Capítulo 17 - Final

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O dia amanheceu com o sol batendo em meus olhos, ouvi o barulho de uma porta se abrindo no andar de baixo. Eloísie sentou-se na cama ao meu lado respirando fundo e me olhou.

___ Meu pai chegou. - falou ela me olhando , levantou-se colocando um casaco por cima do vestido que usava, e se retirou.

Levantei-me e saí logo atrás dela parando no corredor , olhando o andar de baixo. Um senhor de cabelos totalmente brancos e óculos de grau ergueu a cabeça me olhando e revirou os olhos.

___ Quem é esse rapaz? Eu acabo de sair do hospital e tem um homem dentro de casa?

___ Se acalme , pai. Esse é Gabriel , ele não está bem, portanto ficará aqui conosco.

Desci as escadas e caminhei até eles, tentava olhar para aquele senhor sem imaginar o que eu vi anos atrás. Não deveria ter "espionado" a casa dela naquela época , mas agora aquela imagem já estava gravada.

___ Contanto que ele não me importune, ele pode ficar aqui ... - ele me olhou de baixo a cima e saiu em direção à cozinha.

____ Não se preocupe com meu pai... - falou Eloísie me olhando - ele tem esse mau humor natural. - ela tentou amenizar a situação visivelmente pesada entre todos.

***

Sentei-me em uma cadeira perto do balcão da cozinha. O pai de Eloísie tinha insistido em cozinhar aquela manhã, apesar de não ter costume , pelo o que ela me disse.

Ele ligou o gás de um crivo e pegou o fósforo para acender , quando foram ouvidas duas batidas na porta.

___ Devem ser esses malditos fiscais, querendo saber se ainda tenho materiais de necropsia aqui em casa... Vão embora! - esbravejou ele.

As batidas continuaram agora acompanhadas de gritos.

___ Abram a porta! É a polícia!

Levantei-me subitamente encarando a porta, e em um solavanco ela se abriu. Parados estavam dois policiais e Pedro . Deveria ter ido atrás dele, agora ele estava ali com um olhar de puro ódio direcionado a mim.

___ Desgraçado! - gritou ele caminhando até mim e me segurando pelo colarinho do casaco. - Acha que vai sair impune das barbaridades que fez? Você matou a todos, e agora esta aqui se escondendo como um cachorrinho com rabo entre as pernas.

___ Hey ! Qual é o seu direito de entrar na minha casa desta forma? Você tem um mandato? - interrompeu Eloísie parando ao lado dele.

___ Eu não preciso de nenhum mandato! Esses policiais são amigos do meu amigo.. O amigo que você , matou e que está com o crânio rachado naquele bosque! - ele me jogou contra o balcão e voltou-se para Eloísie. - E você mocinha, fique quieta! Você também , velhote! - ele apontou o para o pai dela rindo.

Levantei-me e avancei na direção dele, mas os dois policiais me seguraram pelos braços. O ódio crescia dentro de mim, quem diria que Pedro , o mais "quietinho" do grupo era o que mostraria a sua " verdadeira face" no final.

Ele caminhou até mim e fechou o punho dando um soco na minha cara.

___ Esse é por Matthew ... - ele tirou um anel de quatro dedos pontudo e o colocou , logo deferindo outro soco. - Esse é por Jason ...

Eloisie gritou correndo na direção dele e ele a empurrou a fazendo cair contra a mesa batendo a cabeça na madeira.

___ Eloísie! - gritei e relutei para me soltar , sem sucesso. - Deixe-a em paz! Seu assunto é comigo, não é?

___ Eu não vou fazer nada com ela , pode ficar tranquilo ... - ele arrumou o anel ensanguentado nos dedos. Meu rosto sangrava, aquele anel de ferro havia perfurado minha bochecha , olhava para Pedro sério sem demonstrar a dor que sentia, parecia frio por fora , mas dentro de mim a raiva por ele remoia.

___ Tranquilo? Devia ter te matado como os outros ! - esbravejei e me rebati novamente, já estava ofegante.

Ele tirou uma pequena faca do bolso e a girou nos dedos , sorrindo maliciosamente.

___ Você gosta de facas , não é? Gosta de matar porcos? - ele a cravou na lateral da minha barriga e a tirou limpando o sangue na barra da blusa. Guardou a faca e tirou um cigarro do bolso. Lembrei-me de meu pai, que sempre que me batia , saia para fumar , como se fosse aliviar a mente do ato terrível que tinha feito.

Um dos policiais tirou um isqueiro do jaleco e entregou a ele , que agradeceu e o riscou.

No mesmo momento , um clarão tomou o local e senti o meu corpo ser lançado para longe batendo contra uma parede. O pai de Eloísie tinha deixado o gás ligado para fazer o café da manhã e não o tinha desligado, aí estava o problema, a confusão aconteceu e o fogo foi aceso muitos minutos depois.

Entreabri os olhos no meio de toda aquela fumaça e chamas que queimavam os cômodos restantes da casa , levantei-me com dificuldade tentando respirar no meio de toda aquela fumaça. Os corpos queimados dos dois policiais estavam logo ao meu lado, mas onde estava Eloísie?

Meu coração disparou, ela não podia estar morta, isso seria uma dor muito grande para mim. Ouvia os estalos do teto da casa , prestes a desabar quando ouvi sua tosse. Olhei ao redor a vendo sentada em baixo dos restos da mesa que havia caído.

___ Eloísie! - caminhei até ela com dificuldade e passei seu braço direito no meu ombro. - Você tem que sair daqui ... - a guiei até a porta a ajudando sair quando ouvi um estalo maior e sentir uma viga de madeira cair sobre minhas costas.

___ Gabriel ! - ela gritou e deu dois passos para voltar e eu a barrei com a mão. - Você vai morrer... Por favor...

__ Elo.... Eloísie, deixe-me aqui... - falava com grande esforço - Eu não tenho mais o que viver, apenas saiba, que você foi a única pessoa que eu realmente amei. Com você, eu soube o que é o amor. - uma lágrima escorreu de meus olhos , não sentia mais minha coluna e a fumaça invadia meus pulmões até não restar mais um sopro de vida.

Diário de um psicoloucoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora