11.1 | ou ❝companhia alcoólica❞

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— Estou farta. Já faz uma semana!

Lorena estava no meu quarto. Aquele barulho de salto agulha no chão de madeira e o perfume doce não deixavam dúvidas.

Devia ser quarta, ou quinta, eu já havia perdido a conta dos dias. Lola abriu as cortinas de supetão, permitindo que a luz do sol invadisse o meu quarto. E eu a odiei por isso.

Resmunguei em resposta àquela agressão às minhas retinas.

A carta de Nicholas me destruiu.

Eu não queria comer. Não dormia à noite. Estava havia semana dentro do meu quarto, trancada. E a única pessoa com quem conversava era Zaca.

"Tudo bem com você?" "Não." "Vai passar."

Lucas e Lorena me ligaram sem parar nos últimos dias. Ele, porque devia achar que o motivo da minha crise era sua mentira. Ela, porque devia achar que eu tinha morrido depois daquela festa, e que a última pessoa a me ver com vida era Natan Avelar.

A carta tinha colocado tudo em perspectiva. Eu não me importava com nenhum deles, não mais.

Eu não estava bem. E eu nunca estaria, depois do incêndio.

— Já chega. — rosnou Lorena — Então, ele te mandou uma porcaria de uma carta. E daí? O bonitinho já está no passado, querida. Já foi.

— Não me lembro de ter dito nada sobre uma carta.

— Zaca me disse que seu ex-namorado terminou com você através de uma carta estúpida e que você está vivendo como um zumbi desde então.

Zaca não tinha exatamente mentido. Só tinha omitido que a carta não tinha sido enviada para mim. Meu pai a encontrou no meu antigo quarto.

— Quem termina com as pessoas por cartas? — falou ela, caminhando barulhentamente de um lado para o outro — Esquece esse garoto. Você virou uma lenda na vida social de Vitorinha. Primeiro você aparece na festa mais legal do ano, bebe feito louca, e depois desaparece misteriosamente com Natan Avelar. Não atende minhas ligações, e nem na escola você tem aparecido, diz o meu namorado. Precisamos planejar o seu retorno triunfal.

Fiz uma careta para o fato de que Lucas tinha falado com Lorena sobre mim.

— As pessoas literalmente acham que você morreu, ou que Natan te sequestrou. — ela conseguiu, dando risadinhas — O que me faz pensar que talvez seja por isso que você se sinta tão culpada pelo que quer que seja, enfim. A questão é: você e o bonitinho já tinham terminado.

— Não tínhamos. — falei sem força.

E não tínhamos mesmo.

Eu só... fui embora.

— Me dá essa carta aqui.

— Não mesmo! — exclamei, mas ela já revirava todas as superfícies do meu quarto, até encontrar a maldita carta no topo da minha cômoda.

— "A Valéria Corrêa, meu primeiro amor." — enunciou ela teatralmente, limpando a garganta. Eu apertei os olhos antes que ela continuasse.

Essa ia doer.

"Esses dias eu acordei e dormi pensando no que estaria tão errado.

Desculpa-me por te incomodar com essas palavras tão... sinceras. Eu nem sei se você vai ler isso. Não, eu sei que não vai, porque você não está mais aqui.

Só queria te dizer que eu estou, finalmente, conseguindo voltar a ser feliz. Mas eu sinto sua falta. Nunca senti tanta falta de alguém assim antes. E o engraçado é que você me prometeu que eu nunca teria de me preocupar em sentir a sua falta, porque você sempre estaria aqui. São duas e meia da manhã, e eu me sinto... miserável. Eu me sinto o filho da mãe mais infeliz de toda essa Terra. Minha garganta está trancada, e eu nem posso gritar para aliviar a dor. O melhor do silêncio, é que ele nos dá mais respostas do que as palavras; e o meu torpor mudo me fez chegar a uma conclusão importante.

Onde Há FumaçaWhere stories live. Discover now