37.2 | ou ❝adeus, vitória!❞

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— Achei que estivéssemos combinados. – reclamei, quando saí pela porta e me deparei com Lucas recostado na Britney, de bermuda clara e camiseta azul-marinho, com óculos quadrados escondendo aqueles olhos (o que acabava sendo a melhor coisa, porque eu simplesmente não tinha forças para lidar com aquela íris em um momento como aquele) – Sem despedidas.

— E você realmente achou que eu te aceitaria aquela despedida impessoal, no terraço do lugar que possivelmente é o que você mais odeia no mundo? – devolveu ele, sorrindo demais para quem estava se despedindo. Eu fiquei paralisada por aquele sorriso por um milésimo de segundo, absorvendo cada peculiaridade dele. Tatuando na memória.

— De jeito nenhum. – sem qualquer controle sobre mim mesma, apressei o passo e me joguei nos braços dele para o nosso abraço: meus braços pelo seu pescoço, e os seus pela minha cintura.

Assim que nos separamos, Lucas me estendeu um embrulho. Eu revirei os olhos, e ele deu de ombros. Ele sabia que eu odiava presentes, e odiava com mais intensidade ainda quando as pessoas faziam grandes espetáculos de despedidas, que não sabiam ser outra coisa que não dolorosas.

Contudo, rasguei o papel de presente e me deparei com uma pequena caixinha, que continha um cordão prateado com um pingente.

Uma minúscula câmera fotográfica.

— Para você se lembrar.

Eu achei que ia morrer.

— Você não precisava me dar isto. – forcei-me a falar, à guisa de agradecimento, pensei comigo mesma, "não preciso de nada para me lembrar de você".

— "Obrigada, Lucas, é lindo." – ironizou ele.

— Obrigada, Lucas, é lindo. – repeti, amassando o papel de embrulho e atirando contra o tórax daquele imbecil.

Por algum tempo, apenas gargalhamos enquanto eu arrumava formas de socar cada superfície de Lucas Avelar, e ele tentava imobilizar, inutilmente, meus punhos. E por algum tempo, aquilo não era uma despedida.

Éramos só nós sendo nós.

Fomos despertos de nossa pequena fantasia quando o carro de Alan Jordan virou à esquina. De repente, não havia mais risadas nem brincadeiras. E a realidade que eu tanto me esforçei para evitar estava à minha porta.

Decidi não entrar para me despedir de Zacarias – e sim, a minha preocupação era com Zaca, pois eu não fazia a menor questão de me despedir dos demais moradores daquela casa.

Mas com Zaca era diferente.

Ele tinha sido a minha família por todo tempo que eu estive ali, e isso eu não poderia fazer. Rapidamente, passei pela porta e peguei minha mala, me esforçando ao máximo para não fazer barulho algum. Tive sucesso. Dei passos silenciosos até a porta de casa.

— Tente não ser presa. – advertiu ele, e eu não soube dizer se aquilo era uma piada ou não.

— Farei o melhor que puder.

— Se precisar de alguma coisa...

— Eu sei, Lucas.

Alan baixou o vidro da janela e acenou com a cabeça, dizendo que era hora de ir. Agradeci internamente por ele não ter buzinado ou feito qualquer barulho que chamasse a atenção para o fato de que eu estava partindo. Lucas engoliu em seco.

— Eu acho que estamos destinados a ser amor de verão um do outro. – desabafou ele – Nunca vamos ser mais que isso.

— Nós somos muito mais do que isso, Lucas Avelar.



Enquanto Alan e eu subíamos de carro a Terceira Ponte, olhei para trás. Observei aquela já tão pequena Ilha diminuir no horizonte entrecortado por cadeias montanhosas e aquele céu tricolor capixaba. Meu primeiro e meu último pensamento naquela cidade foram que eu nunca mais me sentiria em casa, em lugar nenhum.

Só que aquele não era um "adeus".

Era um "até logo", tão logo quanto fosse possível. 

Onde Há FumaçaOnde histórias criam vida. Descubra agora