ÁLCOOL

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Quinta-feira, dia 5 de Novembro, 19:58, casa do Pedro.

Thomas:

- Quem foi o engraçadinho que mudou a minha foto do perfil do Facebook por uma do Nicolas Cage? - Pedro perguntou, descendo as escadas com o celular em mãos.

- Ninguém - Marcelo respondeu, olhando para todos os lados menos para Pedro. Eu e Diego fizemos aquele som de quem está segurando a risada e as meninas se entreolharam, também tentando não rir.

"As meninas" das quais eu me refiro eram Marjorie, Laís, Giovanna e Rafaela, mais conhecidas como Mar, Gio, Lalá e Rafa. E sim, elas estavam na casa de Pedro. E sim, elas estavam bebendo com a gente. E sim, o Marcelo queria pegar a Rafaela. E sim, Pedro e Diego também estavam caçando as suas presas. E sim, eu ainda estava pensando no quase-beijo com Marjorie de mais cedo.

Agora me diga você: quando, em mil anos, eu estaria vivenciando uma cena daquelas? Quatro garotas que sempre nos foram indiferentes, alvos de nossas piadinhas maldosas, nerds de carteirinha e o completo oposto do nosso habitual grupo de convívio... Na sala de estar do Pedro? Com os pés em cima da mesa de centro, tomando cerveja e jogando vídeo-game com a gente?

O mundo realmente era uma caixinha de surpresas...

Mas, para dizer a verdade, eu tinha que admitir que elas eram bastante divertidas. Talvez até mais do que as outras garotas que frequentavam as nossas casas, que só queriam falar sobre roupas e fofocar sobre as "amigas". Quero dizer, nós pelo menos podíamos conversar com Marjorie e CIA.

E arrotar alto também.

- Muito engraçado, pelo menos não foi a foto de um saco como na última vez - Pedro reclamou, sentando-se ao lado de Laís.

Marjorie estava sentada ao meu lado, na quarta cerveja, com um cigarro na mão e viajando na música. Rafaela estava ao seu lado, conversando sem parar com Marcelo. Diego e Giovanna brincavam de "ninja", um jogo estúpido de estapear as próprias mãos e Pedro descobria todas as atrocidades que havíamos feito em seu Facebook, fazendo Laís rir até perder o fôlego. Estávamos sentados em roda, ouvindo a playlist escolhida pelas meninas, que não era nada mal.

Eu olhei para o lado, discretamente, e relembrei-me dos acontecimentos daquele dia. Eu bêbado, eu beijando Marjorie, o nosso momento compras, o meu momento fama, o convite precipitado e a casa de Pedro.

Claro que, antes de chamá-la para o rolê, fomos até a sua. Eu fui do shopping até lá monologando sobre como seria legal quando as pessoas me reconhecessem na rua como as garotinhas fizeram mais cedo, e ela só ouvia a minha narração, rindo de vez em quando, um pouco distante, talvez até com um pouco de constrangimento pelo quase-beijo de mais cedo.

Ao chegarmos à sua casa, eu entrei para fazer uma média com a madrasta dela, que estava brincando com massinha - é, isso mesmo, massinha de criancinha - no chão da sala. Quando já estávamos no pé da escada, prestes a nos despedir, eu acabei convidando Marjorie para comer uma pizza comigo e com os caras, sem nem ao menos pensar direito naquela proposta. Eu só gostaria de passar mais algum tempo com ela... Não sei, algo na sua companhia me deixava mais animado.

O mais incrível de tudo foi que, quando eu pensei que ela iria recusar e subir as escadas correndo, ela só sorriu e aceitou. E ainda me pediu para ajudá-la com a roupa, dizendo que era a sua primeira prova de figurino.

Subimos as escadas e eu de repente fiquei tímido. Não sei se porque estava me lembrando do papel de idiota que havia feito mais cedo ou se estava com medo/vontade de que aquele pseudo-beijo evoluísse para um beijo de verdade.

No final, eu só fiquei sentado na sua cama enquanto ela se trocava no banheiro – por que dessa vez não decidiu se trocar na minha frente de novo? -, saindo de lá com uma calça velha de moletom e uma das blusas que havíamos comprado mais cedo. Eu a fiz entrar no banheiro de novo por 5 vezes, e só aprovei o visual quando ela saiu de lá com uma calça skinny preta, uma regata verde musgo e coturnos pretos de couro.

NoieiWhere stories live. Discover now