Capítulo 9

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Cheguei no trailer pensando no que havia visto, minhas conclusões sobre eles demorarem a achar o culpado estava começando a mudar. Entrei e olhei em volta não vendo meu pai. Na certa estava no bar da rua ao lado se embriagando para voltar alterado para casa.

Tirei o meu bloco de anotações do bolso vendo que ele era o primeiro da lista, a "prioridade" . Ergui a cabeça vendo a caixa de fósforos sobre a prateleira da cozinha e a peguei, no mesmo momento as lembranças dele gritando comigo, me espancando, veio na minha cabeça como se eu visse as cenas à minha frente. Coloquei a caixa no bolso e sai novamente do trailer em direção ao bar.

Iria começar a cumprir a lista, mesmo que eu não tivesse colocado as "características" de Pedro e Matthew . Eu precisava eliminar o meu pai da lista para seguir com os outros,as vozes da minha cabeça voltavam e eu precisava eliminar uma delas.

Não levei álcool, lá já havia. Eu apenas precisava riscar o fósforo, e tudo que ele tinha feito comigo iria sumir da minha cabeça, era o que eu pensava. Um dia de neve com chamas e cinzas, as cinzas de quem me maltratava.

Parei à porta do bar e o olhei com desdém, estaria fazendo um bem para a sociedade removendo aquele lugar dali. Entrei no local e logo vi meu pai sentado ao balcão segurando um copo de uísque barato. Caminhei até ele me sentando em um dos bancos.

___ Olá , pai ... – falei a palavra "pai" com certo desdém.

___ Garoto, o que faz aqui?

___ Não posso apenas vir ver o meu "querido pai" ?

___ Menino, aqui não é permitido menores! – interrompeu o atendente secando um dos copos de vidro com um pano.

___ Eu sei, mas já estou de saída. Só quero ... – pulei o balcão para o lado dele o olhando – Dar um recado para vocês antes de ir.

Minha cabeça estava a mil , tudo girava aumentando minha adrenalina se misturando com raiva e revolta. Meu pai levantou-se me encarando como se fosse jogar o copo que segurava em mim.

____ Volte para casa agora , Gabriel ! E me espere lá.

Ignorei-o e comecei a falar.

____ Por muitos anos esse lugar acabou com a vida das pessoas, as deixando alteradas. – apontei para o meu pai – E as fazendo cometer certas ... "Imprudências" . Não é mesmo , pai ? Então... Só quero dizer que de hoje em diante ... - falei pegando uma das garrafas de bebida da prateleira. Estava distraído demais para perceber que enquanto eu falara o balconista estava falando ao telefone com um olhar assustado. – Isso não vai mais acontecer.

Quebrei a garrafa no balcão e tirei a caixa de fósforos do bolso no casaco e acendi um jogando a chama em cima do álcool.

___ Adeus papai ... – ironizei e pulei o balcão saindo rapidamente do local atravessando.

Fiquei ali parado, olhando o local queimar . Vi as pessoas agonizarem , vi quando o fogo encontrou o resto das bebidas alcoólicas causando uma pequena explosão.

Meus olhos piscavam a cada estalada de madeira , as cinzas do local queimado se misturavam aos flocos de neve que caíam em meu rosto. Meus olhos ardiam com a fumaça, mas essa foi a melhor sensação que eu tinha sentido , como se meu peso sobre meu pai descarregasse ali , estivesse tudo ali sendo queimado pelas chamas, sendo levado com o vento.

Comecei a rir , rir de angústia , rir porque minha cabeça girava , rir porque minha adrenalina subia, rir porque as vozes que ao invés de sumir giravam mais em minha mente como um carrossel de parque.

***

Carros chegaram ao local , um da polícia e outro do manicômio.

Eu ainda estava ali, ajoelhado na calçada com as mãos entre os cabelos rindo descompassadamente. Minha respiração estava ofegante , e eu estava perdendo as forças . Os doutores se aproximaram de mim e me seguraram pelo braço me arrastando para o carro.

___ Vocês não sabem o que eu passei ! Eles mereceram... Vocês não sabem o que eu passei ! Vocês não sabem o que eu ... – antes que eu completasse a fala senti uma agulha fina e afiada entrar em meu braço , logo expelindo um líquido que se espalhava por meu sangue.

Senti-me fraco , minhas forças se perdiam e eu caia nos braços dos médicos , meus sentidos sumiram e minha visão se perdeu.

Diário de um psicoloucoΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα