Prólogo

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Meu quarto estava até claro aquela noite, era uma terça-feira eu acho. Não tinha como saber o dia e as horas naquele lugar. Eu me situava através dos riscos que tinha feito na parede com um pedaço de gesso que despencou do teto velho.

A luz da lua entrava pela pequena janela quadriculada e batia no chão ao lado da minha cama , e sentado no chão , eu olhava aquele quadrado azulado imaginando como estariam as pessoas que conheci , depois da minha saída triunfal.

"Dorme filhinho sem emoção

Mamãe está segurando um facão..."

Veio à minha mente a canção de ninar que minha mãe costumava a cantar para mim. Ela soava como batidas de martelo na minha cabeça e aumentava conforme eu me desesperava pedindo para que ela parasse. "Dorme filhinho... Dorme filhinho... Fraco! Fraco!" , a canção se misturava com vozes. Vozes que sussurravam no meu ouvido dizendo que não era capaz, que eu era o fraco. O que seria fraqueza para eles? Não sei, poderia tentar descobrir ao longo do tempo. Ou talvez tentar descobrir depois que saísse daquele lugar . Onde as agulhas não têm pena de perfurar a minha pele ,em busca de alguma veia de sangue pulsante.

— Não! Parem! Parem.... Eu não sou fraco, eu... Eu sou mais do que vocês! Medíocres! Medíocres! – gritei para o vazio, apontando ferozmente para frente como se uma multidão me cercasse.

Em um instante a porta se abriu atrás de mim, e pessoas vestidas de branco entraram me segurando pelo braço. Eu me debati angustiado, sabia o que elas iriam fazer, era sempre assim. "Os doutores da normalidade" , que se julgavam capaz de "curar" alguém que a sociedade dizia insana, me colocaram na cama e um deles segurou meus pés para que eu não fizesse nenhum movimento ameaçador. Os outros me amarraram pelo braço me olhando sem nenhuma expressão facial como se eu fosse apenas um animal descontrolado , precisando de calmante.

— Calma... Isso tudo não passa de criações de sua cabeça. Procure relaxar. – falou a doutora tirando uma seringa do bolso do jaleco branco e encaixando na mesma uma agulha. Ela tocou em meu braço procurando uma veia visível e a perfurou.

Logo senti o líquido da seringa percorrer o meu corpo, fazendo tudo parar momentaneamente. Paralisando-me.

— Vocês não sabem o que eu passei... – foi a última coisa que eu consegui falar antes de meus olhos pesarem e eu cair em um sono forçado.



Diário de um psicoloucoWhere stories live. Discover now