A VERDADE

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Segunda-feira, dia 16 de Novembro, 8:16, auditório do colégio Mackenzie.

Thomas:

- Nossa, ficou do caralho! - eu exclamei, realmente surpreso com a mudança do auditório. Ele costumava ser marrom e tedioso, mas, especialmente para o projeto cultural de Marjorie, ele estava parecendo uma balada. E uma daquelas bem caras! Que  são frequentadas por estrelas do rock e acompanhantes de luxo. - O que vocês fizeram com as cadeiras? Elas não são parafusadas no chão?

- Ah, isso foi o de menos. O mais difícil foi encontrar algum lugar pra escondê-las - Pedro deu de ombros. - A diretora ficou puta e disse que se as cadeiras não estiverem de volta aqui amanhã de manhã nós seremos expulsos.

- Mais uma segunda-feira como outra qualquer - Diego suspirou. - Acho que eu tenho uma coleção de cartinhas avisando sobre o meu novo estado de "observação permanente". Eu sou praticamente um Big Brother ambulante nesse colégio. Se eu peidar, a diretora vai saber.

- E do que se trata esse projeto cultural mesmo? - eu perguntei, curioso. - Até agora eu não sei o que eu vou fazer aqui. Isso não é uma orgia organizada, ou é? Porque eu esqueci a minha cueca da sorte.

- Cara, que nojo - Pedro comentou.

- Eu não diria orgia organizada, muito menos projeto cultural. Eu diria... festa de inauguração - Marcelo comentou. - A Rafaela estava me explicando direito ontem à noite. A Marjorie pensa nisso desde que entrou no colégio. Ela percebeu que aqui no Mackenzie eles não prezam muito a música em si, cantada, tocada ou dançada, e resolveu criar todo um complexo cultural, com aulas de dança, instrumentos e um coral. Hoje ela vai anunciar para o resto do colégio as novas aulas extracurriculares que poderemos fazer a partir do ano que vem. Além disso, aos sábados, o colégio será aberto para que a comunidade possa fazer essas aulas de graça.

- O que é uma bela de uma bosta, já que nós nos formamos esse ano. Quero dizer, seria muito foda ter aulas de canto ao invés de aulas de física - Pedro fez uma careta.

Eu olhei para Marjorie, que conversava com a diretora do outro lado do auditório. Ela ainda estava com o curativo na cabeça, o que a deixava com um ar de indefesa, totalmente diferente da vibe garota rock 'n roll que a sua roupa passava: regata rasgada preta, calça jeans skinny também preta e um par de tênis Vans slip on vermelho; o seu cabelo estava solto e ondulado, e ela estava linda. Absolutamente linda.

Todos os alunos do colégio Mackenzie haviam sido convidados - ou intimados - a comparecer, e alguns vencedores já entravam no salão, sonolentos e maravilhados com a mudança de cenário.

As luzes estavam baixas, as janelas cobertas por lycra preta e alguns globos estavam pendurados no teto. Uma aparelhagem de som estava meio escondida atrás do palco e eu tinha quase certeza que um cara que circulava de um lado para o outro de Ray Ban new wave era um DJ conhecido na região.

De longe, observei a diretora balançar a cabeça para Marjorie, entusiasmada, e depois lançar o seu olhar felino sobre mim. Atravessou o salão em minha direção, com um sorrisinho demoníaco no rosto.

- Rosemberg, já temos uma ocupação para você! - ela exclamou.

- Hã?

- Esqueceu-se do nosso acordo? Você vai ter que trabalhar hoje! - ela passou a língua pelo lábio inferior, fazendo-me estremecer. - Você vai ser o técnico do som.

Bom, pelo menos aquilo era algo que eu sabia fazer. E era bem melhor do que ficar do lado de fora usando uma roupa de cachorro-quente.

- Ah, beleza - eu dei de ombros. - Trato é trato.

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