A MENTIRA

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Domingo, dia 15 de Novembro, 17:15, hospital de Campinas.

Marjorie:

Sentei-me com as meninas na mesa onde os garotos mais "quentes" do colégio estavam. O mais estranho foi que eles sorriram pra mim, sinceros, como se estivessem realmente preocupados comigo.

Thomas Rosemberg não tirava os olhos de cima de mim. O que era bem esquisito, ainda mais depois de saber de toda a história; eu não conseguia processar a informação de que ele, bom, era apaixonado por mim.

Não mesmo.

- Oi, Marjorie - ele falou devagar, como se eu fosse retardada. Tudo bem que eu ainda estava meio lenta por causa dos remédios, mas não era para tanto. - Está melhor?

- Mais ou menos - respondi com aquela conhecida sensação de que ele viraria uma lata de Coca-Cola em cima de mim. - A minha cabeça ainda está dolorida.

- A minha perna também - ele sorriu.

As minhas amigas já estavam conversando com Marcelo, Pedro e Diego quando esse diálogo aconteceu. De acordo com a versão delas, Rafaela estava em um rolo enrolado com Marcelo, Diego e Laís haviam sido feitos um para o outro e Giovanna e Pedro estavam naquele estágio amizade-colorida.

É. O nosso mundo não era mais como costumava ser. E eu aparentemente havia perdido todas as lembranças dessa reviravolta.

Muito injusto, se quer saber a minha opinião.

Os olhos castanhos de Thomas cravados em mim me deixavam um pouco desconfortável. Ele estava calado, roendo as unhas, me olhando, me olhando, me olhando... eu não aguentei e virei o rosto, olhando bem nos olhos dele. Ficamos um bom tempo daquele jeito; nem se eu quisesse, conseguiria desviá-los.

Vou ter que admitir que a minha vontade de beijá-lo era imensa. Mesmo babaca, ele era incrivelmente lindo.

- Mar, querida, vamos? - a minha mãe gritou atrás de mim, fazendo-me virar a cabeça e perder o contato visual.

Desde quando ela era tão amável comigo?

Nós oito nos levantamos ao mesmo tempo. Marcelo, Pedro, Diego, Rafaela, Giovanna e Laís voltariam para São Paulo para começar a arrumar a escola para o nosso projeto - os meninos estavam sendo muito legais em nos ajudar com aquilo -, e Thomas ficaria comigo para podermos voltar no dia seguinte cedinho para a escola. Eu tinha que ficar mais uma noite em observação, por isso não podia ir com eles, o que era uma merda. Quero dizer, era muito esquisito ter que ficar uma noite inteira com um cara que, na minha cabeça, era um babaca que estava sempre de ressaca e que odiava meninas nerds como eu.

Mas ele insistiu tanto em ficar comigo que eu acabei cedendo...

Saímos do hospital e logo na porta nos despedimos dos que iam embora. Eles entraram no ônibus que ia até o terminal e nos deixaram ali, parados, meio desconfortáveis com a situação.

- Fiquem aí, meninos, eu vou pegar o carro - a minha mãe anunciou, desaparecendo pelo estacionamento.

Então eu estava sozinha. Com Rosemberg.

- É... - ele suspirou, olhando para cima. - Será que chove hoje?

O céu estava azul e sem nenhuma nuvem.

Que pergunta babaca era aquela?

- Provavelmente não - respondi, sem olhar para ele.

Estranho. O Thomas Rosemberg que eu conhecia era um bêbado desprezível, não um garoto meio tímido que perguntava sobre o tempo. Não que eu o conhecesse muito bem... os nossos contatos sempre envolviam alguma grosseria da sua parte, então a minha análise psicológica dele era baseada em poucos fatos. Mas os boatos que rondavam pela escola me davam uma ideia completamente diferente do que aquela imagem de garotinho indefeso que ele estava passando.

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