou dos pés a cabeça. O que me gerou uma vergonha imensa. Ele passou por mim e se jogou na cama.

– Vai ficar ai em pé? -sua voz me trouxe de volta a realidade.

Eu iria dormir na mesma cama que Louis Tomlinson? Era isso mesmo?

Continua...



my sexy boss || louis tomlinsonWhere stories live. Discover now